segunda-feira, 30 de junho de 2025

Não confia no seu negócio

      Marcos Antonio Dantas de Oliveira[1]

É relevante notar e anotar que o baixo grau de ativismo e da prática social dos 'donos-cooperados' pelo não exercício da democracia direta, repercute negativamente nos debates, alianças e práticas cooperativistas. É ruim a prática cooperativista: pelo menosprezo ao estatuto; pela má influência da relação de compadrio entre governo, dirigentes e 'donos-cooperados'; pela apatia dos 'donos-cooperados' ao edital de convocação; pela não distribuição de sobras; e pela frágil cultura e clima organizacionais estão entre as causas que podem aniquilar a cooperativa econômica e socialmente.

Assim, é preciso avaliar: 1) a influência da relação de compadrio autoritária exercida pelo Estado (e governos) e cooperativas (e dirigentes e cooperados) agindo com sua mão de força, promovem a hierarquização de seus interesses, uma reprodução das práticas clientelistas vigentes; e, via de regra, garantem suas reeleições; 2) a apatia dos 'donos-cooperados' em relação ao projeto social, ideário e prática cooperativista é generalizada nas assembleias e no dia a dia; e 3) a distribuição de sobras está em desuso na maioria das cooperativas, em outras poucas, é rara e de pequena monta sua distribuição em relação a seu faturamento bruto. Em muitos casos, a cooperativa enriquece, mas, o ‘dono-cooperado’ empobrece. Seu negócio não o faz prosperar, ora vive em desconforto. A sobra é uma preferência temporal individual de poupança ou de consumo do ‘dono-cooperado’.

Assim, pode-se afirmar que as cooperativas sofre a má influência de uma intensa relação de compadrio, seus presidentes agem como chefe – usa a troca como meio de "controle ou influência tendo por base recursos materiais e recompensas na forma de remuneração pelo recebimento de algum tipo de contribuição" (Bernardes), em noutras agem como condutor – usa o poder como "controle ou influência sobre as ações dos outros no intuito de atingir as próprias metas, sem o consentimento destes outros, contra a vontade deles ou sem o seu conhecimento ou compreensão".

É inaceitável, uma assembleia geral, em 2ª ou 3ª convocação com no mínimo de 10 ou com qualquer número de ‘donos-cooperados’ para deliberar e votar qualquer pauta; sobretudo, porque a presença é  uma obrigação para que seu negócio prospere. Essas duas condições desobrigam até mesmo os dirigentes de votarem para alavancarem o ideário, o ativismo, a prática cooperativista, a ideia de negócio; e desconfia-se que a gestão não dará resultado econômico e social. Faz sentido, que o dirigente aja como líder aquele que faz o "controle ou influência sobre o comportamento de outros para a promoção de metas coletivas, com base em alguma forma verificável de consentimento destes outros em razão de estarem informados desta situação" (Bernardes).

Quão importante é que os 'donos-cooperados' alterem o estatuto social deliberando e aprovando em assembleia geral, só duas convocações: a 1ª (primeira) com 75% e a 2ª (segunda) com 50% mais 1 (um) dos 'donos-cooperados' aptos a votarem, estarão dando passos seguros para que seu negócio seja exitoso. É fato. É na assembleia geral que o 'dono-cooperado' comparece, exercita, planeja, decide, fiscaliza, promove e vive o projeto social necessário e oportuno. Bem como, o conhece, questione e envolve-se no seu negócio privado para o seu bem. Mas, uma mudança de atitude, enquanto consumidor repercute em suas preferências temporais, individual e coletiva, hoje e amanhã. E uma robusta distribuição de sobras, é um ótimo começo para prosperar com conforto.

Os empreendedores necessitam aprender, desaprender e reaprender as relações sociais e éticas. Nessas condições é a participação cognitiva, instrumental, política e social do 'dono-cooperado' que assegurará à prosperidade do seu negócio privado: recursos, processos e valores. Qual deve ser o nosso ramo? Quem é o nosso cliente? Quanta lucratividade precisamos? E essas cooperativas ao negociar bens e serviços, funcionais, convenientes, confiáveis no livre mercado pelo conceito do cliente para valor, alavancará o Estado de Direito, o Desenvolvimento Sustentável, o Bem viver.

 

 



[1] Mestre em Desenvolvimento Sustentável e professor da UNEAL

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