segunda-feira, 26 de fevereiro de 2018

Rumo ao estado da ARTE do Sindicalismo


Oliveira, Marcos Antonio Dantas de[1]

    Homens e mulheres, por viverem em meio a tantas incertezas e inseguranças, torna urgente a diminuição do fosso social, econômico, ecológico e patrimonial entre os que têm muito e os que têm pouco bem-estar. É vital, por conseguinte, nos ambientes institucionais e não institucionais o questionamento sobre quem controla os recursos naturais, os impostos e a máquina pública, bem como sobre quem exercita e compartilha a imaginação de futuros possíveis à construção de tendências e de cenários para soluções ao bem-estar.

  O enfrentamento dessas situações, assim, exige a consideração das liberdades fundamentais dos cidadãos para o cumprimento do contrato social posto ou por um novo contrato, ambos necessitam de ambiente institucional e não institucional em que floresçam e dispersem as instituições inclusivas políticas e econômicas. De acordo com Acemoglu (2012), “tais instituições políticas dificultam também a usurpação do poder e enfraquecimento dos fundamentos das instituições inclusivas por terceiros. Os detentores do poder político não têm como usá-lo facilmente para implementar instituições econômicas extrativistas em benefício próprio. Já as instituições econômicas inclusivas geram uma uma distribuição equitativa de recursos, facilitando a persistência de instituições políticas inclusivas.”

  Portanto, é necessário e oportuno que o ativismo, a prática sindical, o empreendedorismo social ganhem compreensão e musculatura para promover o estado da arte do bem viver fundamentados no desenvolvimento sustentável como o define Oliveira (2013) – “um processo em rede dialética compartilhada pelo indivíduo e suas categorias [conflitos e alianças] ao preservarem e ao usarem os recursos naturais e os tributos [planejamento, gestão, ideia de negócio] transforma-os em bens e serviços [proposta de valor]: do autoconsumo ao mercado, da renda ao bem-estar pelo usufruto dos bens primários: individualidade, liberdade, posse, confiança e felicidade, intra e intergeracional”; nos critérios de sustentabilidade propostos por Sachs (2002) – social, econômica, ecológica, ambiental, cultural, territorial e política; nos princípios de sustentabilidade propostos por Capra (2006) – redes e sistemas aninhados (rede dentro de redes), interdependência, diversidade, ciclos, fluxos, desenvolvimento, equilíbrio dinâmico; e no movimento social de sindicatos de trabalhadores objetivando a defesa, a reivindicação e a proteção dos seus interesses e da sociedade; e como doutrina política, onde o comportamento de seus membros dispersos nas gerações: baby boomers, X, Y e Z, devem ter um papel ativo de liderança no planejamento e na gestão do negócio sindical: defesa, reivindicação e proteção dos interesses dos sindicalizados.

    As entidades sindicais são instituições extrativistas que geralmente se inviabilizam porque não compartilham à formação educativa estatutária (direitos e deveres); pelo não uso da capilaridade horizontal (número de sindicalizados) e da capilaridade vertical (número de entidades: singular, federada e confederada); pela ausência de planejamento e gestão estratégicos e de um plano de comunicação integrada de marketing; pela baixa comunicação intra e intersindical na rede; pela baixa credibilidade institucional; pela onipresente ética de compadrio; e financeiramente, pela alta inadimplência e pelo baixo número de sindicalizados e de entidades singulares, federadas e confederadas; bem como pela falta de líderes que pensem e que inculquem a visão, a missão, os valores e a proposta de valor naqueles que agem para o êxito da cultura organizacional do negócio sindical têm dificultado a filiação, o ativismo, a prática e a inclusão social, dia a dia.

    Esse fato é agravado pela gestão ineficiente de dirigentes que atuam como chefes ou como condutores onipresentes ecoando e reproduzindo seus atos em todas as instâncias de gestão (e deliberações); os dirigentes-condutores seguem a risca o quê Bernardes citando Buckley (2009), conceitua como poder: o “controle ou influência sobre as ações dos outros no intuito de atingir as próprias metas, sem o consentimento desses outros, contra a vontade deles ou sem seu conhecimento ou compreensão”, enquanto o dirigentes-chefes usam a troca como “controle ou influencia tendo por base recursos materiais e recompensas na forma de remuneração pelo recebimento de algum tipo de contribuição”, diz Bernardes citando Etzioni (1974); esses tipos de dirigentes negam o ativismo, a prática sindical, a relação de confiança, o código de ética quer na entidade singular, federada ou confederada, tornando-os cúmplices desse controle social.

     As atuações onipresentes do dirigente-chefe e do dirigente-condutor são reforçadas, por exemplo, pela publicação de um edital de convocação de uma assembleia de qualquer entidade sindical que tem como instância máxima de deliberação, a assembleia, uma quantidade inexpressiva de sindicalizados na terceira convocação, ora com no mínimo dez, ora com qualquer número de sindicalizados. Tal fato denota que, quanto uma entidade sindical é administrada por um dirigente-chefe ou por um dirigente-condutor, o desprezo pelo ativismo, pela prática sindical, pela relação de confiança, pela norma de conduta, e pela democracia direta baseada nos princípios da sustentabilidade aqueles propostos por Capra (2006) é real e propositalmente contrário ao interesse da entidade; e esse desprezo é desproporcionalmente maior quando existem a prática da reeleição, da sucessão familiar, e da ética de compadrio de um dirigente-chefe ou de um dirigente-condutor na entidade, essas práticas de vigorosas têm acarretado danos, muitos deles irreversíveis, ao negócio sindical: defesa, reivindicação e proteção dos interesses dos sindicalizados – há muitos casos de domínio da entidade sindical de mais de 30 anos. Ademais, nessas últimas três décadas, a reeleição, a sucessão familiar, e a ética de compadrio ou ainda, quando essas três práticas ocorrem juntas têm revelado o poder principesco do dirigente-chefe e do dirigente-condutor, quiça, são pontos relevantes a serem discutidos e solucionados, como exemplo, a exposta ética de compadrio [pagamento de propina] entre o presidente do Sintrave, alguns servidores públicos do Ministério do Trabalho, políticos do PTB e do Solidariedade e lobistas para destravar o registro sindical do Sintrave[2]. 

    Bem como é relevante, o comportamento diferenciado das gerações: baby boomers, X, Y e Z, como coloca Kojikovski (2017): os baby boomers (pessoas nascidas de 1940 a 1959) comportam-se como idealistas, revolucionárias e coletivas; as pessoas da geração X (as nascidas de 1960 a 1979) são materialistas, competitivas e individualistas; as da geração Y (pessoas nascidas de 1980 a 1995) são abstratas, questionadoras e globais; e as da geração Z (pessoas nascidas de 1996 a 2010) têm identidade fluida, são realistas e ativistas ponderadas. Os dirigentes-chefes e os dirigentes-condutores são em maioria da geração X, e com pouco interesse em entender os comportamentos das gerações citadas, o que dificulta ainda mais a despersonalização de seus atos e de suas práticas; eles não usam o big data e a digitalização e muito pouco a internet, as redes sociais e outras TIs para gerenciar, informar, formar, capacitar os sindicalizados da entidade sobre o ativismo, a prática sindical ou qualquer outra atividade. As atuações desses dirigentes e dos sindicalizados-cúmplices não garantem que a diversidade, o gênero, a etnia, principalmente, se estabeleçam na entidade sindical.

    Na entidade sindical: o que?, quem?, onde?, quando?, por quê?, como?, quanto?, não são indagações recorrentes, então, passam ao largo das instituições inclusivas; dos princípios da sustentabilidade propostos por Capra (2006); dos critérios de sustentabilidade propostos por Sachs (2002); do bem-estar pelo usufruto dos bens primários Oliveira (2013); dos objetivos, das atribuições estatutárias, e do código de ética da entidade; por isso, faz sentido que, o ativismo e a prática sindical dos sindicalizados e dos dirigentes, atos e processos, continuam com baixa eficiência, eficácia e efetividade por não atuarem em rede.

    O quê se exige, enquanto entidade sindical, empreendedora social: singular, federada e confederada é que ela empreenda um intensivo processo de planejamento, gestão, inovação e estratégia da ideia do negócio para compartilhar o aprender, o desaprender e o reapreaprender as complexas relações estatutárias, sociais e éticas alcançar um patamar razoável de homogeneidade social, enfim, uma atuação em rede e que com a utilização de tecnologias transformacionais promova o êxito em suas ações.

    A problemática sindical, destarte, reside no fato de que a complexa relação social, interna [entre associados e dirigentes] e externamente entre as entidades [singulares, federadas e confederadas], e os stakeholders [pessoa ou um grupo que legitima a gestão e os resultados de uma organização] ocorre pela ausência de prática dos princípios da sustentabilidade e do código de ética, mesmo em instituições sindicais com estrutura sistêmica e inclusiva, estatutariamente. Mas, sem dúvida, é o sindicalizado capaz de solucionar essa problemática: (1) ao escolher dirigentes-líderes que compartilham funções com os sindicalizados das gerações baby boomers, X, Y ,Z; (2) ao preservar e ao usar os princípios da sustentabilidade: rede, diversidade, ciclo, fluxo, desenvolvimento, interdependência, e equilíbrio dinâmico; (3) ao reconhecer-se como animador de um sistema aninhado (rede dentro de redes); (4) ao operar em escala crescente o plano de negócio eficiente, tanto em rede horizontal como vertical; (5) ao garantir o compartilhamento das ferramentas: especialização e cooperação no planejamento e na gestão de objetivos e de metas convergentes; (6) ao alavancar o ativismo, a prática sindical, a ética, e a gestão libertária, o êxito do clima e da cultura organizacional ideia de negócio, visão, missão, valores, proposta de valor - será permanente e continuado; (7) e ao assegurar sua participação cognitiva, instrumental, política e social pelo pleno exercício da democracia direta, o negócio sindical será criativo, eficaz e efetivo.

    Urge que na entidade sindical os dirigentes sejam líderes capazes de interpretar o contexto para intervir na ideia de negócio usando a autoridade, que é o “controle ou influencia sobre o comportamento de outros para a promoção de  metas coletivas, com base em alguma forma verificável de consentimento destes outros em razão de estarem informados da situação”, diz Bernardes citando Buckley (2009), cultivem uma cultura organizacional para aprender a conhecer, aprender a fazer, aprender a ser e aprender a viver juntos – sindicalizados, dirigentes e stakeholders; pois, enquanto entidade construtora do clima organizacional pelo exercício dos direitos e deveres dos sindicalizados e por uma gestão libertária comprometida com os princípios da entidade, nos ambientes públicos e privados, compartilham a conectividade para criar e reinventar cenários e círculos virtuosos que gerem demandas elásticas para oportunizar a operacionalização do negócio sindical: defesa, reivindicação e proteção dos interesses destes na sociedade e no Estado; por fim, promovam sua prosperidade e bem-estar, e, o da sociedade rumo ao estado da arte da sustentabilidade, do sindicalismo e da entidade inclusiva.
  







[1] Mestre em Desenvolvimento Sustentável, Engenheiro agrônomo, professor da Universidade Estadual de Alagoas/UNEAL, membro da Academia Brasileira de Extensão Rural/ABER, diretor do Sindagro, articulista da Tribuna Independente/Alagoas, Blog: sabecomquemestafalando.blogspot.com 
[2]  Revista Veja, política – Ministério do Trabalho, p. 36/41, 07/03/2018.