quarta-feira, 30 de junho de 2021

O Êxito da Ética de Compadrio

Marcos Antonio Dantas de Oliveira[1]

 

Sobretudo, porque o número de organizações cooperativas singulares e centrais ainda é pequeno, principalmente aquelas que atuam no ramo de crédito, de trabalho e do agropecuário, é relevante observar e levar em conta que existem, 3,9 milhões de estabelecimentos familiares no Brasil, em Alagoas, são 82.369 estabelecimentos familiares (IBGE: Censo Agropecuário, 2019), que ocupam espaços privados e públicos objetivando cumprir seus estatutos – ideário e prática cooperativista. 


É importante notar e anotar que o baixo grau de ativismo e de prática social dos cooperados pelo não exercício da democracia direta, repercute negativamente nos debates, nos encaminhamentos, nas alianças e nas práticas cooperativistas (atos e processos). Assim, é preciso avaliar: 1) a influência de uma ética de compadrio autoritária exercida pelo Estado (e os governos) e pelas cooperativas (e os dirigentes-cooperados) que atuando com sua mão de força, promove a hierarquização de seus interesses, muitas vezes, uma reprodução das mesmas práticas clientelistas e paternalistas que as da oligarquia política e fundiária; e, 2) pela apatia dos 'donos-cooperados' em relação ao projeto social, ao ideário e à prática cooperativista é generalizada e irrestrita nas assembleias ordinárias e extraordinárias, principalmente. 


E pode-se afirmar que as cooperativas sobre a influência da ética de compadrio, seus presidentes atuam como chefe - aquele que usa a troca como meio de "controle ou influência tendo por base recursos materiais e recompensas na forma de remuneração pelo recebimento de algum tipo de contribuição" (BERNARDES citando ETZIONI, 2009), e noutras atuam como condutor - é aquele que usa o poder como "controle ou influência sobre as ações dos outros no intuito de atingir as próprias metas, sem o consentimento destes outros, contra a vontade deles ou sem o seu conhecimento ou compreensão" (BERNARDES citando BUCKLEY, 2009).


Ademais, nos ensina: Machiavelli (1998) que diz, “aquele que promove o poder de um outro, perde o seu [...]” e Rousseau (2015), que “é absurdo e contraditório que o Soberano se dê um superior; obrigar-se a obedecer a um senhor é entregar-se sob plena liberdade”.

         

É fragorosamente inexpressiva uma assembleia geral com o mínimo de 10 'donos-cooperados' votantes em 3ª convocação para discutir, deliberar e aprovar qualquer pauta; sobretudo, porque sua presença é uma obrigação para com o seu negócio; e esse mínimo de 10 votantes desobriga até mesmo os dirigentes de comparecem as assembleias, e votarem.  Essa atitude é crucial para alavancar o ideário, o ativismo, à prática cooperativista, à ideia de negócio; embora seja crucial, também, porque levanta dúvida sobre a gestão e o objetivo da cooperativa.

 

É inexorável que as cooperativas estão quase sempre sendo ineficazes e malvistas pelo “menosprezo do exercício da democracia direta” (OLIVEIRA, 2013), principalmente pelos 'donos-cooperados', de modo que, o exercício dos princípios rochdaleanos é a porta de entrada e de saída para o êxito da prática cooperativista, e que tem na democracia direta a ferramenta para promoção de uma evolução no clima e na cultura organizacionais das cooperativas. As causas: influência da ética de compadrio entre governo e dirigentes e apatia dos 'donos-cooperados' pelo edital de convocação com 10 votantes e pelo menosprezo à democracia direta são das mais relevantes para o insucesso do cooperativismo, da função econômica e social da cooperativa.

 

Mas, se os 'donos-cooperados' alterarem o estatuto social discutindo, deliberando e aprovando em assembleia gerail, ordinária ou extraordinária, só em duas convocações: a 1ª (primeira) com 2/3, e a  2ª (segunda) com 50% (cinquenta por cento) mais 1 (um) dos 'donos-cooperados' aptos a votarem, estarão dando passos seguros para que seu negócio seja um caso de sucesso para atender os objetivos propostos no estatuto social. Sobretudo porque é na assembleia geral que o 'dono-cooperado' comparece, exercita, planeja, decide, fiscaliza, promove e vive o projeto social cooperativista necessário e oportuno para que a democracia direta, a proposta de valor e a ideia do negócio remunere e garanta bem-estar aos 'donos-cooperados' a perder de vista. Esses comportamentos exigem uma reflexão que se faz necessária para educar os cooperados, familiares e consumidores com a finalidade de compreender que o que se deve reformar é o conjunto do ambiente social.

 

 

 



     [1] Mestre em Desenvolvimento Sustentável e professor da UNEAL