domingo, 30 de novembro de 2014

Precisa-se de VAGA-LUMES

      Marcos Antonio Dantas de Oliveira

     Ao longo do processo evolutivo das espécies, a humana – homens e mulheres – tem usado a comunicação [as redes sociais], uma poderosa ferramenta para perpetuação da espécie e de aproximação entre si, sobretudo, em busca da concertação do bom convívio social. Desse modo, eles e elas inventam e reinventam todos os dias as relações sociais, reconhecendo nelas os conflitos, os diálogos e a confiabilidade das alianças, que acabam, em alguns casos, se tornando marcas distintivas. É assim que a Extensão Rural brasileira também se reproduz.
   A história da Extensão Rural, nos últimos 66 anos, tem tido o reconhecimento da sociedade, dos governos, dos organismos não governamentais, da academia, dos rurícolas e, especialmente, dos agricultores e extrativistas familiares [beneficiários da Lei 11.326 - estabelece os conceitos, princípios e instrumentos destinados à formulação das políticas públicas direcionadas à Agricultura Familiar e Empreendimentos Familiares Rurais], e de suas famílias e organizações. É motivo de regozijo para os extensionistas, homens e mulheres, que se dedicam diuturnamente a essa atividade, sobretudo, pela busca incessante aos bens primários – autoestima, inteligência, imaginação, saúde e vigor, oportunidades, renda, riqueza, liberdades, direitos, segundo Rawls (2002), ao bem-estar daqueles a quem destinam seu esforço.
    Esses extensionistas, num esforço continuado para servirem a comunidade, saem de suas casas e se juntam a quatro dezenas de milhões de agricultores, extrativistas, povos e comunidades tradicionais, homens, mulheres, jovens, crianças e idosos, para emular assuntos importantes sobre seus estilos de vida, sob a guarda do artigo 186 da Constituição Federal [da função social da propriedade], do Estatuto da Criança e do Adolescente e da Lei Geral de ATER, buscando pôr fora de perigo a perpetuação do bem-estar social e afetivo destas categorias, em suas unidades geográficas e sociais, novas ou não; e assegurar-lhes o acesso e o aumento da riqueza privada e da pública, amparado em princípios ecológicos – interdependência, cooperação, reciclagem, flexibilidade, diversidade, parceria.
    Enfim, os extensionistas têm participado na composição, decomposição e recomposição das relações sociais, econômicas e culturais com os beneficiários da lei 11.326, e outros rurícolas, comunidades rurais e citadinas, no estreitamento dessas relações, até mesmo através das relações de compadrio, pois há um sentimento de pertencimento, um senso de justiça que se cristaliza na possibilidade de servir, construir, relacionar-se com os demais, em especial, com aqueles que precisam da liberdade individual e da cidadania igual para melhorar suas posições sociais.
   A marca distintiva da Extensão Rural, mesmo com as especificidades regionais, é rigorosamente o/a extensionista – o sacerdócio de dezenas de milhares de mulheres e homens extensionistas, pelo respeito que constroem nas comunidades em que trabalham e divertem-se; e pelo autorrespeito animam o serviço de Extensão Rural – Essa marca distintiva é sustentada também pelo relacionamento com outros milhares de agentes sociais e econômicos. Sobretudo, pode-se apurar uma característica vigorosa na relação extensionista/extrativista e agricultor, comunidade e povo tradicional a intensa relação de confiança.
    E a extensão rural, enquanto ofício de dezenas de milhares de extensionistas país afora, necessita de luz própria que clareie este serviço, de forma permanente e continuada, propiciando assim aos rurícolas, em especial, os beneficiários da Lei 11.326 e técnicos bem-estar social, econômico e ecológico. E o serviço de extensão rural, ora representado, tanto pela ASBRAER [representação das entidades estaduais patronais], pelas ONGs, pela FASER [representação das entidades estaduais dos extensionistas] e pela ABER que, para exercerem seus papéis, têm encontrado dificuldades para operacionalizar suas atribuições – PRECISA-SE DE LUZ.
     Por isso, ainda adultos, precisamos de vaga-lumes. Assim, recorremos à nossa memória de infância e nos damos conta de quando corríamos atrás deles, os colocávamos em caixa de fósforo e os soltávamos em nossos quartos para iluminá-los. “Sentíamos a segurança de ter uma luz que nos conduzia para os nossos sonhos”, sentencia o extensionista, Diogo Guerra, em seu livro de crônicas: Um Vaga-lume na escuridão.
    A essa atuação cheia de significados [sacrifícios, realizações e prazeres], a esse aprender a conhecer; aprender a fazer; aprender a ser; e aprender a viver juntos, “onde a compreensão é a só tempo meio e fim da comunicação” [MORIN, 2000], que a ASBRAER, a FASER e a ABER, vaga-lumes emulem a história, a identidade e a cultura extensionista. 
    Desejo vida longa ao Vaga-lume Extensionista, mulher e homem [Salve 06 de dezembro]. Em especial aos doutorandos em Extensão Rural da UFSM/RS – Paixão, Gelson, Neimar e Naiara.