sábado, 29 de fevereiro de 2020

Bolso vazio e mal-estar

Marcos Antonio Dantas de Oliveira[1]
Para os rurícolas e os mais de 3,9 milhões de agricultores familiares (Censo Agropecuário, 2017) são agravados porque a logística, rodovia, armazém, porto, energia, comunicação, pesquisa e extensão rural não são de qualidade; e ora pela apatia dos agricultores como causa ou consequência, tem-se um governo ineficaz, que influi e dificulta o emprego de inovações, diminui a produtividade de todos os fatores e a concorrência, e não repõe os bens de capital; e não há êxito do empreendedor em qualquer área, como alimenta o aviltamento de preços de produtos que entram e saem de unidade geográfica, no mercado interno e externo, na unidade social, no consumo das famílias, local e global.

Quanto à segurança jurídica: por exemplo, mesmo a titulação definitiva é sempre questionada por terceiros, porque o país não possui um cadastro único de imóveis rurais. É um caos, pois a grilagem de terras corre solta, e dificulta à vida os agricultores familiares, e da sociedade pela ineficiente ação da maquina pública em vigiar e punir os infratores quanto à apropriação dos recursos naturais, da logística e dos tributos. A CPT tem denunciado mortes por conflitos de terra e água, dia a dia.

Quanto as disposições sociais: educação, vigilância sanitária e saúde, segurança pública estão à margem dos princípios da administração pública; são serviços públicos ruins com longas filas, e casos antiéticos de cirurgias protéticas pelo SUS; e as notas do IDEB, no Nordeste e Norte, que de baixas ridicularizam a educação brasileira e alagoana; por fim, quando é avaliada pelo Ranking da Eficiência dos Estados/Folha de São Paulo, os estados em maioria são ineficientes e pouco eficientes – um despautério.

Ah, o grau de formalidade na atividade agrícola e não agrícola é tão baixo, que repercute na renda média de cada um dos 3,9 milhões de estabelecimentos familiares, com renda média de até 0,5 salário/mês. Então, se a renda está ligada ao conforto/consumo; ir às compras depende do lucro de sua atividade e/ou de uma renda inclusiva; evidentemente para quem tem dinheiro no bolso, consumo é lazer. E para aqueles que têm bolso vazio ou pouco dinheiro, resta-lhes: a desocupação, o abandono, a penitência, o trabalho (legal ou ilegal), a droga e prostituição infantil. Para esses uma renda é “um legítimo direito a uma certa forma de propriedade ou seu equivalente” diz Paine – https://g1.globo.com/economia/noticia/2019/06/22/dados-do-ir-mostram-que-super-ricos-tem-mais-isencoes-e-pagam-menos-imposto-no-brasil.ghtml

E as liberdades garantidas no artigo 1º da Constituição Federal são corrompidas pela relação de compadrio de agentes públicos e privados, privatizando o Estado. E contra essa privatização, o remédio é o exercício do Estado de Direito ­– “significa que todas as ações do governo são regidas por normas previamente estabelecidas e divulgadas – as quais tornam possível prever com razoável grau de certeza de que modo a autoridade usará seus poderes coercitivos em dadas circunstâncias, permitindo a cada um planejar suas atividades individuais com base nesse conhecimento”, diz Hayek (2010).

Nesse Brasil, nessa Alagoas, de tantas assimetrias os agricultores familiares, homens, mulheres, jovens e crianças, analfabetos e oprimidos não gozam de Bem-estar proporcionado pelo usufruto bens primários, esses “bens primários são presentemente definidos pela necessidade das pessoas em razão de sua condição de cidadãos livres e iguais e de membros normais e plenos da sociedade durante toda a vida” (RAWLS, 2002). Por isso, dizia Stuart Mill (1806-1873): “Temos o direito de nos conduzir de variadas maneiras em relação a uma pessoa, seguindo nossa opinião desfavorável sobre ela, não para oprimir sua individualidade, mas para exercer a nossa”; e essas condições promoverão o Desenvolvimento Sustentável (OLIVEIRA, 2019) pelo usufruto dos bens inalienáveis: individualidade, liberdade, propriedade, confiança e felicidade.






[1] Mestre em Desenvolvimento Sustentável, engenheiro-agrônomo, articulista da Tribuna Independente de Alagoas e do blog:sabecomquemestafalando.blogspot.com, dirigente sindical e professor da Universidade Estadual de Alagoas.