segunda-feira, 30 de julho de 2018

Um jogo de soma ZERO

 Marcos Antonio Dantas de Oliveira[1]

A grosso modo, é muito comum em cooperativas (e são muitas as) que atuam como organizações extrativistas, por isso, elas não geram uma distribuição mais equitativa de recursos e tampouco dispensam o poder, e a eficiência nada mais é do que um discurso surreal de dirigente-chefe ou de dirigente-condutor; além disso, as cooperativas se inviabilizam também por não compartilharem à formação educativa estatutária (direitos e deveres); pelo não uso da capilaridade horizontal (número de associados) e da capilaridade vertical (número de entidades: singular, federada e confederada); pela ausência de planejamento e gestão estratégica e libertária e de um plano de comunicação integrada de marketing; pela baixa comunicação intra e intercooperativa na rede; pela baixa credibilidade institucional; pela onipresente ética de compadrio; economicamente, pela baixa produtividade, eficiência e margem de lucro (e pelo desprezo da prática estatutária, distribuição de sobras) nas cooperativas singulares, via de regra; e financeiramente pela alta inadimplência e pelo baixo número de associados e de entidades singulares, federadas e confederadas; bem como pela falta de líderes que pensem e que inculquem a visão, a missão, os valores e a proposta de valor naqueles que agem para o êxito da cultura organizacional do negócio cooperativo têm dificultado a filiação, o ativismo, a prática cooperativista e a inclusão social, dia a dia.

De certo modo, o que se exige das cooperativas, como empreendedoras sociais, que elas empreendam um intensivo processo de planejamento, gestão, inovação e estratégia da ideia do negócio (o que?, quem?, onde?, quando?, por quê?, como?, quanto?), e do balanço social para compartilharem o aprender, o desaprender e o reapreaprender as complexas relações estatutárias, sociais e éticas e alcançarem um patamar razoável de homogeneidade social; enfim, uma atuação em rede (sistema) e que com a utilização de tecnologias transformacionais promovam o êxito em suas ações.

Convém lembrar que as cooperativas têm estatutariamente estrutura sistêmica e inclusiva, por isso, os ‘donos-cooperados’ são capazes de solucionarem essa problemática: (1) ao escolher dirigentes-líderes que compartilham funções com os ‘donos-cooperados’; (2) ao preservar e ao usar os princípios da sustentabilidade: rede, diversidade, ciclo, fluxo, desenvolvimento, interdependência, e equilíbrio dinâmico; (3) ao reconhecer-se como animador e impulsionador de um sistema aninhado (rede dentro de redes); (4) ao operar em escala crescente o plano de negócio eficiente, em rede tanto horizontal como vertical; (5) ao garantir o compartilhamento das ferramentas: especialização e cooperação no planejamento e na execução de objetivos e de metas convergentes; (6) ao alavancar o ativismo, a prática cooperativista, a ética e a gestão libertária, o êxito do clima e da cultura organizacional – ideia de negócio, visão, missão, valores, proposta de valor – será permanenete e continuado; (7) e ao assegurar sua participação cognitiva, instrumental, política e social pelo pleno exercício da democracia direta, o negócio cooperativo será criativo, eficaz e efetivo pelo para aprender a conhecer, aprender a fazer, aprender a ser e aprender a viver juntos, ‘donos-cooperados’, dirigentes e stakeholders.

Pois, enquanto entidade construtora da ideia de negócio vis-à-vis a gestão libertária comprometida com os princípios da cooperativa, nos ambientes públicos e privados, criem e compartilhem cenários e círculos virtuosos que gerem ofertas e demandas elásticas para oportunizar a operacionalização do negócio cooperativo: compras, vendas, sobras, ideia de negócio criar clientes -, e representar os interesses dos ‘donos-cooperados’ na sociedade e no Estado para promoverem seu bem-estar, e, o da sociedade, não é um jogo de soma zero.

Decerto, a cooperativa é uma unidade social. E argumenta Bernardes, 2009, “uma unidade social artificialmente criada e estruturada, continuadamente alterada para se manter no tempo, e com a função de atingir resultados específicos que satisfaçam às necessidades de clientes existentes na sociedade e, também, às de seus participantes”, é capaz de promover a ideia de negócio, a proposta de valor, a visão de futuro, a missão, os valores, e o bem-estar; então, a cooperativa ao participar da cadeia produtiva e social do agronegócio ao usar a educação e a tecnologia transformacional age como uma força motriz que inova, especializa, produz, consume, armazena, intercambia e otimiza ideias e bem-estar em escala ascendente e abundante pode garantir o usufruto da riqueza pública e da riqueza privada pelos ‘donos-cooperados e suas famílias.

Mas é o ‘dono-cooperado’ – o faça você mesmo – que ao exercitar à liberdade individual vigora o ativismo; que ao exercitar à prática cooperativista efetiva o estatuto social; que ao compartilhar à tecnologia transformacional revoluciona ou no mínimo reforma, reinventa e qualifica o clima e a cultura organizacionais da cooperativa rumo ao estado da arte da sustentabilidade do cooperativismo e da cooperativa, da prosperidade e do bem-estar com todos pelo usufruto dos bens primários observados por Oliveira (2013) – individualidade, liberdade, posse, confiança e felicidade.

Agora, indaga-se: o quê falta para exercitá-las?

Bem como evidencia que o mundo é um lugar sem fronteiras, compreendê-lo e vivê-lo sob instituições e hierarquia das necessidades humanas  de Maslow (1943) e Diamandis (2012): comida, água, abrigo, energia, educação, tic, saúde e liberdade, exige tirocínio escolar e disposição do 'dono-cooperado' para enfrentar as incertezas de todas as naturezas; mas, sobretudo, buscar cenários, tendências e soluções para a autorrealização em ambiente institucional, público e privado. O 'dono-cooperado' na medida em que evolui no exercício das liberdades e na prática estatutária, tornando-o cada vez mais relevante; e possibilita que a cooperativa ao modelar  uma estrutura estável sob regras formais e informais concebidas molda a interação humana; reduz às incertezas; e gerencia um ciclo virtuoso de geração de riqueza e de abundância de bem-estar com todos

Afinal, queremos um jogo de soma zero nesse mundo globalizado online?




[1] Mestre em Desenvolvimento Sustentável, Engenheiro agrônomo, professor da Universidade Estadual de Alagoas/UNEAL, membro da Academia Brasileira de Extensão Rural/ABER, diretor do Sindagro, articulista da Tribuna Independente/Alagoas, Blog: sabecomquemestafalando.blogspot.com