domingo, 14 de dezembro de 2014

Para ALÉM do Natal

 Marcos Antonio Dantas de Oliveira

Solape os pecados capitais [gula, inveja, preguiça, ira, soberba, avareza, luxúria] – “Mendicância cresce em período natalino” [1]. A miséria é de uma elegância frugal - http://g1.globo.com/al/alagoas/altv-1edicao/videos/t/edicoes/v/mais-de-35-das-familias-alagoanas-vivem-com-menos-de-r-140-por-mes/3825535/

Solape o egoísmo - Corrupção aniquila BEM-ESTAR - http://www.revoltabrasil.com.br/seguranca/4681-corrupcao-desvia-ate-200-bilhoes-por-ano-mas-presos-por-corrupcao-sao-apenas-01-no-brasil.html

Solape o abandono de  centenas de milhões de crianças por todos nós - https://www.youtube.com/watch?v=3bDnB2tI8nE&list=UUBLdmg9Tn_-elWqAP3MAdog

E erradicá-los: é protagonizar, é cooperar, é ajudar a promover convicções, responsabilidades e estratégias que garantam a reciprocidade como fator indivisível para o desenvolvimento das pessoas e das comunidades para o BEM-ESTAR pelo acesso e usufruto dos bens primários – autoestima, inteligência, imaginação, saúde e vigor, oportunidades, renda, riqueza, liberdades, direitos, segundo Rawls (2002). 

Celebre a vida! Este objetivo é alcançado se sustentado pelo sentimento de pertencimento a um lugar – como os povos da floresta; pelo sentimento existencial – como a mãe que amamenta sua filha; pelo sentimento de solidariedade – por laços afetivos; e pelo sentimento de cooperação – por ajuda mútua nas relações sociais entre os moradores da cidade e do campo para compartilhar os encargos e benefícios da cooperação social com todos, em especial, para a expressão máxima de qualquer sociedade, as crianças – Celebre o nascimento do menino Jesus! 

Esses sentimentos são encontrados com intensidade e riqueza na vida rural dos povos e comunidades tradicionais, de agricultores e extrativistas familiares, e outros rurícolas que [re]construindo esses ambientes, ora de aproximação com as pessoas, fazem-nas reviver em si. Daí a origem e a opulência do caráter emancipador, conservador e utópico dessas categorias em sustentar e satisfazer-se em seu labor, em sua ação para demandar os prazeres materiais, culturais, lúdicos e espirituais. Nas comunidades rurais, o Natal é comemorado com rituais próprios, que dão uma conotação vigorosa aos seus modos de vida, assim pressupõe a existência de relações sociais [e religiosas com fervor] e ecológicas [com a natureza e seus mitos] intra e intergeracional.

Esse modo de vida não é somente uma ação normativa em si; é um estado de [da] vida. É renovado pelo diálogo das famílias e das pessoas. Do autorrespeito das pessoas e comunidades pela decisão de cumprir princípios e responsabilidades; da predisposição em renovar essas atitudes e comportamentos; e da boa vontade dessa geração em garantir a identidade, a história e os valores culturais dos povos sob a guarda dos princípios ecológicos exaltados por Capra (2002); indagar qual a nossa disposição para partilhar o uso e o não uso dos recursos e serviços naturais: a produção, o consumo, o lazer aos presentes; e assegurar também às futuras gerações vida saudável.

E na esfera pública, ao exercitar a cidadania igual, apropriar-se dos benefícios e encargos da cooperação social. E ao dialogar com os valores, crenças e tradições, a cultura local encontra indagações e respostas criativas para superar o desejo utilitarista de uma cultura global em produzir bens e serviços em volumes que ninguém terá tempo de consumi-los; diminuindo assim o fosso entre aqueles que têm as condições materiais e imateriais para realizar suas demandas e desejos, e àqueles desprovidos dos bens primários [em Rawls] pelo difícil acesso à riqueza, privada e pública [inclusive aos tributos], e ao exercício das liberdades fundamentais.

A partir dessas demandas e desejos, o homem e a mulher vão se definindo por sua capacidade de libertar-se, por sua história, por sua inquietação moral, e por aperfeiçoar-se ao longo da vida; eles, no particular e no universal, contemporizam-se para encontrarem-se na história; e ao escrevê-la revivem, vivem o dia a dia e garantem sua continuidade.

Por sinal, no período natalino, nesta festa cristã, a história da humanidade é recontada e atualizada com o intuito de iluminar o coração e a mente para o exercício da boa vontade; como auxiliar no enfrentamento de conflitos, seja pelos atos de brutalidade, indiferença e corrupção, seja pelo trabalho de crianças e adolescentes nas carvoarias, lixões, prostituição etc.; além das relações indigestas entre os credos; entre o bilionário e o que não tem o tostão ou pouco tostão; como de si para si.

Esses conflitos confirmam: “o homem desacomodado não é mais do que um pobre animal, nu e dividido”, diz o Rei Lear [Shakespeare]. Ignorá-lo ou fingir ignorá-lo é forjar as relações consigo, a natureza e o mundo.

Celebre no espaço público e privado - o encontro entre as pessoas – às virtudes [Caridade, Castidade, Diligência, Humildade e Generosidade]!

Celebre o nascimento e a ressurreição de Cristo! Celebre o amor! Celebre a vida!

E para celebrar a vida, as Boas Festas, os rurícolas, agricultores, extrativistas [quilombolas, quebradeiras de coco, caboclos e índios] e os citadinos, homens e mulheres livres e iguais. 

São meus Votos!!




[1]  O Jornal [de Alagoas], 21/dez/2010

domingo, 30 de novembro de 2014

Precisa-se de VAGA-LUMES

      Marcos Antonio Dantas de Oliveira

     Ao longo do processo evolutivo das espécies, a humana – homens e mulheres – tem usado a comunicação [as redes sociais], uma poderosa ferramenta para perpetuação da espécie e de aproximação entre si, sobretudo, em busca da concertação do bom convívio social. Desse modo, eles e elas inventam e reinventam todos os dias as relações sociais, reconhecendo nelas os conflitos, os diálogos e a confiabilidade das alianças, que acabam, em alguns casos, se tornando marcas distintivas. É assim que a Extensão Rural brasileira também se reproduz.
   A história da Extensão Rural, nos últimos 66 anos, tem tido o reconhecimento da sociedade, dos governos, dos organismos não governamentais, da academia, dos rurícolas e, especialmente, dos agricultores e extrativistas familiares [beneficiários da Lei 11.326 - estabelece os conceitos, princípios e instrumentos destinados à formulação das políticas públicas direcionadas à Agricultura Familiar e Empreendimentos Familiares Rurais], e de suas famílias e organizações. É motivo de regozijo para os extensionistas, homens e mulheres, que se dedicam diuturnamente a essa atividade, sobretudo, pela busca incessante aos bens primários – autoestima, inteligência, imaginação, saúde e vigor, oportunidades, renda, riqueza, liberdades, direitos, segundo Rawls (2002), ao bem-estar daqueles a quem destinam seu esforço.
    Esses extensionistas, num esforço continuado para servirem a comunidade, saem de suas casas e se juntam a quatro dezenas de milhões de agricultores, extrativistas, povos e comunidades tradicionais, homens, mulheres, jovens, crianças e idosos, para emular assuntos importantes sobre seus estilos de vida, sob a guarda do artigo 186 da Constituição Federal [da função social da propriedade], do Estatuto da Criança e do Adolescente e da Lei Geral de ATER, buscando pôr fora de perigo a perpetuação do bem-estar social e afetivo destas categorias, em suas unidades geográficas e sociais, novas ou não; e assegurar-lhes o acesso e o aumento da riqueza privada e da pública, amparado em princípios ecológicos – interdependência, cooperação, reciclagem, flexibilidade, diversidade, parceria.
    Enfim, os extensionistas têm participado na composição, decomposição e recomposição das relações sociais, econômicas e culturais com os beneficiários da lei 11.326, e outros rurícolas, comunidades rurais e citadinas, no estreitamento dessas relações, até mesmo através das relações de compadrio, pois há um sentimento de pertencimento, um senso de justiça que se cristaliza na possibilidade de servir, construir, relacionar-se com os demais, em especial, com aqueles que precisam da liberdade individual e da cidadania igual para melhorar suas posições sociais.
   A marca distintiva da Extensão Rural, mesmo com as especificidades regionais, é rigorosamente o/a extensionista – o sacerdócio de dezenas de milhares de mulheres e homens extensionistas, pelo respeito que constroem nas comunidades em que trabalham e divertem-se; e pelo autorrespeito animam o serviço de Extensão Rural – Essa marca distintiva é sustentada também pelo relacionamento com outros milhares de agentes sociais e econômicos. Sobretudo, pode-se apurar uma característica vigorosa na relação extensionista/extrativista e agricultor, comunidade e povo tradicional a intensa relação de confiança.
    E a extensão rural, enquanto ofício de dezenas de milhares de extensionistas país afora, necessita de luz própria que clareie este serviço, de forma permanente e continuada, propiciando assim aos rurícolas, em especial, os beneficiários da Lei 11.326 e técnicos bem-estar social, econômico e ecológico. E o serviço de extensão rural, ora representado, tanto pela ASBRAER [representação das entidades estaduais patronais], pelas ONGs, pela FASER [representação das entidades estaduais dos extensionistas] e pela ABER que, para exercerem seus papéis, têm encontrado dificuldades para operacionalizar suas atribuições – PRECISA-SE DE LUZ.
     Por isso, ainda adultos, precisamos de vaga-lumes. Assim, recorremos à nossa memória de infância e nos damos conta de quando corríamos atrás deles, os colocávamos em caixa de fósforo e os soltávamos em nossos quartos para iluminá-los. “Sentíamos a segurança de ter uma luz que nos conduzia para os nossos sonhos”, sentencia o extensionista, Diogo Guerra, em seu livro de crônicas: Um Vaga-lume na escuridão.
    A essa atuação cheia de significados [sacrifícios, realizações e prazeres], a esse aprender a conhecer; aprender a fazer; aprender a ser; e aprender a viver juntos, “onde a compreensão é a só tempo meio e fim da comunicação” [MORIN, 2000], que a ASBRAER, a FASER e a ABER, vaga-lumes emulem a história, a identidade e a cultura extensionista. 
    Desejo vida longa ao Vaga-lume Extensionista, mulher e homem [Salve 06 de dezembro]. Em especial aos doutorandos em Extensão Rural da UFSM/RS – Paixão, Gelson, Neimar e Naiara.





domingo, 24 de agosto de 2014

O eleitor e o príncipe: Aécio, Dilma, Marina ...

   Marcos Antonio Dantas de Oliveira

   O brasileiro precisa ter no bolso 8.000 dólares por ano para atingir nota 7, em uma escala de felicidade, desenhada pela Universidade de Michigan [2]; e o americano precisa de 32.000 dólares por ano para ter o mesmo nível de felicidade. Então, a felicidade [o bem-estar] varia em função do acesso e usufruto dos bens primários - autoestima, inteligência, imaginação, saúde e vigor, oportunidades, renda, riqueza, liberdades, direitos, segundo Rawls (2002). E continua Rawls, “os bens primários são presentemente definidos pela necessidade das pessoas em razão de sua condição de cidadãos livres e iguais e de membros normais e plenos da sociedade durante toda a vida”. E, em Alagoas, a grande maioria das pessoas não usufruem desses bens primários. Alagoas tem o pior Índice de Desenvolvimento Humano/IDH – http://g1.globo.com/brasil/noticia/2013/07/veja-aqui-o-idhm-do-seu-municipio.html.

   Nesse país longe da felicidade está a classe média que tem renda entre 320 a 1.120 reais por pessoa [Instituto Data Popular]. Donde, conclui-se que muitos brasileiros da classe média estão em insegurança alimentar e nutricional; é ridícula essa classe média, mas verdadeira sua penosidade social e econômica – dentro dela, pouquíssimos são agricultores e extrativistas familiares, povos e comunidades tradicionais. Segundo Alves e Rocha (2010), “mais da metade das propriedades rurais, por exemplo, com níveis de renda entre zero e meio salário mínimo [53,4% do total] encontram-se, segundo os autores, inviabilizados produtivamente, pois [...] a residência serve basicamente como moradia, sendo a atividade agrícola insignificante. Os minifúndios [agrícola ou extrativista] operam precariamente como unidades para autoconsumo, com reserva de mão de obra, analfabeta, desqualificada e barata; e as alternativas de sobrevivência, ocupações e rendas, são poucas e instáveis em outras atividades para esses minifundiários, principalmente, para as mulheres e os jovens rurais, do Norte e do Nordeste. E com o baixo crescimento do PIB [menos de 1% para este ano] aumenta ainda mais essa penosidade.

   E no lugar rural, muitas famílias ainda com posse precária da terra e sem documentos pessoais, para além de outras inseguranças jurídicas, sofrem ainda mais com a baixa produtividade da terra e da mão de obra; com o baixo crescimento do negócio agrícola [incluído seu patrimônio imaterial]; com a renda e a ocupação precárias, instáveis e baixas; com o baixíssimo grau de escolaridade; com a alta insegurança alimentar e nutricional; com os serviços públicos ineficazes [de saúde, educação, segurança pública, pesquisa agrícola e extensão rural [principalmente em Alagoas]; e com a má gestão dos recursos privados e públicos aprofunda a vida penosa e penitente da maioria dos agricultores e extrativistas familiares, dos povos e comunidades tradicionais; e torna difícil sua permanência na atividade e na propriedade legal ou ocupada; e a baixíssima escolaridade compromete a sucessão familiar dos Quilombolas - www.ecodebate.com.br/2013/01/07/quilombolas-expoem-miseria-brasileira-75-vivem-em-situacao-de-extrema-pobreza/, e dos índios em abandono - https://www.google.com.br/?gfe_rd=cr&ei=Kq35U7iBM4Kk8wfUtIHwAg&gws_rd=ssl#q=%C3%8Dndios+que+eram+isolados+pegam+gripe%2C+s%C3%A3o+medicados+e+voltam+para+aldeia_._

   Em relação à educação no campo, pode-se dizer que ela tem um papel fundamental no avanço da conscientização às lutas pelo acesso e uso da natureza e pelo usufruto dos bens primários [RAWLS]. É o tirocínio escolar a mola propulsora para inserir, principalmente os filhos dos agricultores e extrativistas familiares, dos povos e comunidades tradicionais em práticas modernas de adoção de tecnologias e inovações, bem como o exercício das liberdades fundamentais tão cara nas zonas rurais. Isto mostra a dificuldade dessas categorias na gestão da unidade produtiva e social, no respeito às leis [inclusive, ambientais, ecológicas e ao ECA] e no exercício da cidadania igual, exige-se a interpretação de textos. Com baixíssima escolaridade e com notas baixas nas avaliações do Ministério da Educação/MEC, é extremamente difícil para os filhos assumirem um papel protagonista neste país. Em Alagoas, a escola pública [IBED baixo] é uma máquina de fazer pobres. Pois, uma das ferramentas que permite tirá-los da pobreza, o tirocínio escolar, é um fiasco.

   No Brasil, outro dado relevante: A insegurança alimentar dos rurícolas é de 56,4%, para aqueles que têm renda entre um ¼ a ½ salário mínimo. Outro: Os brasileiros devem dar atenção ao hábito de lavar as mãos, para evitar a transmissão de doenças como hepatite A, conjuntivites, rotavírus, e parasitoses, e crianças à morte.

   A OMS recomenda 110 litros de água para a necessidade diária do ser humano. No Ceará, água um bem comum escasso e de baixa qualidade – http://globotv.globo.com/rede-globo/globo-rural/v/moradores-do-ceara-reclamam-da-qualidade-da-agua-em-campos-sales-e-salitre/2723250/. Aliás, a quem serve uma cisterna de 16 mil litros para os 6 ou 8 meses de estiagem?

   Então, a insegurança alimentar e nutricional, além da jurídica, a falta de água tratada para lavar as mãos, e a pouca leitura para interpretar um texto, principalmente das crianças, serão novas formas de genocídio? - http://www.brasildefato.com.br/node/29599

   E mais, a esperança de vida ao nascer do brasileiro significa para os que ganham abaixo do salário mínimo de 2.915,07 reais [em julho de 2014, segundo o DIEESE], principalmente, os agricultores e extrativistas familiares e os povos e comunidades tradicionais, que suas vidas vão continuar na contramão do bem-estar digno [dos bens primários]; estão em penúria social, econômica, ecológica e patrimonial distante do que preconiza o artigo 7 da Constituição federal.

   E tem mais no Brasil: até às 7h36 de hoje [24 de agosto], o governo já arrecadou R$ 1,05 trilhão em tributos, e a sonegação atinge R$ 323 bilhões; a corrupção drena 200 bilhões de reais, segundo PNUD; e está perdendo o controle da inflação [e para as pessoas com renda de até 02 salários a perda de poder aquisitivo é implacável].  

   Imposto, essa riqueza pública de todos continua indo para o bolso dos príncipes, dos que dão ordens e dos que dão conselhos e para a maioria da população, inacessibilidade aos bens primários. Esse despautério afronta à dignidade de todos, principalmente, dos agricultores e extrativistas familiares, dos povos e comunidades tradicionais, das crianças e dos adolescentes. Alagoas é o primeiro lugar em mortalidade infantil – http://g1.globo.com/bemestar/noticia/2013/08/al-registra-maior-taxa-de-mortalidade-infantil-do-pais-e-sc-menor-diz-ibge.html

   Não obstante, o governo, brasileiro e alagoano, tem cumprido mal seu papel de arrecadador, distribuidor de impostos e zelador dos princípios da Administração pública [legalidade, impessoalidade, moralidade, publicização e eficiência], aumentando irresponsavelmente os gastos públicos e negligenciando na execução das políticas públicas, via de regra, clientelistas e na governança, mas um bom negociante quanto à governabilidade - http://g1.globo.com/fantastico/noticia/2014/06/assessores-e-ex-deputado-revelam-como-funciona-esquema-de-corrupcao.html


   Saia dessa tirania da conformidade. Aliás, perde poder quem o entrega a um terceiro, e não o vigia, nem o pune; portanto, exerça suas liberdades fundamentais! Exerça sua cidadania igual! Dialogue e discuta sobre o controle dos recursos naturais [uso e não uso] e dos impostos, sobre padrões e formas de sociabilidade, sobre Desenvolvimento sustentável. Faça alianças com seus pares para usufruir dos bens primários [RAWLS] e da felicidade.

   Saia à rua! Nessa eleição, celebre a dignidade como status quo!






[1] Mestre em  Desenvolvimento Sustentável, membro da Academia Brasileira de Extensão Rural/ABER, professor da Universidade Estadual de Alagoas/UNEAL, e extensionista da EMATER/AL - Carhp                                                 Blog:sabecomquemestafalando.blogspot.com
[2] Revista Veja, 08 de maio de 2013







domingo, 20 de julho de 2014

Apesar da BELA estética

Marcos Antonio Dantas de Oliveira

   A vida no campo se resume à moradia, ao trabalho, inclusive alugando-o, e ao não trabalho, a desocupação [e assim pode levar seus moradores ao tráfico de drogas e a prostituição infanto-juvenil, por exemplo]. Pois, mais da metade [53,4%] dos agricultores, extrativistas, trabalhadores de aluguel, povos e comunidades tradicionais, principalmente as mulheres e os jovens rurais, têm renda bruta entre zero e meio salário mínimo; têm seu negócio [agrícola e não agrícola] inviabilizado, e consequentemente não têm nem usufruem dos bens primários [autoestima, inteligência, imaginação, saúde e vigor, oportunidades, renda, riqueza, liberdades, direitos, segundo Rawls], nem a um bem-estar digno.

  E sem dinheiro suficiente a fome oculta viceja, pois, sua dieta alimentar diária não balanceada em fibras, proteínas e lipídios e a carência de vitaminas e sais minerais no organismo deixa-os expostos às doenças e a morte às crianças de até os cinco anos. Dados do IBGE [2006] sobre orçamento familiar de 2002/2003 revelaram que no Brasil, 35,5% das famílias ainda subsistem com uma quantidade insuficiente de alimentos - são famílias com renda até R$ 400,00 que consumiram 15 kg de hortaliças/ano, enquanto as famílias com renda superior a R$ 3.000,00 consumiram 42 kg. 
    
  Não obstante no lugar rural, o agricultor, o extrativista familiar, o trabalhador de aluguel, o índio e suas famílias realizam seu labor e manifestações culturais, dia a dia, em conformidade com a harmonia aparente dos fluxos cíclicos naturais e com suas relações familiares e compadrios; mas não o suficiente para garantir-lhes suas escolhas individuais e coletivas, pois as políticas públicas em vigor obedecem a critérios assistencialistas, ora através de estratégias filantrópicas, ora por políticas compensatórias e clientelistas.

  Que também facilitam a exploração dos recursos e serviços naturais, ora pelo uso na agropecuária, mineração, indústria e no setor de serviços; ora por assentamentos humanos, empresas e por indivíduos, com avaliações e fiscalizações frouxas e até lenientes pelos órgãos de fiscalização [restam do bioma Mata Atlântica, 12% da área original e do bioma Caatinga, 8%], afrontando a legislação ambiental e os planos Diretores municipais (e orçamentos), por fim, leva-os à vida indigna. 

   Assim, os pobres – agricultores, extrativistas e trabalhadores de aluguel, povos e comunidades tradicionais, crianças e jovens rurais – organizam famílias pobres que continuarão pobres. Segundo o IPEA, quem ganha até 50% do salário mínimo está em pobreza absoluta; e quem ganha até 25%, está em pobreza extrema. Aliás, a grande maioria dos rurícolas vive em pobreza. Assim, os pobres necessitam transformar as atuais e degradadas relações sociais e de poder pelo acúmulo de riqueza privada, pelo acesso eficiente à distribuição da riqueza pública em Bem-estar, especialmente os rurícolas, que precisam enfrentar à pobreza em qualquer fase da vida http://globotv.globo.com/rede-globo/globo-rural/t/edicoes/v/relatorio-sobre-violencia-contra-os-povos-indigenas-e-divulgado/3505343/ . 

 Bem como exigir do Estado, representado por governos autoritários, à garantia de que pelos menos seus filhos terão uma educação, inclusive no campo, de qualidade para levá-los ao exercício das liberdades fundamentais e da cidadania igual, e assim tomarem decisões que lhes promova bem-estar – acesso e usufruto dos bens primários [RAWLS], vida digna em seus lugares de origem como opção http://educacao.uol.com.br/noticias/2013/06/04/menos-de-1-das-escolas-brasileiras-tem-infraestrutura-ideal.htm

 Portanto, os movimentos rurais, inclusive de jovens rurais, associações comunitárias, sindicatos de trabalhadores e de indígenas precisam reivindicar: do financiamento do sistema produtivo [culturas e agroindústrias] à moradia; da manutenção e uso do patrimônio imaterial [valores, costumes, modos de produzir e consumir ...] à educação; da eficiência na distribuição da riqueza [patrimônio, renda, segurança alimentar e jurídica, tributos, seguridade social...] à proteção da natureza [ora por uso, ora por não uso]; do eficaz serviço de pesquisa agropecuária e extensão rural à renda decente [produtiva e não produtiva]; do acesso ao mercado internacional ao nacional [e ao institucional] ao Desenvolvimento Sustentável.
      
  Inspirados, necessitam contraditar, desenvolver, sustentar e valorizar a difícil política do bem-estar social e ecológico com todos – modos de pensar, dialogar, produzir, distribuir, consumir e entreter-se, hoje e amanhã, ao aprender a ser e a viver junto. 

 Aliás, é a justiça social a expressão máxima para assegurar que os efeitos combinados da tecnologia e da inovação, da produtividade da terra e do trabalho [e sua organização], da acumulação de capital, do lazer e do tirocínio escolar leve-os a um Bem-estar digno.

  Publicado pela Tribuna Independente, Maceió/Alagoas


[1] Mestre em Desenvolvimento Sustentável, membro da Academia Brasileira de Extensão Rural/ABER, extensionista da EMATER/AL - CARHP, professor da Universidade Estadual de Alagoas/UNEAL, articulista da Tribuna Independente, Maceió/AL.

Blog:sabecomquemestafalando.blogspot.com 

domingo, 22 de junho de 2014

A exuberância do PENITENTE!

                      Marcos Antonio Dantas de Oliveira[1]

     Os agricultores e extrativistas familiares, os povos e comunidades tradicionais, via de regra, praticam uma agricultura de sobrevivência, ainda resultante do "caráter estrutural da ‘brecha camponesa’ no sistema escravista, com sua lógica subjacente" [CARDOSO]. E em maioria, continua sem acesso a terra. Não obstante, a Reforma agrária é meramente uma peça publicitária do Estado brasileiro; uma vez que, não cumpre a função social da propriedade [Artigo 186 da Constituição federal]; e que implica também em altos custos para os contribuintes. 

    Essa importante política pública redistributiva está tão impregnada de clientelismo político, que afeta tanto àqueles que recebem a terra pelo INCRA como àqueles que adquirem pelo Crédito fundiário: nesse caso, compromete ainda mais o Bem-estar da família tomadora desse crédito – Consuma-se assim uma dívida multidimensional. Portanto, a Reforma agrária brasileira só aumentou o número de imóveis de até 100 ha, eles representam 86% do total [INCRA, 2009], via de regra, são minifundiários com imensas dificuldades para realizar práticas agroecológicas e sucessão familiar, por exemplo.

     Então para dar a concessão de terras a essas categorias [pelo INCRA] ou ofertar crédito para a compra de propriedade [pelo Crédito Fundiário], o governo deve ter como primeiro critério: o acesso ao módulo rural - A propriedade familiar é aquela que atende a Lei 4.504/1964.

     E tem mais: a maioria vive em moradia insalubre, e tem dificuldade de acesso ao Programa Nacional de Habitação Rural/PNHR; com financiamento agropecuário ainda baixo para atender as demandas dos beneficiários da Lei 11.326; só R$ 24,1 bilhões [Safra 2014/2015]. É pouco dinheiro para assegurar que a unidade social aumente a produtividade de todos os fatores como para promover o Bem-estar da família e da sociedade.

     Para completar seus filhos frequentam escolas com IDEB baixo; e a política de educação do campo é um fiasco. É a educação [o tirocínio escolar] uma das molas impulsionadoras do desenvolvimento sustentável e do Bem-estar de uma sociedade.

     Descapitalizados, não têm recursos para pagar pelos serviços de pesquisa agrícola e extensão rural, e por regra geral, ineficientes, inclusive o estatal. E assim continuam transferindo suas mais-valias para os setores: financeiro, industrial, comercial e estatal, para os bolsos de uns poucos ricos.

   Nesse sentido, fica-lhes difícil utilizar os recursos naturais e artificiais, os cultivos, a mão de obra, de modo sustentável para promover o incremento de suas rendas agrícolas e não agrícolas, sem um mercado capaz de absorver os produtos e serviços gerados pela falta ou insuficiência de renda da maioria da população; e assim esgota-lhes a capacidade para empreender usando a Lei 11.326, com sérias implicações para o acesso e o usufruto dos bens primários: autoestima, inteligência, imaginação, saúde e vigor, direitos, liberdades e oportunidades, renda, riqueza [RAWLS]. E que as políticas públicas executadas e em execução, via de regra, são pífias para dar conta de avanços para essas categorias, inclusive à sucessão no negócio rural/agrícola.

    Assim, suas dificuldades não foram nem amenizadas, por exemplo, 40% da renda é destinada à alimentação. E o agricultor familiar mesmo com o crescimento da renda mensal média familiar passando de R$ 1.138 em 2003 para R$ 1.499 em 2009, um acréscimo em torno de 32%. É uma renda baixa para satisfazer às necessidades e às demandas de uma família de quatro pessoas por domicílio, em resposta ao artigo 7º da Constituição federal.

  Os agricultores e extrativistas familiares, os povos e comunidades tradicionais, e os jovens rurais estão sem renda líquida para participar ecológica, social e politicamente do acesso e do usufruto dos bens primários [RAWLS], do usufruto do Bem-estar. Em Sergipe, mais de 42 famílias quilombolas serão desapropriadas de sua terra. Confirme no http://site.adital.com.br/site/noticia.php?lang=PT&cod=80807  

     Eis seu exuberante infortúnio! Eis o exuberante agricultor familiar!


Publicado pela Tribuna Independente, Maceió/Alagoas

[1] Mestre em Desenvolvimento Sustentável, membro da Academia Brasileira de Extensão Rural/ABER, professor da Universidade Estadual de Alagoas/UNEAL, extensionista da EMATER-AL/Carhp    
 Blog: sabecomquemestafalando.blogspot.com


domingo, 25 de maio de 2014

2014 – Ano Internacional da Agricultura Familiar

                                                  Álvaro Simon[1]
                                     Marcos Antonio Dantas de Oliveira[2]

   Você sabe o que come? Você sabe quem produz a comida que chega à nossa mesa? A agricultura familiar, camponesa e indígena produz 70% dos alimentos consumidos no mundo. Estes trabalhadores(as) representam um terço da humanidade e 90% de todos os estabelecimentos agropecuários. No Brasil, representam 84% dos estabelecimentos e 24% da área cultivada, empregam 74% da mão de obra na agropecuária. Em Alagoas, cerca de 95 mil estabelecimentos têm até 10 hectares; assim, a grande maioria dos agricultores familiares, povos e comunidades tradicionais brasileiros não consegue empreender, inovar e agregar valor aos produtos e serviços para promover bem-estar, dignidade à suas famílias pelo usufruto dos bens primários – autoestima, inteligência, imaginação, saúde e vigor, direitos, liberdades e oportunidades, renda, riqueza.

  A Agricultura Familiar consiste em um meio de organização das produções agrícola, florestal, pesqueira, pastoril e aquícola que são gerenciadas e operadas por uma família e predominantemente dependente de mão de obra familiar, tanto de mulheres quanto de homens. A família e a exploração estão vinculadas, coevoluem e combinam funções econômicas, ambientais, reprodutivas, sociais e culturais. Por isso, ao falarmos de Agricultura Familiar, beneficiários da Lei 11.326 – Lei da Agricultura Familiar e dos Empreendimentos Familiares Rurais, também nos referimos aos pescadores artesanais, pastores, quebradeiras de coco, catadoras de mangaba, fundo de pasto, faxinais, recolectores, trabalhadores sem terra e as comunidades indígenas.

  A importância desse setor para o desenvolvimento sustentável das nações é incontestável, a par disso a Assembleia Geral da ONU aprovou por unanimidade a celebração do “Ano Internacional da Agricultura Familiar, em 2014” (AIAF-2014). O lançamento oficial aconteceu no dia 22 de novembro de 2013, na sede da ONU em Nova York. No Brasil, cabe ao comitê coordenado pelo o Ministério do Desenvolvimento Agrário (MDA) planejar, propor, promover, articular e organizar as atividades do AIAF.

  O Comitê Consultivo Mundial (CCM) do AIAF, composto pela sociedade civil, reunido em Bruxelas, no dia 28 de novembro de 2013, definiu como temas centrais: a importância da aliança local, regional e internacional por terra, alimentos saudáveis e trabalho decente; agricultores(as) familiares organizados, mas com atitude autônoma; direito ao trabalho na terra, ao mercado local e à organização; direito a uma educação permanente, técnica e específica para o campo. 

  Segundo a Contag, ao trabalhar esses conteúdos, as representações presentes na reunião chegaram à conclusão que os atores fundamentais do AIAF são as mulheres e a juventude. As mulheres devido à sua atuação, principalmente no tema da agrodiversidade e a juventude porque, em vários países, estão saindo do campo por falta de oportunidade. Em outros, estão voltando com proposições de qualidade, inclusive de novas tecnologias agrícolas, pesquisas e extensão rural. Com isso, o tema da sucessão rural será aprofundado, e nada melhor do que colocar esse público em evidência durante o Ano Internacional da Agricultura Familiar.

  Contudo, a intensa participação da Agricultura Familiar na economia dos países, não esconde a realidade de um mundo rural ainda marcado pela pobreza. No Brasil, quase metade dos 24 milhões de miseráveis vivem no meio rural. Por tudo isso, o AIAF 2014 tem o objetivo de reposicionar a Agricultura Familiar no centro das políticas agrícolas, ambientais, econômicas e sociais nas agendas nacional e internacional, identificando maneiras eficientes de apoio, para que toda pessoa tenha direito igual a um conjunto mais extenso de liberdades fundamentais.

Em tempo:

FAPER RECEBE HOMENAGEM NO PARLAMENTO CATARINENSE

  No dia 21 de maio de 2014, a Faper e outras entidades ligadas à Agricultura Familiar, entre elas a Epagri, foram homenageadas pela Assembleia Legislativa de Santa Catarina (ALESC) por proposição do Deputado Dirceu Dresch. Esse evento faz parte das comemorações do Ano [2014] Internacional da Agricultura Familiar, declarado pela Assembleia Geral da ONU.

  A homenagem é um reconhecimento da ALESC pela forma como a Faper vem colaborando na luta por direitos e na formulação de políticas públicas em benefício dos Agricultores Familiares de Santa Catarina. A Faper foi representada pelo seu Coordenador de Políticas Institucionais, Álvaro Simon.

  A diretoria da Faper considera que esse é um prêmio de todos trabalhadores da pesquisa e extensão rural catarinense e suas organizações, que se dedicam àqueles que mais necessitam.


Publicado pela Tribuna Independente, Maceió/Alagoas


[1] Engenheiro Agrônomo, Doutor Interdisciplinar em Ciências Humanas, Coordenador Regional Sul da FASER. Analista de Pesquisa e Extensão Rural da EPAGRI /CEPA. simonlagoa@gmail.com
[2] Engenheiro Agrônomo, mestre em Desenvolvimento Sustentável, membro da Academia Brasileira de Extensão Rural/ABER, extensionista da EMATER/CARHP, professor da Universidade Estadual de Alagoas/UNEAL               
                              

domingo, 13 de abril de 2014

Tanto APANHA como DÃO neles!

Marcos Antonio Dantas de Oliveira

  Cada vez mais, os agricultores e extrativistas familiares, os povos e comunidades tradicionais são acossados pelos príncipes, pelos que dão conselhos e pelos que dão ordens, estão expostos assim a um ato [im]perfeito - trocas de seus produtos [produzidos ou coletados] por quinquilharias de terceiros; tal qual a invasão portuguesa e espanhola nas Américas do século XVI, por exemplo; e agora pela troca de sua mais-valia por produtos globalizados de baixa qualidade, manufaturados ou industrializados, feitos em regime de servidão consentida ou até mesmo de escravidão - http://blogdosakamoto.blogosfera.uol.com.br/2014/04/15/justica-considera-zara-responsavel-por-caso-de-trabalho-analogo-ao-escravo/

  É uma batalha penosa que cotidianamente busca exaurir a energia vibrante dessas categorias e tantas outras enfraquecidas pelo não exercício dos princípios ecológicos propostos por Capra [interdependência, parceria, cooperação, diversidade, flexibilidade, reciclagem, fluxo cíclico da natureza]; e pelo não exercício das liberdades fundamentais e da cidadania igual, dificulta-lhes usufruir dos benefícios de toda geração da riqueza privada e pública, local e globalmente. 

  E confirma-se a penúria pelo não acesso e usufruto aos bens primários [segundo Rawls: autoestima, inteligência, imaginação, saúde e vigor, oportunidades, renda, riqueza, liberdades, direitos]; e continua Rawls, “os bens primários são presentemente definidos pela necessidade das pessoas em razão de sua condição de cidadãos livres e iguais e de membros normais e plenos da sociedade durante toda a vida”, do Bem-estar.

 No Brasil, a maioria dos agricultores e extrativistas familiares são minifundiários [3.366.897 imóveis com até um [01] módulo fiscal - maior módulo fiscal é 110 hectares]. E 110 hectares é a área per capita dos indígenas, eles são quase um 01 milhão; portanto, eles também são minifundiários. Essas categorias têm rendas são precárias e instáveis - 73% tem renda de até dois 02 salários mínimos. Ademais, quem ganha até 02 SM, paga 54% de impostos. E ainda lutam para serem cidadãos livres e iguais.

  E mais, o Brasil deixa escorrer pelo ralo da corrupção, R$ 70 bilhões, e de ganhar R$ 700 bilhões com a informalidade[1]; a alta taxa de informalidade do setor agropecuário e a brutal transferência de renda dessas categorias para os setores: financeiro, comercial, industrial, estatal priva-os do bem-estar. São esmagadoras ferramentas de dominação dos príncipes.

 Mais um dado estarrecedor – Na Universidade, só 38% dos universitários conseguem interpretar um texto – http://www.ecodebate.com.br/.../inaf-no-ensino-superior-38-dos-alunos-n%C3%A3o-sabem-ler. Imagine a precariedade das escolas de educação básica – http://g1.globo.com/fantastico/noticia/2014/03/fantastico-mostra-situacao-precaria-de-escolas-publicas-em-alagoas-em-pernambuco-e-no-maranhao.htmlO estado de Alagoas possui pior educação do país, aponta IDEB.

 E fechar escolas rurais, é privar, principalmente, as crianças do acesso e do usufruto dos bens primários [proposto por Rawls]: http://www1.folha.uol.com.br/educacao/2014/03/1420332-pais-fecha-oito-escolas-por-dia-na-zona-rural.shtml

  É as crianças, a categoria mais importante da sociedade, pois é a partir delas que as mudanças acontecem e viram rotina; elas ainda morrem por não lavarem as mãos, principalmente no Nordeste brasileiro – Enquanto, no Brasil, o desperdício de água e energia e na agricultura por problema de logística chega a R$ 13 bilhões, 15 bilhões e 2,7bilhões, respectivamente – E 26,3 milhões de toneladas de alimentos que vão para o lixo[2]. Não obstante, a grande maioria das crianças está em insegurança alimentar e nutricional; são analfabetas e pobres; e àquelas que conseguem sobreviver estão sujeitas ao trabalho e prostituição infantil – Uma afronta ao cumprimento do ECA.  

  Então, o agricultor e o extrativista familiares têm dificuldades para fazer a sucessão familiar em razão da condição minifundiária, da insegurança jurídica de muitos, da baixíssima escolaridade, da renda precária e instável, do abandono das crianças pelo Estado e Sociedade, por exemplo. E mais, o serviço de extensão rural estatal e não estatal, via de regra, é ineficaz; não tem efetivado as políticas públicas: distributivas, redistributivas e reguladoras, pois elas estão ancoradas em políticas e ações dos príncipes de plantão, e não em políticas públicas de Estado. Aliás, a zona rural também não consegue atrair jovens citadinos para empreender na atividade agropecuária; e o campo alagoano está entregue às moscas, conforme dito popular. É aguda a ineficácia do serviço realizado pela EMATER/AL.

  Realizado em Foz do Iguaçu [Paraná, abril de 2014], o Fórum Internacional de Agricultura Familiar debateu as iniciativas de cooperação entre os países sul-americanos e do caribe, e a cooperação Sul-Sul, com a presença do pessoal da FAO, MDA, ASBRAER, FASER, ABER, de técnicos da Bolívia, Peru, Uruguai, Argentina, México, etc, e de entidades que representam o segmento da agricultura familiar para reduzir a pobreza através do serviço de pesquisa e extensão rural desses países; e o debate continuará.

E na contramão, no estado de Alagoas, TEO VILELA, o Governador, revela seu desprezo pelo Bem-estar dos agricultores e extrativistas familiares, dos povos e comunidades tradicionais, principalmente das crianças e adolescentes, demitiu agora no começo de ABRIL [sem pagar a devida rescisão do contrato de trabalho], mais de 400 empregados públicos da CARHP [empresa que incorpora a EMATER, a EPEAL, o IDERAL, o IMA, por exemplo, que pesquisa, orienta, fiscaliza a atividade agropecuária]; argumentando de que essa demissão em massa era para atender ao aumento solicitado pelos agentes penitenciários.

  Um acordo pessoal entre TEO VILELA e esses agentes; acordo que joga no lixo os princípios da Administração pública: impessoalidade, moralidade, legalidade, publicização e eficiência. Enquanto isso, Tribunal de Justiça rateia R$ 18,5 milhões entre 140 juízes e desembargadores[3]; e tem aumento do duodécimo para 2014 de 14,28% [4]. Estado deixa de arrecadar R$ 51 milhões das usinas; e usineiros contribuem com 2,5% do ICMS[5]. Um completo descaso com os outros contribuintes. Nesse Estado não falta dinheiro para alavancar o desenvolvimento e Bem-estar, falta o exercício de cidadania.

  E para romper sua penúria social os brasileiros, os agricultores e extrativistas familiares, os povos e comunidades tradicionais, precisam discutir, votar e fiscalizar a atuação dos príncipes, dos que dão conselhos e dos que dão ordens. E como cidadãos livres e iguais, vamos cobrar do governador de Alagoas, TEO VILELA, uma nova audiência [pois, a do dia 10 próximo passado foi cancelada pelo governador] para tratar da penosidade social dos agricultores e extrativistas familiares, povos e comunidades tradicionais e da demissão dos servidores da CARHP.


Publicado pela Tribuna Independente, Maceió/Alagoas
[1] Correio braziliense, 25 de agosto de 2013
[2] Correio braziliense, 25 de agosto de 2013
[3] www.extra.com.br/noticias/12476/extra-online/2014/01/31/tj/rateia
[4] Gazeta de Alagoas, 17 de setembro de 2013
[5] www.extra.com.br/noticias/11425/alagoas/2013/10/17/estado-deixa-de-arrecadar-

domingo, 9 de março de 2014

LIVRES e iguais

    Marcos Antonio Dantas de Oliveira

 É um processo natural ou artificial, inacabado ou inacabável, que acontece no campo e na cidade, ora confirmando, ora alterando os estilos de vida de seus moradores: liberta, envolve, desdobra, cultiva, preserva, distribui, absorve, dialoga, politiza, felicita e comunica-se com a unidade e a diversidade, ora nas relações de si para si, com os homens, com a natureza e com o mundo pela dialética e pela ética de indivíduos e pontos de vista diferentes.

 Dito isso, exige-se para o debate: argumentos e mediações de idéias, estratégias e responsabilidades; assim, é possível construir ritos de passagem que devem ter [e ser] uma dimensão virtuosa tal qual foi à invenção da agricultura e da revolução industrial para as sociedades daquelas épocas, e da abertura dos portos, em 1808, à vida da então colônia e dos brasileiros.

 “Somos amantes da beleza sem extravagâncias e amantes da filosofia sem indolência. Usamos a riqueza mais como uma oportunidade para agir que como um motivo de vanglória; entre nós não há vergonha na pobreza, mas a maior vergonha é não fazer o possível para evitá-la. Ver-se-á em uma mesma pessoa ao mesmo tempo o interesse em atividades privadas e públicas, e em outros entre nós que dão atenção principalmente aos negócios não se verá falta de discernimento em assuntos políticos, pois olhamos o homem alheio às atividades públicas não como alguém que cuida apenas de seus próprios interesses, mas como um inútil; nós cidadãos atenienses, decidimos as questões públicas por nós mesmos, ou pelo menos nos esforçamos por compreendê-las claramente, na crença de que não é o debate que é o empecilho à ação, e sim o fato de não se estar esclarecido pelo debate antes de chegar a hora da ação” [Cícero em: A Oração Fúnebre].

 E o desenvolvimento rural sustentável como processo multidimensional, dialético e libertador: requer ruptura e limitação, ordenamento e envolvimento, pensar e agir. É a política o instrumento de compromisso e controle social do processo econômico, patrimonial e ecológico capaz de traçar os princípios de justiça como equidade, com base na posição original do indivíduo na sociedade e adotada por todos sem qualquer distinção, sob a perspectiva de melhorar a vida, no presente, dos que moram no campo – pequenos comerciantes, trabalhadores de aluguel, agricultores e extrativistas familiares, povos e comunidades tradicionais: assegurando-lhes autonomia na escolha de seus planos de vida.
 E não mais o modo de produção dominante, que no seu dia a dia é incapaz de assegurar a existência de condições de vida digna aos rurícolas face à precariedade da renda e moradia, da baixa produtividade da terra e da mão de obra, da má qualidade da alimentação e do lazer, como por serviços essenciais ineficazes; ora por políticas públicas [distributivas, redistributivas e reguladoras] clientelistas que solapam seus interesses, depois de ter destruído o campesinato e boa parte dos artesãos urbanos, desertificado regiões inteiras, apelado para o exército de reserva de trabalhadores rurais e imigrantes; torna relevante a tirania: da informação, mídia, dinheiro e corrupção.

 E tem criado grandes aglomerações citadinas e pequenas aglomerações rurais, desumanas e inadministráveis que condenam milhões de trabalhadores ao sobretrabalho, subemprego e ao desemprego, marginaliza-os, e agrava as relações culturais e familiares, principalmente em relação às crianças, adolescentes e mulheres – http://www.ecodebate.com.br/2014/03/05/as-desigualdades-de-genero-na-america-latina-e-caribe-artigo-de-jose-eustaquio-diniz-alves/
 E para diminuir esse processo de mercadorização crescente [tudo está à venda]: dos recursos naturais às pessoas; as gerações presentes e futuras [famílias, empresas, escolas, movimentos sociais e ambientais] devem alfabetizar-se em princípios ecológicos [interdependência, diversidade, reclicagem, cooperação e flexibilidade (CAPRA, 2002)] em proveito de estilos de vida interdependentes. Esses princípios são realidades em sociedades autóctones e tradicionais, onde as trocas desiguais econômicas e ecológicas inexistem.

 Ademais, a pesquisa agropecuária e a extensão rural, em geral, no país  por ser um serviço precário, ineficaz, não promove nem os princípios ecológicos propostos por Capra, nem o Bem-estar aos usuários e a sociedade baseado no acesso no usufruto dos bens primários são vitais [segundo Rawls (2002) são eles: autoestima, inteligência, imaginação, saúde e vigor, oportunidades, renda, riqueza, liberdades, direitos].

 Em Alagoas, a EMATER [apesar de se denominar: Instituto de Inovação para o Desenvolvimento Rural Sustentável de Alagoas] realiza um serviço surreal! A EMATER, não tem sido uma ferramenta para a construção de tipos de desenvolvimento rural sustentável, para ajudar os agricultores e extrativistas familiares, os povos e comunidades tradicionais e outros rurícolas, principalmente os jovens rurais e suas famílias descentralizarem decisões e institucionalizarem a igualdade democrática nos diversos territórios, para gozarem de vida digna e de felicidade

 E TEO VILELA, o governador de Alagoas, segue esse raciocínio surreal, pois, continua demitindo, os servidores da CARHP[1], sem pagar o que lhes é devido [inclusive, o FGTS], principalmente os da EMATER e da ADEAL, confirmando seu desprezo pelo Bem-estar dos agricultores e extrativistas familiares, dos povos e comunidades tradicionais e suas famílias, e da sociedade em geral. Acesse o link abaixo: questionário que avaliou a opinião de eleitores quanto à aprovação de 27 governadores, e confirme: TEO VILELA é péssimo governante –  http://noticias.uol.com.br/infograficos/2013/12/13/pesquisa-cni-ibope.htm

 Em Alagoas, é necessário que o serviço da EMATER seja eficaz [com profissionais concursados e não de bolsitas (que pela alta rotatividade da mão de obra, configura-se num desperdício do dinheiro do contribuinte, há mais de 03 anos), e com servidores da CARHP – Emprego para mais velhos é o que mais cresce no país: http://www1.folha.uol.com.br/mercado/2014/02/1409503-emprego-para-mais-velhos-e-o-que-mais-cresce-no-pais.shtml].

 Ademais, TEO VILELA propagandeia os Objetivos de Desenvolvimento do Milênio [http://www.pnud.org.br/ODM.aspx], enquanto dezesseis dezenas de pessoas morreram por falta de água tratada [http://noticias.uol.com.br/cotidiano/ultimas-noticias/2013/12/05/apos-165-mortes-por-diarreia-policia-investigara-qualidade-da-agua-fornecida-a-sertanejos-em-al.htm]; e continua propagandeando os benefícios futuro do Canal do Sertão – um despautério com o dinheiro público.

 TEO VILELA gaste investindo na EMATER, no seu atual quadro de servidores, em concurso público, em capacitação para promover na esfera pública o debate sobre Bem-Estar dos agricultores e extrativistas familiares, dos povos e comunidades tradicionais, dos jovens rurais, que necessitam de um serviço de Extensão Rural de qualidade. A Extensão Rural é um serviço da sociedade alagoana e brasileira.

 “Alagoas detém uma perversa concentração de renda: a maior parte das riquezas está nas mãos de apenas 12 famílias” [3], enquanto “tem 1,67 milhão de pessoas pobres e miseráveis” [4], entre elas, os jovens rurais os agricultores e extrativistas familiares e outros rurícolas. Não obstante, livre entre iguais está vis-à-vis ao discurso do governador TEO VILELA [2]: “Governar é promover o bem comum":

 “A esfera pública, é o lugar do exercício da individualidade dos cidadãos, onde revelam suas identidades e podem conseguir a realização pessoal ao tratarem dos negócios coletivos”[Cardoso Júnior em Hannah Arendt, 2007]. E o tirocínio escolar é vital para o exercício de direitos e deveres; no entanto, o abandono aos moradores rurais-contribuintes é exuberante, a começar pelo fechamento de escolas – http://noticias.terra.com.br/brasil/cidades/sem-incentivos-8-escolas-sao-fechadas-por-dia-na-zona-rural,62d73c93f8784410VgnVCM3000009af154d0RCRD.html

 Aliás, na esfera pública, com cidadãos livres e iguais, é necessário: indagar, planejar, executar e corrigir atitudes, práticas e políticas sobre a riqueza privada e a pública: do uso, conservação e preservação dos potenciais ecológicos [da terra, água, variabilidade genética à beleza estética] às manifestações culturais [do patrimônio imaterial ao afeto]; da arrecadação e distribuição dos tributos [justiça social] ao projeto pedagógico de educação à vida digna.



Publicado pela Tribuna Independente, Maceió/Alagoas


[1] CARHP - Companhia de Administração de Recursos Humanos e Patrimoniais

[2] Primeira Edição, 03-09/01/2011

[3] Extra, 20/01/2011
[4] Gazeta de Alagoas, 13/02/2011