quarta-feira, 30 de dezembro de 2020

Da mão pra boca

     Marcos Antonio Dantas de Oliveira[1]

  Uma vida de dificuldades – https://agenciadenoticias.ibge.gov.br/agencia-noticias/2012-agencia-de-noticias/noticias/29724-atlas-do-espaco-rural-retrata-diversidade-e-desigualdade-do-campo-brasileiro?fbclid=IwAR15cd_VwNwiYQjqQdA-_Z3aaBSCFPdf6oSTxMUFI8Tqp47AMCn-r96i1s0

  Sobretudo, porque os beneficiários da Lei 11.326/2006 não usufruem dos bens primários: individualidade, liberdade, posse, confiança e felicidade (OLIVEIRA, 2010); eles sobrevivem a uma contínua violação do Estado de Direito. Esse mal-estar é agravado pelo Estado patrimonialista – ora pelos interesses privados de seus agentes e pelos interesses públicos dos agentes privados – e pela insegurança jurídica; pelo alto imposto regressivo e a malversação do dinheiro público pelos governantes e suas bem-sucedidas políticas públicas clientelistas; e pelos poucos indivíduos que usufruem da espoliação legal como da ilegal, enquanto muitos outros sobrevivem em espaços informais e ilegais, a esse estado de espoliação, ilegal e legal – em Alagoas:  31 mil crianças e adolescentes são explorados pelo tráfico de drogas, pela prostituição infantil (IBGE). A agricultura é o setor que mais usa menores: mais de 50% (Gazeta de Alagoas,19/04/2019) – https://www.ecodebate.com.br/2020/12/18/em-2019-havia-18-milhao-de-criancas-em-situacao-de-trabalho-infantil-no-pais/

  Vale ressaltar que, o alto número de analfabetos entre esses beneficiários; o elevado nível de descapitalização e endividamento bancário; o uso de tecnologia de baixa produtividade; sua visão sem prazo, bem como a de curto prazo dos planejadores, tanto estatais como da iniciativa privada; e, sobretudo, pelo caráter político-ideológico da Lei 11.326, uma espoliação legal, que contamina o entendimento sobre a agricultura familiar como atividade econômica geradora de empregos, rendas e de consumo de bens e serviços, prosperidade e bem-estar; de certo modo, liberto, mas não livre para pensar, dialogar e agir também nos assuntos públicos, em Arendt (2018) – “liberdade para ser livre”!

  De igual modo, àqueles afetados por uma Reforma Agrária pífia, que, por não levar em consideração o módulo rural [Estatuto da Terra] e a composição familiar como critérios de acesso à terra, são expulsos mais uma vez do lugar rural, pois não há como prosperar devido suas precárias condições de vida; as políticas públicas clientelistas; a insuficiência de dinheiro para custeio e investimento em recursos tecnológicos e humanos; e a ineficiência do serviço de pesquisa agropecuária e extensão rural, estatal e privado, principalmente no Norte e Nordeste, comprometem o uso e a reposição dos bens de capital. É fato. Os agricultores, estão entre dezenas de milhões de pessoas que ganham até 3 salários mínimos. Embora, sejam os responsáveis por 53,79% dos impostos arrecadados pelo governo, pagam muito e recebem pouco. E por estarem descapitalizados não agregam valor aos produtos, naturais e beneficiados. A Emater/AL, é um exemplo de ineficiência de uso desse imposto pago pela sociedade e pelos agricultores em detrimento do mau uso pelo governo e pela apatia da sociedade em fiscalizá-lo.

  É  comum: pela renda (em geral, abaixo de um salário mínimo), e pela maioria analfabeta, que esses beneficiários e os jovens rurais não comprem com frequência a tecnologia de informação e comunicação (TIC), por exemplo, o uso da inovação: computador-internet-dispositivos móveis de banda larga; por isso, usa-a, pouco. Tampouco, não há, quase, nenhuma ação desses beneficiários e suas representações em prol de um serviço de pesquisa agropecuária e extensão rural de qualidade. Essas causas repercutem negativamente na sua capacidade organizacional reduzindo suas habilidades e competências para planejar e gerenciar – recursos, processos e tomadas de decisões –, com eficiência à ideia de negócio; e entregarem os resultados prometidos, econômico e social. 

  Então, problematizar a agricultura, principalmente a agricultura familiar, quando do cultivo agrícola e da resiliência dos ecossistemas sobre a produtividade de todos os fatores; da eficiência da conectividade sobre o planejamento, gestão e ideia de negócio para ofertar bens e serviços de qualidade e certificados aos consumidores. Essa problematização é necessária sob a ótica do trade-off: esforço físico e esforço mental. 

Inexoravelmente, o exercício da individualidade, da liberdade e da posse e o uso da tecnologia liberta-o da espoliação física, tal como da espoliação legal e ilegal.

 

.

.

 

 



[1] Mestre em Desenvolvimento Sustentável, engenheiro agrônomo, professor da Universidade Estadual de Alagoas/UNEAL, membro da Academia Brasileira de Extensão Rural/ABER, diretor do Sindagro., articulista da Tribuna Independente de Maceió/Alagoas, Blog: sabecomquemestafalando.blogspot.com