As mulheres, Maria e Tânia, entre tantas participantes do 1º Encontro Nacional do Movimento de Mulheres Camponesas do Brasil (Brasília, 18 de fevereiro) comentaram [1]: "A terra por si só não serve, porque precisamos de uma infraestrutura que é estrada, energia, água, saúde pública", comenta Maria Cavalcante [assentamento da Reforma Agrária em Alagoas].
Enquanto a ribeirinha Tânia Chantel, do Amazonas, "destaca a importância da reforma agrária e da garantia da titulação da terra para dar segurança a quem retira dela o sustento".
“É perfeitamente possível que as
mulheres tenham descoberto pelo menos um dos dois fundamentos que, há 10 mil
anos, deram início à completa transformação da economia do homem – a
agricultura, o processo deliberado de semear, cuidar, proteger e colher
culturas específicas, domesticando-as através da seleção natural das que melhor
atendiam às necessidades do homem” (JAY, A riqueza do homem, 2000).
Ainda assim, “Mulheres ganham 76%
do salário pago aos homens” [2],
muitas sem renda.
“Mulheres são a maioria entre
jovens fora da escola e do mercado de trabalho” [3].
Esses fatos geram situações em
que as mulheres, em maioria, ainda não são protagonistas na esfera pública
[cidadãs e livres], e na esfera privada [dos desejos materiais e vaidades] do
processo ecológico e social; e nesse sentido, ainda não conseguem deslocar-se
para melhorar suas vidas, principalmente as campesinas - as agricultoras estão
em posição desfavorável no uso e acesso de ativos como terra, gado, maquinário,
insumos, serviços de crédito agrícola, extensão de conhecimentos técnicos e
capacitação, segundo a FAO (Estado Mundial da Agricultura e da Alimentação
2011).
O Banco Mundial "apontou que
as mulheres têm mais probabilidades de ter um trabalho não remunerado do que os
homens, além de maior chance de trabalhar em terrenos menores e em cultivos
menos lucrativos e de dirigir empresas menores e setores com menos
remuneração" [4].
Como reformar o ambiente social
rural se a remuneração da agricultora é pequena e instável, muito menor do que
um salário mínimo? No Brasil, a agricultura remunera com até um salário mínimo,
os estabelecimentos com área inferior a 50 ha; no Nordeste, são 94% com área
inferior a 100 ha e geram até um salário mínimo (ALVES et al., 2006); e mais precária
e instável em Alagoas, 82% deles têm até 10 ha.
Por que a jornada ampliada das
mulheres para cuidar dos afazeres domésticos, da labuta na lavoura e na
criação, de doméstica em lares de terceiros [emprego em baixa, mas pela
escassez há valorização da remuneração], e principalmente em cuidar da família
[numa rotina de 14 horas diária]; e que muitas vezes esquece de si mesma. Que
tal a sociedade e o estado entenderem sua importância e lhes dar direito a
receber uma renda não produtiva, como política pública de bem-estar. Que tal
Renda da Cidadania?
Desta forma, tornam-se mais
dependentes do clientelismo, de viés autoritário e patrimonialista no arranjo e
no ambiente institucional brasileiro; no que reforça DaMatta, em Carnavais,
Malandros e Heróis: “Cada qual busca sempre estar no lugar social adequado, o
que significa que o princípio da hierarquia é sempre aplicado, pois o maior
temor social no Brasil é o estar fora de lugar, estar deslocado”.
Assim, as lógicas familiares:
terra e água, trabalho, e família das agricultoras, extrativistas, povos e
comunidades tradicionais suas famílias e outros rurícolas são afetados pela
satisfação consumista que exige dessas categorias a compra de produtos que não
querem com o dinheiro que não têm; todos ao crédito da usura [ora pelo cartão
de crédito, pelo carnê, pelo crédito pessoal e consignado, e outras formas de
transferir rendas, inclusive pela utilização do trabalho infanto-juvenil de
seus filhos].
Além disso, transferem suas
mais-valias, suas precárias e instáveis rendas aos setores econômicos:
industrial, comercial, financeiro [e ao estatal], bem como aos consumidores de
seus produtos e serviços, aumentando a desigualdade [no mundo do ter], anulando
a igualdade política [no mundo do estar] e privando-os das liberdades [no mundo
do ser]. Na economia não existe almoço grátis, afirma Milton Friedman [Prêmio
Nobel de Economia].
A partir dessa desestrutura, aniquila-se
a cooperação, a diversidade e a interdependência, elementos vitais do discurso
e prática libertadora, porque o governo desestimula a participação política em
decisões que envolvem escolhas de benefícios e encargos da cooperação social, e
a potencialização de ações para o bem-estar com todos, pela baixa participação
dessas categorias na esfera pública.
Agricultora e extrativista
familiares, a dialética, a cidadania igual e a liberdade individual são motores
que tornam realidade os artigos da Constituição Federal; sobretudo por operar,
avaliar e corrigir as políticas públicas distributivas, redistributivas e
reguladoras, e nesse sentido, manter a lógica familiar sustentável: econômica,
social, ecológica, política e patrimonial em seus lugares de origem, aprendendo
a ser e a viver junto com vida digna.
Por isso, "não se esqueçam
das mulheres no novo contexto legislativo, caso contrário elas também se
rebelarão", redigia Abigail Adams a seu marido John Adams em 1776 [futuro
presidente dos Estados Unidos da América].
Então, quem faz a história: a
agricultora Rainha do lar, o marido agricultor Plebeu, a Rica rainha do lar, o
Capitalista marido plebeu?
Bravo! Marcos
ResponderExcluirParabéns mulheres pelo encontro. lúcia
ResponderExcluirImportante frisar o trabalho não remunerado das mulheres,um caos na vida familiar. oto
ResponderExcluirA reforma agrária continua importante para essas famílias. Toninho
ResponderExcluirO que chama atenção é a jornada ampliada, que para o estado e a sociedade continua invisível. Vanessa
ResponderExcluirCaro Marcos
ResponderExcluirPresente no Primeiro Encontro do Movimento das Mulheres Camponesas, além da vibração e o grito de mudança do movimento, tb as palavras da presidente Dilma que até lembrou do cooperativismo.
Kleber.
É a jornada ampliada um desgaste e tanto para as mulheres. Paula
ResponderExcluirParabéns pelo texto. Vera
ResponderExcluirNós também temos algumas Abigail. Gabi
ResponderExcluirTexto e comentários oportunos. Paulo
ResponderExcluirA jornada ampliada, em geral não remunerada, é um dos desafios dessas mulheres. Davi
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