Marcos Antonio Dantas de Oliveira
O homem e a mulher migram em busca de alimento, abrigo, vestuário e sexo em novos lugares, por isso migrar continua sendo uma condição importante para garantir-lhes à vida, primeiro como espécie; segundo para assegurar-lhes conforto material e espiritual [qualidade de vida]. Encantado!
Há 10 mil anos, iniciava-se a domesticação de plantas e animais por mulheres e homens, agora sedentários, a produção aumentava e estimulava o crescimento demográfico, novas crenças e valores eram estabelecidos; a partir desse novo modo de vida, agora assentados, está posta às condições para a exploração e apropriação da mão de obra, dos recursos e serviços naturais e dos tributos gerando riquezas, novos assentamentos humanos e posições sociais, mas também cidades desumanas e indivíduos em indigência e pobreza: “o crescimento da dívida de Alagoas está diretamente ligado à deterioração da qualidade de vida dos alagoanos” (Gazeta de Alagoas, 2009). Indignado!
Esse deslocamento migratório de indivíduos é saudável, pois dinamizam as regiões com sua mão de obra, renda, rituais, ritos, crença e valores, e produzem processos sociais [conflito, competição, cooperação, mediação, aliança, legitimação e poder], riquezas e barreiras, em especial as culturais. Face à facilidade de deslocar-se, uma grande massa de pessoas [maioria agricultores e extrativistas familiares] em condição de penúria move-se em direção à cidade – êxodo rural –, favelizando-as em busca de empregos e rendas mesmos indecentes e ilegais; essa crescente degenerescência do tecido social beira o caos.
Ora pela ausência de condições mínimas econômicas e lazer, o campo tem contribuído para aumentar a expulsão de contingentes populacionais, e os jovens são os mais atingidos – E o Censo Populacional de 2007, confirma, a cidade de Maceió tem 896.067 mil pessoas, mais gente do que a zona rural do Estado com 854.089. Denunciando assim a ineficácia das políticas públicas de permanência do homem, da mulher e de seus filhos no campo: da produção ao patrimônio imaterial salvaguardado; do consumo à renda produtiva; do planejamento familiar à renda não produtiva, e entre essas tantas: o ineficiente serviço de pesquisa agropecuária e extensão rural.
Então, enquanto espaço de vida e sociabilidade, os rurícolas, os extrativistas e os agricultores familiares sofrem com a deficiente infraestrutura de transportes, comunicações e serviços: estradas, internet, saneamento, energia, saúde, educação. E ainda, faltam-lhes motivações e ações para formular, ativar e corrigir essas políticas públicas ora em vigor. E por estarem sob o viés autoritário de certos grupos de interesses que ora comandam as ações de controle e dominação com práticas clientelistas, alimentam a degradação social e da natureza, e assim revelam as razões do baixo IDH dos municípios alagoanos.
Nesse sentido, esse modo de operar repercute ainda mais negativamente nos assentamentos rurais face à fragilidade de suas instituições - agentes sociais e econômicos, e movimentos sociais - dificultando saídas; em verdade os processos sociais que emergem dessa sociedade, de suas estruturas sociais em seu cotidiano mostram novos problemas: do relacionado aos movimentos associativistas e ecológicos à expansão dos direitos e deveres legais do agricultor e do extrativista familiar, sob o viés da distribuição da riqueza privada e pública [propriedade privada, PIB, recursos naturais, impostos...].
É a pouca riqueza privada, a dificuldade de acesso a riqueza pública, o difícil exercício da dialética, da cidadania igual, sobretudo, da liberdade individual na esfera pública os verdadeiros problemas dos rurícolas para melhorar sua incômoda posição social [sob o viés consumista], e não o seu modo de ser: matuto, capial, jeca e outros adjetivos pejorativos usados vigorosamente, e em geral, pelos citadinos, letrados, ricos...
Aliás, no lugar rural – há uma tradição citadina inculcada nesse modo de vida, o consumo superflúo – o pertencimento a diversos grupos sociais e interesses forja um ambiente de muita controvérsia: do acesso à informação a sua capacidade de exercer influência uns sobre os outros, inclusive na relação rural/citadina; e por sua natureza: instável, dinâmica e processual, a dialética [argumentações, mediações e consensos], tanto entre o rurícola e o citadino, como no meio deles, para aceitarem e adotarem a negociação e a legitimação de hábitos e representações como ferramentas de apreensão da realidade social e construção de práticas sociais que estabeleçam identidades e alianças para a permanência e ou migração.
Aliás, parece não ser mais possível identificar um agricultor, um extrativista familiar ou um grupo social demandante nos territórios: rural e da cidadania – gato de estimação recebe R$ 20 em Mato Grosso do Sul do Bolsa Família (Gazeta de Alagoas, 24/jan/2009); e “Trabalho infantil atinge 101 mil em Alagoas” (Tribuna Independente, 14/set/2010). Indignado!
Publicado pelo jornal: Tribuna Independente, Maceió – Alagoas, 2010.
Um texto para ser lido e debatido nesta eleição, Ricardo.
ResponderExcluirConcordo com o autor, o problema do campo é a falta do exercício da cidadania. Lauro
ResponderExcluirExcelente. Rodrigo
ResponderExcluirMe mostro indignada tal qual o autor: chega de trabalho infantil. Ana
ResponderExcluirEstou divulgando esse excelente texto. Carla
ResponderExcluirPela pouca riqueza privada e pelo pouco acesso a riqueza pública, é Alagoas, um estado em degradação do tecido social. Valdemar
ResponderExcluirEncantado pelo texto. Fernando
ResponderExcluirMinha indignação aumentou. Rui
ResponderExcluirEncantada. Alice
ResponderExcluirEncantada com o texto. Marluce
ResponderExcluirSeu texto me deixou ora encantado com as possiblidades de melhorar a vida do rurícola; ora indignado por ainda não ter participado ativamente deste processo. Diogo
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