sexta-feira, 31 de março de 2023

O indivíduo e sua preferência temporal

 Marcos Antonio Dantas de Oliveira[1]

É oportuno citar Thomas Malthus, 1798, Ensaio sobre o Princípio da População – ”Num mundo já ocupado, se sua família não possui meios de alimentá-lo ou se a sociedade não tem necessidade de seu trabalho, esse homem, repito, não tem o menor direito de reclamar uma porção qualquer de alimento: está em demasia na terra. No grande banquete da natureza, não há lugar para ele. A natureza lhe ordena que se vá e ela mesma não tardará a colocar essa ordem em execução...”. E Paul Ehrich, 1968, A bomba populacional: uma previsão catastrófica – "Precisamos diminuir a população do mundo, ou vamos chegar ao colapso da população global. Não é possível ter sustentabilidade com aumento da população" – a fome estava na avenida – o caos.

As previsões catastróficas de Malthus, século XVIII, e de Ehrich, século XX, por certo, foram superadas pela relevância, magnitude e genialidade de Adam Smith, Thomas NewcomenRichard Arkwright, James Watt, Richard Trevithick, Thomas Edison, Samuel Morse, Graham Bell, irmãos Wright, Santos Dumont, George Charles Devol Jr, Paul Baran, Tim Berners-Lee e tantos outros que oportunizaram aos empreendedores, empresários, poupadores, investidores e consumidores impulsionarem as revoluções industriais, nos séculos XVIII, XIX, XX e XXI; que, via de regra, pelo uso contínuo de inovações e tecnologias na produção incrementaram à produtividade de todos os fatores, à reposição dos bens de capital, à divisão do trabalho com avanços nos direitos e deveres trabalhistas e políticos, o livre mercado e o consumo de bens e serviços geraram poupança, investimento, prosperidade e bem-estar, e alavancou a expectativa e a perspectiva de vida. 

No Brasil em 1975 (criação da Embrapa, 1973, e Embrater, 1974), a produção de grãos era de 40 milhões de toneladas, um importador de alimentos, no Brasil de hoje, produz mais de 300 milhões de toneladas de grãos, tornou-se um exportador de alimentos  E como disse o Agrônomo Norman Borlaug, prêmio Nobel da Paz,1970, sobre o êxito da revolução verde – “uma coisa é eficiência agrícola, a outra é justiça social”. O problema é de distribuição e não de oferta de alimentos – a fome agora está num beco sem saída. É possível pela engenhosidade do pesquisador e do extensionista do serviço de Extensão Rural estatal, agora com uma ATER 4.0, que o agricultor pode impulsionar sua atividade ao obedecer o Código Florestal e ser  eficiente no planejamento e na gestão e eficaz nos resultados desejados, bem como avançar num dieta alimentar e nutricional, quantitativa e qualitativa, e assim, pode prosperar, poupar e investir em seu bem viver, escolhendo suas preferências temporais, individual e coletiva.

Entretanto, via de regra, na maioria dos estados, hoje, o serviço de assistência técnica e extensão rural estatal é caro e ineficiente, e que potencializa-se pela ausência de um sistema nacional de extensão rural (que capta, capacita, gerencia, avalia os recursos disponíveis e propõe metodologias e politicas públicas para aplicá-los com eficiência) e o serviço privado de assistência técnica, também deixa a desejar, de tal modo, que repercutem negativamente nos resultados que apresentam, ora pelo baixo número de agricultores atendidos, por exemplo, em práticas que incrementem à conservação do solo e da água, e da produtividade de todos os fatores; da reposição de bens de capital; da eficiência no uso da mão de obra e da gestão financeira e econômica; e da eficácia em ofertar produtos e serviços qualidade, funcionais, convenientes, certificados, confiáveis e a preços de mercado  uma troca pacífica. E a pouca a fiscalização do CREA repercute nas atividades agropecuárias, tal como na não contratação do engenheiro agrônomo e de outros profissionais em que seus conselhos pouco fiscalizam o exercício profissional – "Enquanto for assim, estaremos igualmente observando propostas irrealizáveis e até ações governamentais ilógicas ou erroneamente fundamentadas", afirma  Navarro. 

E os agricultores familiares como geradores de riqueza e consumidores pagam muitos impostos, ora pelo seu apático exercício de individualidade e sua pela fragilidade política e de suas representações nos espaços públicos e privados precarizam seu modo de vida: social, econômico e ecológico pelo não retorno destes impostos pagos. Nesse mundo globalizado é onipresente a interação computador-internet-dispositivo móvel de banda larga, todavia, esses geradores e consumidores permanecem com dificuldades de acesso às TICs, à segurança jurídica e pública; aos serviços de saúde e educação têm pouco acesso aos meios de produção, o que resulta numa renda baixa, a grande maioria dos 3,9 milhões de agricultores familiares têm renda média de meio salário mínimo, logo, não os permitem prosperar e usufruir de bem-estar – em êxodo os jovens, pelo insucesso ou a interrupção na sucessão familiar, e a consequente masculinização do campo, e de idosos em viés de alta na atividade agrícola, compromete suas preferências temporais – Visite um caso de sucesso, a EPAGRI – https://www.epagri.sc.gov.br/    

É fato, a precarização da vida dos agricultores e dos extensionistas e seus baixos salários, em geral (e de suas representações), é enormemente afetada enquanto consumidores; é acentuada pela ineficiência de governo [municipal, estadual, distrital e federal] e dos stakeholders em empregar o poder do chefe “a troca como meio de “controle ou influência tendo por base recursos materiais e recompensas na forma de remuneração pelo recebimento de algum tipo de contribuição” (Bernardes). A tal "ética" de compadrio para burlar tantos os direitos como deveres dos envolvidos numa realidade ampliada.

Pois não é assegurado aos agricultores familiares o acesso e uso dos recursos naturais, tributos, bens de capital e lucro em suas unidades: familiar, produtiva e social na bacia hidrográfica, se não participarem, inclusive com suas representações das audiências públicas (é um lugar para todos os entes da sociedade) do PPA, LDO e LOA, federal, distrital, estadual e municipal, de acompanharem e avaliarem às discussões e os resultados destas, não construíram uma visão de futuro, um propósito de vida baseado no Desenvolvimento sustentável: “processo, conflitos e alianças, que compartilhado em redes multidimensionais pelos indivíduos em pleno Estado de Direito, utilizam a capacidade organizacional, a ideia de negócio, para preservar e usar os fatores de produção e os tributos, transformando-os em bens e serviços, proposta de valor, do autoconsumo ao mercado para suprir as necessidades e desejos, a expectativa de vida, pelo usufruto dos bens inalienáveis – individualidade, liberdade, propriedade, confiança e felicidade – o Estado da Arte”, argumenta Oliveira.

E afirma Bastiat: “se cada homem tem o direito de defender – até mesmo pela força – sua pessoa, sua liberdade e sua propriedade, então os demais homens têm o direito de se concertarem, de se entenderem e de organizarem uma força comum para proteger constantemente esse direito”. Indubitavelmente, falta-nos líderes que organizem a lei e o governo. E diz Bernardes, líder é aquele que faz o “controle ou influência sobre o comportamento de outros para a promoção de metas coletivas, com base em alguma forma verificável de consentimento destes outros em razão de estarem informados dessa situação”. Essa era das máquinas potencializa o indivíduo que baseado em seus julgamentos de valor pensa, dialoga e age para realizar alianças abrindo mão voluntariamente de suas preferências temporais, individual e coletiva, para afiançar, uma ordem ampliada, uma regra para o bem viver do indivíduo e sua criação, a sociedade.



1 Mestre em Desenvolvimento Sustentável, Engenheiro Agrônomo, professor da Universidade Estadual de Alagoas/UNEAL, membro da Academia Brasileira de Extensão Rural/ABER, articulista da Tribuna Independente/Alagoas, Blog: sabecomquemestafalando.blogspot.com 

8 comentários:

  1. Grande amigo Marcos. É gratificante ver um grande cidadão empenhado em difundir informações técnicas e sociais ao público alagoano. Parabéns, Marcos!

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  2. Belos, objetivos, conscientes e esclarecedores os seus textos. Ainda percebo a importância da extensão fazendo EXTENSÃO. Gonçalves

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  3. Leio com atenção seus artigos, pois eles revelam o desconforto e o conforto de qualquer pessoa para melhorar sua vida. Stella

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  4. Italo Arly Ferreira da Silva22 de junho de 2023 às 13:24

    Vemos que ao decorrer do tempo muita coisa muda e muitos princípios acabam sendo contorcidos dentro desta sociedade, o tempo muda e acaba ocorrendo mudança não so nos indivíduos, mas também na forma como as coisas se dão, um exemplo claro é agricultura onde antes era um bem mais valorizado e eficiente e praticados por pessoas com uma vida bem mais favorecida, hoje a agricultura é praticamente em muitos casos por necessidade, por não ter escolha de algo além, pelo alto valor de mão de obra e a grande dificuldade de ingresso em outros ambientes, salários mais baixos e injustos, os problemas sempre foram presentes, mas nunca podemos dizer que eles foram abolidos, mesmo com todo avançado tecnológico, onde muitas coisas ficaram pra trás, não so coisas como pessoas por não conseguirem acompanhar esse avanço temporal, oque é normal, porém acaba gerando muita desigualdade e injustiças.

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  5. Alcides Braz dos Santos Netto22 de junho de 2023 às 16:04

    O texto inicia citando previsões dos pensadores Thomas Malthus e Paul Ehrich, explicitando seus pensamentos sobre o desenvolvimento sustentável, respectivamente, que, um homem que não consegue prover a si mesmo, nem se prova útil à sociedade, não cabe a este mundo e, que, o aumento o da população mundial iria impossibilitar um futuro sustentável.
    As previsões foram provadas como equivocadas com a vinda da Revolução Industrial e da Globalização, gerando um grande aumento, tanto na produção, quanto na necessidade de mão de obra, permitindo novos avanços tecnológicos e uma melhora qualidade de vida geral mesmo com o grande aumento populacional.
    Porém, na modernidade, a distribuição de recursos e meios de produção são desiguais, gerando um monopólio de recursos para apenas uma pequena parte da população, dificultando a prosperidade de pequenos produtores como agricultores familiares, o que acaba tornando realidade as previsões dos pensadores Malthus e Ehrich, porém de uma maneira natural, pela falta de recursos, mas sim pela desigualdade social e a acumulação de recursos.

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  6. O administrador na agricultura familiar deve planejar todas as operações do negócio, tendo o intuito de conciliar os resultados financeiros à produtividade da lavoura.Pois com o crescimento supervisionado desse negócio não apenas contribui para o desenvolvimento da qualidade e oferta de alimentos o fortalecimento do desenvolvimento regional a partir da geração de renda da região atendida.

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  7. No início do presente artigo vemos o exemplo de coisas que podem ocorrer com o aumento de população, que nos leva a refletir sobre como melhorar a administração de nossos recursos da melhor maneira, não em relação a produção, mas sim na distribuição dos mesmos. e como afirma NAVARRO, enquanto isso continuar estaremos a observar propostas irrealizáveis, ações sem lógica ou fundamentadas em erros que acabam afetando a sustentabilidade. A necessidade de se usar o meio agrícola para sobreviver e a desvalorização que o mesmo passa são muito altas, a presença desses problemas sempre foram presentes, assim como citado, só não foram abolidas por completo.

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