Marcos
Antonio Dantas de Oliveira[1]
Que as forças vivas
da sociedade ao buscarem nos saberes autóctones e científicos, a identificação
de princípios éticos estão motivadas a assumir compromissos mútuos,
libertando-as da servidão e da vontade de explorar os fatores de produção, e do
egoísmo.
Para tanto, as
pessoas, as organizações e a sociedade assumem responsabilidade e elegem políticas públicas típicas de uma democracia, entre elas, a Educação, a Reforma Agrária, Código Tributário... que, de forma desinteressada, assegure o
pensar, o desenvolvimento e o exercício das capacidades básicas, que é ter
senso do que é justo e aquela de optar, de transformar e de possibilitar a
execução de uma concepção de vida solidária à utópica – dos princípios ecológicos, proposto por Capra (2002) [interdependência, parceria, cooperação,
diversidade, flexibilidade, reciclagem, fluxo cíclico da natureza] aos bens primários [segundo Rawls (2002): autoestima, inteligência, imaginação,
saúde e vigor, oportunidades,
renda, riqueza, liberdades, direitos] – para qualquer
sociedade, inclusive àquelas fora do alcance do modo de vida moderno. É
possível, pois as condições materiais e imateriais existem.
A construção
de novas realidades ecológicas, ambientais e sociais é necessária para liquidar
a hierarquização e autoritarismo das relações sociais. Essa liquidação permitirá
a abertura de diálogos de saberes, e o fluxo do conhecimento acontecerá com e
para todos, com relevância para os estilos de vida rurais – em realce, o dos
agricultores e extrativistas familiares, povos e comunidades tradicionais.
Assim, o saber ambiental se constitui através da “desconstrução dos
paradigmas dominantes do conhecimento e da produção e articulação de saberes:
científicos e autóctones”, para Enrique Leff (2002).
Ainda é pouco relevante para
terceiros, os espaços de vida das categorias rurais: do princípio da igualdade
de oportunidades sociais, ecológicas, patrimoniais às econômicas – “Alagoas
apresenta queda na geração de emprego formal” [2].
Porém, a construção de novas realidades é uma das portas de entrada à percepção e compreensão de como
funciona seu precário mercado, formal e informal; sua baixa participação na
vida pública e política [sua liberdade individual e cidadania igual]; sua luta diária pela
sobrevivência; sua ineficaz rede de proteção social [inclusive pelo serviço de
pesquisa agrícola e extensão rural estatal e não estatal]; seu manejo
inadequado ao solo e a água, aos insumos e as plantas, aos animais domesticados
e a vida silvestre; seu temor às catástrofes naturais e aos mitos; sua complexa relação com os citadinos, é pressionando os estados e a sociedade para superar as barreiras impostas à vida rural; outra é exercitar a cidadania igual e a liberdade individual.
Ademais, princípios e metas
estabelecidas são vitais para mitigar os danos ecológicos, ambientais e culturais, as diferenças
sociais e econômicas para garantir o acesso e usufruto dos recursos naturais e dos tributos [“Inflação
da baixa renda avança em março”, diz FGV [3]; e
assim evitar o colapso dos ecossistemas e das relações
familiares e sociais. E ainda reconhecer que os quilombolas e índios devem
estar protegidos desses impactos – “Bancada
ruralista pressiona para tirar poderes da Funai na demarcação de terras” [4] – PEC 215/2000
Aliás, é dever da sociedade e do estado comprometerem-se em avigorar as
liberdades fundamentais sincrônica e diacronicamente, inclusive às crianças e
adolescentes do perigo de nascerem e habitarem lugares cujos ecossistemas
podem não prover suas necessidades e aspirações –
“Mapa da
Violência 2013: 67,1% das vítimas por arma de fogo são jovens” [5].
O Congresso Nacional
aprovou leis, medidas provisórias, normas nesse sentido. Implementá-las e
fiscalizá-las daqueles que resistem os ventos da mudança é preciso. E a sociedade, os
ambientes escolares, os veículos de comunicação, o sistema jurídico em especial
devem estar a postos para pôr fora de perigo o cumprimento dessa legislação: Lei
dos Crimes Ambientais, Estatuto da Cidade, Estatuto da Criança e do Adolescente,
entre tantas, com repercussões positivas
para preservação e uso dos recursos naturais renováveis e não renováveis, para diversificação da economia [ganhos de produtividade e lucro], para o estado [arrecadação e distribuição dos tributos], e para a vida social [bem-estar com dignidade], inclusive dos rurícolas.
O campo é o lugar para
além da sustentabilidade da lógica familiar [terra, trabalho e família], é
muito mais do que o arranjo citadino para promover o Código Tributário e a
metodologia do IBGE, por exemplo. Esse arranjo é perverso com os rurícolas, com os agricultores e extrativistas familiares, com os povos e comunidades tradicionais; pois, o campo é a fonte de recursos naturais com
finalidades: para alimentação, vestuário, moradia, energia, paisagem estética,
indústria e mineração, inclusive aos citadinos; é o lugar onde a essência do
estado da vida e de vida [desequilíbrio, temor, territorialidade, cooperação,
autorrespeito, desinteresse, liberdade, afeto...], é mais vivido, é mais sentido
pelos rurícolas - das relações dialéticas consigo e terceiros, e de suas relações com as
espécies e o inanimado.
... O campo não é apenas um quadro de vida.
[1] Engenheiro
Agrônomo, mestre em Desenvolvimento Sustentável, membro da Academia Brasileira
de Extensão Rural/ABER, professor da Universidade Estadual de Alagoas/UNEAL
[2]
www.eztraalagoas.com.br/2013/04/18/alagoas-apresenta-
[3]
G1.globo.com/economia/noticia
[4]
www.ecodebate.com.br/2012/04/15/bancada-ruralista-oressiona-para-tirar-poderes
[5]
www.ecodebate.com.br/2012/04/15/mapa-da-violência-
Sento-me confortável e esperançoso ao ler seu texto. Toninho
ResponderExcluirSua forma de escrever nos chama atenção para a pobreza instalada neste Brasil. É também um alento, esse país tem jeito. Mauricio
ResponderExcluirParabéns pelo texto. Pedro
ResponderExcluirVocê é sempre atencioso para a questão indígena. Obrigado Gustavo
ResponderExcluirContinuo lendo seus ótimos textos. Maria
ResponderExcluirMuito bom.Biu
ResponderExcluirA vida dura dos agricultores não é um faz de conta. Lucia
ResponderExcluirParabéns. Artur
ResponderExcluirVamos discutir primeiro o acesso dos jovens às políticas públicas, antes de alterar a maioridade penal. Marcos
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