Marcos Antonio Dantas de Oliveira
Por curiosidade leia nos jornais: os Editais de convocação de
assembleias de cooperativas e note, é comum nesses editais a quase ausência do
importante princípio estatutário: a distribuição de sobras – “Eu entrei no site das cooperativas do Brasil, e no final do ano, os lucros são divididos entre os cooperados, e aqui em Pindorama ninguém ver ou sabe para onde foi ou vai”, diz Maria José [Alagoas Negócios, 31/jul/2009].
Ainda assim, apático e ou sem entender bem do seu negócio – a cooperativa – o dono-cooperado acredita que ela é uma ferramenta relevante para minimizar as dificuldades do seu dia a dia.
Ainda assim, apático e ou sem entender bem do seu negócio – a cooperativa – o dono-cooperado acredita que ela é uma ferramenta relevante para minimizar as dificuldades do seu dia a dia.
E fascinando pelo ideário cooperativista, insiste na tese de que a
cooperativa ajuda na execução de estratégias que lhe garanta a sustentação do
seu sistema produtivo e social ao acesso aos insumos; da valorização da
sua mão de obra ao seu uso e não uso dos recursos naturais; do seu patrimônio
imaterial à arrecadação e distribuição dos tributos; da comercialização dos
seus produtos e serviços aos encargos e benefícios da cooperação social,
sobretudo, da sua liberdade individual.
Entre as estratégias: a criação de um fundo de capital, oriundo
dos depósitos de seus membros, e do resultado econômico dos negócios da
sociedade, a sobra. Ela é vital essencialmente para melhorar seus estilos de vida [e
reproduzí-los]. Esse fundo de reserva tanto é o ponto de partida para o êxito
da cooperativa, como a distribuição de sobras é a garantia de que seu negócio
está sob seu controle; e ainda anima a militância.
Na Inglaterra de 1848, a Sociedade dos Pioneiros de Rochdale, dos
tecelões da indústria, sabiamente destinou também das sobras – 2,5% para fins da
educação geral. E essa regra auxiliou em muito o engrandecimento da cooperativa como
instrumento de enfrentamento para a melhoria das condições sociais e econômicas
dos donos-cooperados. E deu-lhe fama mundial.
Em Alagoas, começo dos anos de 1980, a Cooperativa Agro-pecuária e
Industrial de Arapiraca [Capial] praticou a distribuição de sobras e
proporcionou acesso: a redistribuição econômica e patrimonial – com incremento
das riquezas privadas –, e a melhoria dos serviços sociais aos donos-cooperados
e moradores da região; e consolidou a região fumageira como centro de debates
dos citadinos, rurícolas e agricultores familiares, tanto para formular,
executar, avaliar e corrigir as políticas públicas de segurança alimentar, lazer, saúde, renda, alfabetização, associativismo, comercialização, uso e
não uso dos recursos naturais, consumo e tributos.
Em tempo: o associativismo nessa região nasce com a Capial, em 1963. Então,
do pioneirismo da Capial [e do entusiasmo de Lourenço de Almeida] vieram os
sindicatos [fins dos anos 60] e as associações [início dos anos 80]. Mas, foi à
distribuição de sobras que lhe deu fama regional.
Assim as regras têm relevância na consolidação da cooperativa,
enquanto ativismo e projeto social; por isso, os donos-cooperados necessitam
fortalecê-las em suas organizações. Foi vital, o uso da regra distribuição de
sobras pelos Pioneiros de Rochdale como pelos Pioneiros da Capial, na Região Fumageira de Alagoas.
Ademais, o ativismo e a prática cooperativista são caminhos para
construir uma sociedade mais eqüitativa, mais solidária, mais respeitadora da
natureza; ajudar na transformação das áreas rurais com fortes problemas na
distribuição dos ativos fundiários, da renda, do acesso aos bens primários e
serviços públicos; e que o associativismo por seu caráter massivo, por
amplitude e por sua manutenção no tempo continue dialetizando ideias e experiências
ecológicas [ciência e saberes] e culturais [conjunto de ferramentas, hábitos,
instituições, normas, rituais, ritos, aprendizados, sentimentos, atitudes etc. que
um agrupamento humano possui] para o bem-estar, à dignidade de todos.
Pois, o que sustenta a cooperativa ao longo do tempo é a
capacidade estratégica dos donos-cooperados de discernir e antever o que é
essencial para gerar continuidade de seus negócios nos diversos contextos e
cenários; é a consonância com a evolução das demandas da sociedade, dos
indivíduos, cooperados e não cooperados. E nesse sentido, revela que o arranjo de idéias e realizações de homens e mulheres [de jovens] que acreditam: a cooperativa é mais do que uma ferramenta econômica, é a consolidação de aspirações idealistas; sobretudo, de elevado caráter social e democrático.
Aos donos-cooperados à apropriação do resultado econômico do seu
negócio, as sobras. A distribuição de sobras é vital para elevar a cooperativa e o associativismo, e resguardar o acesso e usufruto dos bens primários [renda, alimentação,
inteligência, liberdades fundamentais, cidadania igual, felicidade...], à
dignidade dos donos-cooperados e suas famílias.
Publicado pelo jornal: Tribuna Independente, Maceió - Alagoas, 2012.
Oportuna essa sequência de textos sobre o cooperativismo e cooperativa. Roberto
ResponderExcluirCaro Marcos Antonio,
ResponderExcluirQue utilizemos o Ano Internacional das Cooperativas para discutir e reforçar os princípios do cooperativismo.
Kleber Santos
Coordenador
DENACOOP/SDC/MAPA.
E essa apatia também contamina muitos técnicos. Maurício
ResponderExcluirSua colocação sobre bens primários é de relevância. Marcos
ResponderExcluirComo as cooperativas estão longe de atender os cooperados. E parabéns a Maria José. Toninho
ResponderExcluirA colocação de Maria José é corriqueira. Gabriela
ResponderExcluirParabéns pelo texto. João
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