Marcos Antonio Dantas de Oliveira
É atualíssimo falar com Zaratustra [Nietzsche] e ouvi-lo
dizer: "Mas dizei-me, irmãos, se falta objeto à humanidade, não é porque
ela mesma não existe?".
De maneira que, ”A pressão da sociedade sobre o indivíduo pode voltar, sob uma nova forma, a ser tão grande quanto nas comunidades bárbaras, e as nações irão se vangloriar, cada vez mais, de suas realizações coletivas em detrimento das individuais”, diz Russel (2002).
No Brasil: há uma cidadania na casa sob influência da
família (amizades e favores), uma cidadania na rua sob influência mundana (direitos e deveres), e uma cidadania religiosa
sob influência do outro mundo (penitências e obediências). Esses códigos estão institucionalizados na nossa
intensa e densa vida pessoal – e as nuances e evidências transbordam nessa
eleição, por exemplo.
E nesse caos, é que se forjam líderes capazes de usarem a
autoridade que: “é o controle ou influência sobre o comportamento de outros
para a promoção de metas coletivas, com base em alguma forma
verificável de consentimento destes outros em razão de estarem informados da
situação” [Bernardes citando Buckley, 2009] rumo à prosperidade e ao bem-estar.
Mas, onde estão os líderes?
Sobretudo, “Será que a natureza da atividade de pensar, o
hábito de examinar, refletir sobre qualquer acontecimento, poderia condicionar
as pessoas a não fazer o mal? Estará entre os atributos da atividade do pensar,
em sua natureza intrínseca, a possibilidade de evitar que se faça o mal?",
comentou Arendt (2008).
E nos leva a considerar que, “O homem desacomodado não é
mais do que um pobre animal, nu e dividido” [Rei Lear/Shakespeare]. E esse
vazio é potencializado, porque o voto, ora é um exercício da cidadania, ora é
uma mercadoria porque a pessoa reage por medo, e assim, simplifica os problemas
mediante a oposição entre Nós e Eles. O que tem "consequências
devastadoras sobre a (in)capacidade de lidar com as múltiplas crises que
envenenam nossas vidas: a ruptura da relação entre governantes e governados. A
desconfiança nas instituições, em quase todo o mundo, deslegitima a
representação política e, portanto, nos deixa órfãos de um abrigo que nos
proteja em nomes do interesse comum”, afirma Castells (2018).
É no locus da política [e nas audiências
públicas, principalmente as do: PPA, LDO e LOA] que se debate o controle dos
recursos naturais, dos tributos e das políticas públicas [distributivas,
redistributivas, reguladoras]; das incertezas social, econômica e ecológica;
das liberdades fundamentais; dos negócios privados e públicos, individuais e
coletivos; dos princípios da Administração pública; do bem-estar para além do
viés normativo e ideológico. Todavia, o controle e o uso dos bens naturais e
dos tributos, tal como os encargos e os benefícios da cooperação social estão
sob a guarda do ‘príncipe’; e essa é uma das razões do Estado, enquanto uma
associação de iguais, não ter um Projeto de Desenvolvimento
Sustentável. De modo que, “A humanidade, nessa Terra, não pode estar
reconciliada com ela própria enquanto o luxo de alguns insultarem a pobreza de
quase todos”, afirma Aron (2016); essa reconciliação está na justa medida entre
a falta e o excesso das virtudes anunciadas por Aristóteles,
Uma vez que, é pelo exercício do estado de direito que
as instituições inclusivas políticas "asseguram a ampla distribuição
do poder e restringem seu exercício arbitrário.", e essas, quando
econômicas "geram uma distribuição mais equitativa de recursos,
facilitando a persistência de instituições políticas inclusivas",
descrevem-nas Acemoglu e Robinson (2012).
Ademais, a raiz da crise de legitimidade entre os políticos
e os cidadãos está na crise da democracia liberal e seus ganhadores e
perdedores, porém, não é uma rejeição a democracia, enquanto, sistema de
relações sociais que depende para sua estabilidade das mentes dos cidadãos nos
ambientes e arranjos institucionais ou não, e que necessita de governança e de
governabilidade eficazes para solucionar os agravos ao bem-estar -
Dito isso, Arendt (2018) afirma: “o maior mal
perpetrado é o mal cometido por Ninguém, isto é, por um ser humano que se
recusa a ser pessoa” – Nós e Eles – Porque fazemos o que fazemos? Essa
prática está em viés de alta nessa eleição.
Desde sempre, Nós e Eles estão presentes na vida das
pessoas. Pois bem, no século XVI, La Boétie, ressaltou que o eleito “considera
quase sempre o poder que o povo lhe conferiu como devendo ser transmitido a
seus filhos; bem como escreveu Maquiavel: “aquele que promove o poder de um
outro perde o seu...”. Essa complacência é um padrão “derivado da subordinação
social e política”, diz Zander (2014), que continua aniquilando à cidadania, e
os agricultores familiares são vulneráveis demais a esses males e essas crises.
Por isso, Rousseau em 1762, argumentou para que serve o
governo – “o ato que institui o governo não é, de forma alguma, um contrato,
mas uma lei, que os depositários do Poder Executivo não são os senhores do
povo, mas seus funcionários, os quais pode ele designar ou destituir quando lhe
agradar, que não se trata para eles de contratar, mas de obedecer e que ao se
encarregarem das funções que o Estado lhes impõe nada mais fazem do que cumprir
seu dever de cidadão sem ter, de modo algum, o direito de questionar as
condições”.
Desde sempre, Nós e Eles, estão presentes na nossa casa, na nossa rua; nas coisas do outro mundo, é uma complexa relação social afastada do equilíbrio da (e de) vida, que é retroalimentada pelo ausente controle social. Daí é vital o controle social para garantir à prosperidade pelo usufruto dos bens primários propostos por Oliveira (2013): individualidade, liberdade, posse, confiança e felicidade para promover o bem-estar.
Decerto que, Nós e Eles, cabem muito bem no comentário de Arendt (2008) - "Será que podemos detectar uma das expressões do mal, qual seja, o mal banal, como fruto do não-exercício do pensar?" De modo que, o exercício do agir entre cidadãos livres e iguais, a ética da cidadania, se dá na rua, daí a significância do VOTO que é individual e secreto. Mas na rua estamos sós! Aí escolhemos agir como pessoas e suas redes de relações domésticas, a ética do compadrio e a ética do outro mundo, onde o VOTO é desigual e relacional – pois em casa estamos juntos - clique e leia a opinião de Zander:
O que podemos aprender, desprender e reaprender com essas escolhas rumo ao bem-estar? Como queremos ser uns com os outros? Quem somos?