domingo, 24 de julho de 2016

Tá tudo DOMINADO?

Marcos Antonio Dantas de Oliveira


O filósofo Aristóteles (384 - 322 a.C) já denunciava a desigualdade argumentando que não há nenhuma razoabilidade no excesso de bens de uns poucos e na carência de bens de muitos; e o associativismo pode ser uma das ferramentas para mitigar, superar ou romper essa desigualdade? – clique neste link sobre desigualdade: https://www.facebook.com/CanalDaDireita/videos/429849677159569/ 


De maneira que, “quem somos?, é inseparável de onde estamos?, de onde viemos?, e para onde vamos”, nos ensina Morin (2000).


Então, em que medida a cooperativa [o ativismo] será capaz de motivar seus membros a discutirem e criarem mecanismos de garantia não só da gestão empresarial, assegurando trabalho e renda, mas, sobretudo, às condições de usufruto do bem-estar dos “donos-cooperados” em termos econômicos, sociais, ambientais e culturais, assegurando a diversidade de modos de vida em sintonia com o desenvolvimento  sustentável – durável – e seus critérios: social, cultural, ecológico, ambiental, territorial, econômico, política nacional e política internacional (SACHS, 2000); com a alfabetização ecológica e seus princípios: interdependência, reciclagem, parceria, cooperação, fluxo cíclico dos processos naturais, flexibilidade, diversidade (CAPRA, 2002), com usufruto dos bens primários propostos por Rawls (2002): autoestima, inteligência, imaginação, saúde e vigor, direitos, liberdades e oportunidades, renda, riqueza?

                     

E o cooperativismo agrícola [ativismo e a cooperativa] é um dos caminhos possíveis na construção de uma sociedade mais eqüitativa, mais solidária, mais respeitadora da natureza, ajudando, assim, na transformação de áreas rurais com problemas fortes na distribuição dos ativos fundiários, da renda, do acesso aos bens públicos. O cooperativismo tem se constituído em um fenômeno social e econômico que, pela amplitude e por sua manutenção no tempo, pode ser considerado um movimento de caráter massivo que gerou marcas importantes na sociedade.


Partimos do pressuposto de que, na busca pela minimização das dificuldades do seu dia a dia, o agricultor deve buscar no ativismo e na cooperativa importantes estratégias como forma de garantir a gestão eficiente do seu sistema social e de produção pelo acesso e usufruto aos recursos naturais e impostos; à inovação; à comercialização de produtos; à proteção do meio ambiente; ao serviço de pesquisa agropecuária e extensão rural; à segurança jurídica; ao conhecimento;  e às melhorias sociais para assegurar à reprodução e prosperidade do seu modo de vida. Enfim, que articulações as cooperativas agrícolas fizeram – e continuam fazendo – com outros agentes econômicos e sociais, no sentido de buscar compor cenários, nos quais os agricultores atinjam seus objetivos, enquanto “donos-cooperados”.


Enfim, o cooperativismo continua a emular discussões e comentários sobre a importância da educação cooperativista para reformar o ambiente econômico, social, ambiental e cultural; ainda mais, hoje, com essa onda globalizante que devasta os estilos de vida mais prosaicos em nome do consumismo supérfluo, que menospreza os lugares em nome do espaço, do localismo, do globalismo.


No estado de Alagoas, o número de organizações cooperativas ainda é pequeno quando se leva em conta que existe 123 mil estabelecimentos agropecuários, principalmente daquelas que atuam no ramo agropecuário, de crédito e de trabalho; e que ocupam espaços privados e públicos objetivando cumprir seus estatutos – ideário e prática cooperativista. É importante notar e anotar que no Brasil como em Alagoas o baixo grau do ativismo, da prática e da gestão social dos “donos-cooperados” e dos dirigentes dessas cooperativas, do solidarismo repercutem negativamente nos debates e nas alianças [atos, processos e soluções].

                                                                                   

É comum os “donos-cooperados” atuarem de modo apático ao ideário e à prática cooperativista. Por exemplo: é na Assembleia [enquanto instância máxima, que se exercita democracia direta] que se planeja e decide a prática cooperativista, se fiscaliza o cumprimento do estatuto. Chamo atenção para o edital da Cooperatica dos Produtores de Mel de Abelha e Derivados Ltda/COOPMEL publicado pela Tribuna Independente, 19 de janeiro de 2016. Em particular para a chamada em 3ª convocação – com no mínimo 10 (dez) cooperados em condições de votar a seguinte ordem do dia: 1) Reforma estatutária. Ademais, votar esse tema com um número tão baixo, de 10 “donos-cooperados” revela a precariedade da prática cooperativista. Destarte, é crucial uma Assembleia tão esvaziada, ela mostra quão difícil é implementar o Estatuto Social; e reflete principalmente a má atuação dos dirigentes para implementá-lo. Nesse sentido, não tem nem elevado, nem melhorado o ideário e a prática cooperativista alagoana e brasileira.


Outro agravante: a cooperativa é quase sempre sendo ineficaz e malvista em cumprir seu Estatuto social pela baixa participação cognitiva, instrumental, política e social da maioria dos “donos-cooperados” – o menosprezo pelo exercício da democracia direta evidencia-a como uma instituição extrativista tanto política [porque não distribui poder] como econômica [porque não distribui riqueza] como comentam Acemoglu e Robinson, 2012, sobre instituições extrativistas no livro: Por que as nações fracassam. 

  

Mais outro: a prática da reeleição, em geral, efetivou a apropriação do Estatuto Social pelo príncipe. Todavia, em 1844, Lancashire, Inglaterra, os Probos Pioneiros de Rochdale, os tecelões da indústria da flanela, elegiam semestralmente um presidente, um tesoureiro, um secretário; essa prática rochdaliana fê-la, um caso de sucesso saudado até hoje.

 

Nesse sentido, devem continuar a luta para que o ativismo e o projeto social, permanente e continuado, garantam que os princípios cooperativistas adesão livre e voluntária, controle democrático pelos sócios e educação, participação econômica dos sócios, independência e autonomia das cooperativas, cooperação entre cooperativas e preocupação com a comunidade; interpenetrados pelos princípios ecológicos em Capra (2002), pelos critérios de sustentabilidade em Sachs (2000) e pelo usufruto dos bens primários propostos por Rawls (2002) alavanquem o bem-estar com todos associados, livres e iguais.


Assim é preciso avaliar: a intervenção do Estado [e dos governos] e da cooperativa [e dos dirigentes-cooperados], ainda com sua mão de força promovendo a hierarquização de seus interesses “com práticas clientelistas e paternalistas que as da oligarquia política e fundiária” (SABOURIN, 2006). Aliás, “aquele que promove o poder de um outro perde o seu ...”, nos ensina Machiavelli (1998). Indubitavelmente, essa intervenção caracteriza o modo brasileiro de fomentar o ativismo e a cooperativa. Então, “a primeira tarefa dos intelectuais deveria ser a de impedir que o monopólio da força torne-se também o monopólio da verdade” (BOBBIO, 1997).



Pois, para Arendt (2003), “a liberdade situa-se exclusivamente na esfera política”. E Paulo Freire (1996) afirma: o “essencial nas relações [...], entre autoridade e liberdades, [...] é a reinvenção do ser humano no aprendizado de sua autonomia”; é reflexão e ação dos homens sobre o mundo para transformá-lo. Sem ela, é impossível a superação da contradição opressor-oprimido” (1987) e, sobretudo, das predadoras instituições econômicas e políticas extrativistas. De modo que, é imperioso que as crianças, os jovens e as mulheres, principalmente os rurícolas, participem ativamente dos processos de governança, de governabilidade e de tomada de decisões em instituições econômicas e políticas inclusivas para alavancar seu bem-estar pelo usufruto dos bens primários propostos por Rawls (2002): autoestima, inteligência, imaginação, saúde e vigor, direitos, liberdades e oportunidades, renda, riqueza.


Artigo publicado na Tribuna Independente, Maceió/AL.

domingo, 3 de julho de 2016

NUS e DESACOMODADOS: quem somos?

 Marcos Antonio Dantas de Oliveira[1]
                                                                      
      
             Em meados do século XVIII, o processo de industrialização dava seus passos iniciais e, com ele, a sistematização de trabalho. Nesse sentido, a fábrica, esse elemento novo, provocou deslumbramento na sociedade e as mulheres agora podiam empregar-se, como também as crianças atendiam a esse chamamento, um gesto que modificou a relação entre mulher e homem. O tempo mostrou que essa invenção, a fábrica, foi percebida pelas famílias como um estorvo, pois, com aquele horário, dezesseis horas, não sobravam mais tempo para as conversas sobre o cotidiano, as brincadeiras lúdicas e as crianças ressentiam essa falta. O nascente capitalismo tomou para si as rédeas desse processo sempre em franca e crescente prosperidade da indústria da flanela de Rochdale, da Inglaterra de 1843, os tecelões – adultos e crianças, homens e mulheres –, continuavam a trabalhar com horário extenuante e mal remunerado, tornou-se o senhor das vidas dos operários e de suas famílias. A situação precária sócio-econômica em que viviam os tecelões fez com que estes reagissem.  A ocasião era oportuna para solicitar aumento em seus salários; “hão de ver quem somos nós!” (HOLYOAKE). E, em comissão, lá foram eles, ao encontro dos industriais. Não! Foi a resposta que obtiveram, e alguns deles preferiram fechar as portas de suas fábricas.

 Frustrado o intento. Em um desses dias sombrios de novembro de 1843, os operários resolveram discutir quais soluções seriam possíveis, para o enfrentamento dessa situação de penúria em que se encontravam, e elencaram várias possibilidades: pedir proteção da lei dos indigentes? Deviam migrar? No entanto foram os ideais dos socialistas utópicos, Robert Owen e Doutor Willam king, que nortearam a decisão de criarem um armazém cooperativo de consumo.  E, na noite de 24 de outubro de 1844, a Sociedade dos Probos Pioneiros de Rochdale, localizada na Travessa do Sapo, abre suas portas para atendimento aos operários e suas famílias, baseada em princípios [regras] bem estabelecidos: “1 - Governo democrático da sociedade, cada sócio tendo direito a um só voto, independentemente do capital que tivesse investido; 2 - A sociedade estava aberta a qualquer pessoa que quisesse se associar, desde que integrasse uma cota do capital; [...] ; 7- Desenvolvimento da educação cooperativa dos sócios – uma das herança de Owen; 8 - A sociedade seria neutra, política e religiosamente (PINHO). Esses princípios balizam até hoje qualquer estatuto de uma cooperativa onde quer que ela se localize, no hemisfério norte ou sul, nas sociedades ricas ou pobres, em países credores ou devedores.
                                                                                                                   
 E Mladenatz (2003) resume bem a importância dessa organização, afirmando que “a generalização dessas associações permite realizar uma ordem econômica e social capaz de fundar-se não sobre a luta, mas sobre o entendimento, não sobre o espírito da competição, mas sobre a solidariedade, não sobre a dominação da empresa lucrativa, mas sobre a colaboração com o trabalhador”. A idéia de auto-ajuda contida na proposta cooperativista está em constante movimento e, por isso, realiza-se nas mais diversas e numerosas categorias: sociedades, sofrimentos, soluções e desejos. Desde então, tanto outros sonhadores-precursores-estudiosos – Owen, King, Bellers, Fourier, Blanc, Gide, padre Arizmendiarrieta, Boettcher, Benecke, Filene, Pinho, Singer, Mladenatz e outros que continuam a iluminar o mundo com seus ideais e realizações, para transformar o ambiente social. Essa idéia tem ressonância na região fumageira de Arapiraca, Alagoas, Brasil e começa com o entusiasmo de Lourenço de Almeida. Em 1963, funda-se a primeira cooperativa agrícola na região, conhecida por CAPIAL/Cooperativa Agro-pecuária e Industrial de Arapiraca Limitada. Obteve sucesso entre os anos de 1978-1983, hoje vive sua fase de estagnação, mas continua a ser uma referência sobre a execução ou não do seu estatuto social.

Assim sendo, é importante compreender o mundo em que vivemos e também como nos posicionamos no mundo. Dentro dessa ótica, indaga-se: como o associativista pensa e age nas sociedades e nos agrupamentos humanos os mais diversos possíveis para atingir posições confortáveis, garantidoras de relevância social, redistribuição econômica e prudência ecológica em um mundo tão hierarquizado e autoritário? Muitos estudiosos, entre eles Ignacy Sachs e Fritjof Capra, comentam sobre um sistema de produção e consumo respeitador do meio ambiente, onde a sustentabilidade definida como eficácia econômica, social e ambiental atenda às necessidades e desejos da geração atual e das gerações futuras.
                                               
          Esse sistema atende pelo nome de desenvolvimento  sustentável, que é um processo dialético, de desinteresse mútuo, de cidadania igual e de liberdades reais, que compartilhado pelas diversas categorias [conflito] ao preservarem, conservarem e utilizarem os recursos naturais e os tributos, transforma-os em bens e serviços: do autoconsumo ao mercado, do PIB às rendas [gestão] destinados ao bem-estar social e ecológico de todos no presente e no futuro [justiça social] (OLIVEIRA, 2010); elegendo critérios que possam mitigar os danos ambientais, ei-los: social, cultural, ecológico, ambiental, territorial, econômico, política nacional e política internacional (SACHS, 2000), sobretudo baseado na alfabetização ecológica e seus princípios: interdependência, reciclagem, parceria, cooperação, fluxo cíclico dos processos naturais, flexibilidade, diversidade (CAPRA, 2002), promovam o bem-estar com todos pelo acesso e pelo usufruto dos bens primários propostos por Rawls (2002) e van Parijs (1997): autoestima, inteligência, imaginação, saúde e vigor, direitos, liberdades e oportunidades, renda, riqueza.

          De modo que, não há nenhuma razoabilidade no excesso de bens de uns poucos e na carência de bens de muitos, já observava o filósofo Aristóteles (384 - 322 a.C) –  leia mais sobre essa desigualdade crescente: na Carta  Encíclica Papal: RERUM NOVARUM -http://w2.vatican.va/content/leo-xiii/pt/encyclicals/documents/hf_l-xiii_enc_15051891_rerum-novarum.html no http://g1.globo.com/economia/noticia/2015/08/71-mil-brasileiros-concentram-22-de-toda-riqueza-veja-dados-da-receita.html
                                                          
           Destarte, o ativismo e a prática cooperativista são algumas das ferramentas capazes de fazer o enfrentamento e tirar proveito dessa onda globalizante, que tem sido perversa o suficiente, para aniquilar desde os estilos de vida mais prosaicos dos povos autóctones e tradicionais, como também daqueles que sobrevivem das migalhas do processos científico-tecnológico tanto pela tirania do capital e do mercado; pela apatia da maioria dos “donos-cooperados” e da sociedade em cumprir suas normas, pela ineficiência do Estado em assegurá-lo como uma associação de iguais como pela crise de percepção a tudo que nos rodeia e nos amedronta tem inviabilizado nosso bem-estar pelo usufruto dos bens primários: autoestima, inteligência, imaginação, saúde e vigor, direitos, liberdades e oportunidades, renda, da riqueza.
 .
                  





[1] Mestre em Desenvolvimento Sustentável, membro da Academia Brasileira de Extensão Rural/ABER, professor da UNEAL, extensionista da EMATER-AL/Carhp, diretor do SINDAGRO, articulista da Tribuna Independente, Maceío/AL.                                                                   Blog:   sabecomquemestafalando.blogspot.com