Marcos Antonio Dantas de Oliveira
“Biopirataria: Ibama multa Natura em R$ 60 milhões, pelo uso não autorizado de patrimônio genético e de Conhecimento Tradicional Associado, que é uso comercial de práticas exclusivas de comunidades brasileiras” (O Jornal, 13/Nov/2010).
Assim, pela relação de proximidade e de simbolismo com a natureza, tudo leva a crer que os índios, os caboclos, os extrativistas e agricultores familiares e outros rurícolas parecem ser os melhores gestores para preservar, conservar e usar os recursos e serviços naturais e os culturais. E nesse sentido, a demarcação de terras, a regularização fundiária urbana e rural e a reforma agrária são condições essenciais também para aumentar de modo decente e legal, as rendas e as ocupações, e assim superar as relações de dominação e de servidão - exacerbação da esfera privada [onde impera a desigualdade, o sabe com quem está falando].
E, o lugar rural tem um papel revelador: “Ele não é apenas um quadro de vida, mas um espaço vivido, isto é, de experiência sempre renovada, o que permite, ao mesmo tempo, a reavaliação das heranças e a indagação sobre o presente e o futuro” [Geógrafo Milton Santos].
E com esse sentido deverá ser posta a questão do desenvolvimento sustentável alagoano: recursos naturais, demografia e PIB [organizado por princípios ecológicos: interdependência, cooperação, diversidade, flexibilidade...] tanto para a produção, o consumo, a distribuição da riqueza pública, o acesso e o aumento da riqueza privada, por aqueles em tal desvantagem. Até quando continuará sendo essencialmente vida econômica, a qual atende a critérios de racionalidade e [in]eficiência, imperativa às necessidades do capital; e assim acolhe a onipresente sociedade agroindustrial canavieira consumidora voraz de bens e de serviços e egoísta; e não a maioria dos alagoanos e dos rurícolas [trabalhadores, agricultores e extrativistas familiares e índios] em situação de penosidade social – quase 2/3 dos moradores de Alagoas têm renda de até 1/2 salário mínimo e pagam muito imposto.
Estas ocorrências ainda asseveram o processo de dominação e de controle social dos recursos e serviços naturais e dos tributos pelos ricos, ora pela baixa qualidade da educação, pelo elevado grau de analfabetos e, principalmente, o pouco exercício da dialética e da liberdade individual pelos rurícolas.
Entretanto, nos espaços rurais apesar da baixa densidade populacional, há laços fortes de proximidade, de vizinhança e de confiança entre seus habitantes, e uma relação de interdependência com a ordem natural, cheia de significados, e raros nas cidades. Nas comunidades rurais, sua gente vive, convive, sobrevive de seu patrimônio imaterial: produção, distribuição, consumo, manifestações culturais, hábitos e valores: do acesso e cultivo a terra [e a natureza] e à liberdade real; assim elegem as condições imprescindíveis ao desenvolvimento sustentável: do direito ao trabalho, da educação ao lazer, da proteção à natureza aos versos e prosas da labuta diária.
Pois, nesses espaços rurais [bacias hidrográficas] há uma trama de vínculos culturais, ora sociais, ora ecológicos, ora econômicos que desempenham um importante papel no cotidiano dos índios, caboclos, extrativistas e agricultores familiares, trabalhadores de aluguel e dos rurícolas, que ainda é pouco estudado pela Academia e outros organismos [inclusive pelo serviço de pesquisa agropecuária e extensão rural]; e por isso depende da interação do adulto, do jovem e da criança, ora pelas relações familiares, de compadrios e comerciais, ora pelas relações íntimas com a natureza [pelo conhecimento oral e práticas acumuladas, salvaguardada pelo patrimônio imaterial].
O desenvolvimento rural alavancou importantes transformações no processo produtivo agrícola e social marcado pelas revoluções verdes, anos 60 – correção, fertilização e mecanização agrícola dos solos –, e nos anos 90 pela biotecnológica e pela internet. O desenvolvimento tecnológico alargou horizontes, até então, desconhecidos ou ignorados e, com isso, houve um avanço tecnológico em todas as áreas de conhecimento, e trouxe para a agropecuária alagoana, alguns resultados que globalmente podem ser considerados satisfatórios: produtividade e eficiência.
Então, a atividade agropecuária, a agroflorestal e a de turismo ecológico sob o ponto de vista da preservação, conservação e uso dos biomas [resquardo da variabilidade genética entre e nas espécies, principalmente em zonas semiáridas] são vitais para diminuir o êxodo rural, e a inconsequente pressão demográfica nas cidades; garantir a ocupação do território, a segurança alimentar, o emprego, a renda, [inclusive a renda não produtiva]; enfim, a melhoria das condições de vida do rurícola [do extrativista ao índio, do quilombola ao agricultor], em suas unidades: geográfica e social.
Assim o lugar rural é importante por fornecer também a terceiros: além de fibras, energia, mão de obra e alimentos, bem como outros atributos: da gestão das bacias hidrográficas, paisagem estética à atração de citadinos em busca da melhoria de qualidade de vida.
E soluções para resolver ou mitigar os conflitos de interesses e as demandas desses segmentos só articulando o saber científico e o tradicional para garantir o acesso e o incremento da riqueza privada, a distribuição da riqueza pública, o exercício da cidadania igual, enfim, da liberdade individual no lugar rural; assim às crises: ambiental e econômica não piorarão a condição de vida imposta aos rurícolas, índios, caboclos, extrativistas e agricultores familiares – ainda assim, “Cesta básica é garantida pelo agricultor familiar - Produção de alimentos aumentou tanto que produtos baixaram preços” (Tribuna Independente, 17/out/2010).
Publicado pelo jornal: Tribuna Independente, Maceió – Alagoas, 2010.