sábado, 30 de junho de 2018

Sobre Cooperativa e Cooperação

Fábio Leão[1]
Marcos Antonio Dantas de Oliveira[2]

Desde a sua origem, as cooperativas representam uma forma de defesa contra os grandes poderes econômicos e políticos constituídos – por vezes até religiosos. Lá se vão os longíquos anos do século XIX quando o movimento cooperativista teve seu início, mais precisamente em 1844, quando a história nos apresentou os Princípios de Rochdale: adesão livre; controle democrático: “um homem, um voto”; devolução do excedente ou retorno sobre as compras; juros limitados ao capital; neutralidade política, religiosa e racial; vendas a dinheiro e à vista; e fomento do ensino em todos os graus.

Estes sete princípios nortearam os caminhos daqueles 27 tecelões da cidade inglesa de Rochdale quando resolveram montar um armazém cooperado (Armazém Rochdale”) para se defender da opressão capitalista e do crescente desemprego causado pela revolução industrial. Seu objetivo não era o lucro – uma vez que iniciaram a cooperativa de consumo com a contribuição individual de uma libra por mês, mas sim a criação de uma alternativa para aquela situação de segregação porque passam à época. No final do primeiro ano – depois da criação da cooperativa de consumo no chamado “Beco do Sapo” – já contavam com o capital de 180 libras e dez anos depois, já somavam 1.400 cooperados.

As cooperativas representam, assim, uma forma distinta de organização para encaminhar as produções ao mercado – no caso das cooperativas agrícolas. Para outros tipos de cooperativas – como as de consumo – o objetivo maior é comprar muito em conjunto e montar centrais de comercialização para vender produtos com preço mais baixo que o mercado tradicional. Para além dos aspectos econômicos, as cooperativas apresentam formas inovadoras de educação, de participação cidadã e democrática em suas comunidades, informações acerca da gestão de negócios e prática de ajuda mútua. Mais recentemente tem-se praticado em profusão a ajuda entre cooperativas de propósitos diferentes e de regiões diferentes – o chamado intercooperativismo!

Seu objeto de estudo, portanto, situa-se na microeconomia clássica originalmente, e também nos estudos dos fenômenos de grupos, da psicologia social. Mais recentemente, nos estudos sobre redes sociais, teoria dos jogos e no jogo do ultimato. Um campo vasto e muito rico que pode e deve ser melhor explorado em nossas organizações cooperativas. Mais do que um agrupamento de pessoas no entorno de questões econômicas, as práticas cooperativas passam por aspectos do crescimento das pessoas e do fortalecimento de comunidades inteiras. A promoção do desenvolvimento de uma região pode, assim, ser suportado pelo coletivo de cooperativas. É uma forma visionária e pioneira de ampliação dos braços e pernas das administrações municipais. Ao revés da disponibilização de apoio financeiro público para os grupos cooperativos a proposta poderia ser de parceria e co-gestão dos serviços públicos. Serviços como coleta de lixo, educação formal, feiras livres e diversos outros podem ser compartilhados entre as administrações públicas e as cooperativas.

Os primórdios do princípio cooperativo demandam organização (Conselhos de Administração) e fiscalização (Conselhos Fiscais), para acompanhar os trabalhos dos dirigentes das cooperativas. Afinal, esses dirigentes atendem a seus próprios interesses, na medida em que fomentam os interesses dos membros das cooperativas. Percebemos com isso, que a atividade de uma cooperativa não pode ser encarada de maneira amadora, uma vez que seus dirigentes trabalharão com conhecimento específicos de gestão de negócios, administração financeira e comercial, estratégias de longo prazo, além das questões relativas ao processo de educação cidadã.

As cooperativas precisam competir e serem eficientes no mercado. Conseguirão isso na medida em que melhor conseguirem se organizar e combinar da forma mais eficiente possível aspectos como: inovação, preços e especificidades/nichos; todos inerentes à administração de empresas capitalistas. Agindo dessa forma, podem obter o melhor resultado dos dois mundos: resultados econômicos e competitivos do lado capitalista e resultados em termos de desenvolvimento humano e promoção da cooperação e da ajuda mútua, inererentes aos aspectos da cooperação.

É preciso com isso, salientar a importância da educação cooperativa. É preciso entender que uma nova cultura – se inicia com o processo educacional. Portanto, vale a reflexão sobre o estado da educação cooperativa nas empresas em nosso estado.

Importa também refletir sobre o estado das organizações responsáveis por prover o apoio necessário às cooperativas. Organismos responsáveis por associar cooperativas e cobrar por sua adesão, também têm a obrigação de prover conhecimento técnico e ação educativa no caminho da cooperação. Não se trata aqui de um apoio formal, instrumental ou técnico para justificar a arrecadação de recursos. O apoio deve acontecer na forma de comprometimento com os resultados cooperativistas. Seria um retorno a Rochdale!

Vale também mencionar a importância do intercooperativismo. Como acontece a “cooperação entre cooperativas”? Aqui, é preciso levar em conta a cooperação não apenas entre aquelas cooperativas do mesmo tipo, do mesmo segmento. É mais que isso; é preciso fazer a intercooperação entre cooperativas de produção e cooperativas de crédito – por exemplo. Entre cooperativas profissionais e cooperativas de consumo.

A maioria das cooperativas locais trabalha apenas com a categoria ‘economia’, negligenciando os aspectos de: intercooperação; mutualismo; eventos sociais; ações ecológicas, etc. Os casos refletem sobre a separação dos propósitos das cooperativas e do mundo político. O momento da confusão dos interesses desses grupos (cooperativas – políticos – empresários) é o início do declínio do movimento cooperativo - Salvemos a cooperativa!

Dito isso, convido-o para uma reflexão sobre o ativismo e a prática cooperativista, faça-a como se fosse uma viagem inspiradora para a promoção (e a prosperidade do 'dono-cooperado' e da cooperativa), do cooperativismo e do desenvolvimento de Alagoas! 

Salve 30 de junho, dia Nacional do Cooperativismo - Vida longa para a Jorgraf/Cooperativa dos Jornalistas e Gráficos do Estado de Alagoas, para a Tribuna Independente!



[1]  Economista e Mestre em Desenvolvimento e Meio Ambiente
[2] Mestre em Desenvolvimento Sustentável, Engenheiro agrônomo, professor da Universidade Estadual de Alagoas/UNEAL, membro da Academia Brasileira de Extensão Rural/ABER, diretor do Sindagro, articulista da Tribuna Independente/Alagoas, Blog: sabecomquemestafalando.blogspot.com