Marcos Antonio Dantas de Oliveira[2]
Desde a sua origem, as cooperativas
representam uma forma de defesa contra os grandes poderes econômicos e políticos
constituídos – por vezes até religiosos. Lá se vão os longíquos anos do século
XIX quando o movimento cooperativista teve seu início, mais precisamente em
1844, quando a história nos apresentou os Princípios de Rochdale: adesão livre; controle democrático: “um homem, um voto”;
devolução do excedente ou retorno sobre as compras; juros limitados ao capital;
neutralidade política, religiosa e racial; vendas a dinheiro e à vista; e
fomento do ensino em todos os graus.
Estes sete princípios nortearam os caminhos
daqueles 27 tecelões da cidade inglesa de Rochdale quando resolveram montar um
armazém cooperado (Armazém Rochdale”) para se defender da opressão capitalista
e do crescente desemprego causado pela revolução industrial. Seu objetivo não
era o lucro – uma vez que iniciaram a cooperativa de consumo com a contribuição
individual de uma libra por mês, mas sim a criação de uma alternativa para
aquela situação de segregação porque passam à época. No final do primeiro ano –
depois da criação da cooperativa de consumo no chamado “Beco do Sapo” – já contavam
com o capital de 180 libras e dez anos depois, já somavam 1.400 cooperados.
As cooperativas representam, assim, uma
forma distinta de organização para encaminhar as produções ao mercado – no caso
das cooperativas agrícolas. Para outros tipos de cooperativas – como as de
consumo – o objetivo maior é comprar muito em conjunto e montar centrais de
comercialização para vender produtos com preço mais baixo que o mercado
tradicional. Para além dos aspectos econômicos, as cooperativas apresentam
formas inovadoras de educação, de participação cidadã e democrática em suas
comunidades, informações acerca da gestão de negócios e prática de ajuda mútua.
Mais recentemente tem-se praticado em profusão a ajuda entre cooperativas de
propósitos diferentes e de regiões diferentes – o chamado intercooperativismo!
Seu objeto de estudo, portanto, situa-se na
microeconomia clássica originalmente, e também nos estudos dos fenômenos de
grupos, da psicologia social. Mais recentemente, nos estudos sobre redes
sociais, teoria dos jogos e no jogo do ultimato. Um campo vasto e muito rico
que pode e deve ser melhor explorado em nossas organizações cooperativas. Mais
do que um agrupamento de pessoas no entorno de questões econômicas, as práticas
cooperativas passam por aspectos do crescimento das pessoas e do fortalecimento
de comunidades inteiras. A promoção do desenvolvimento de uma região pode,
assim, ser suportado pelo coletivo de cooperativas. É uma forma visionária e
pioneira de ampliação dos braços e pernas das administrações municipais. Ao revés
da disponibilização de apoio financeiro público para os grupos cooperativos a
proposta poderia ser de parceria e co-gestão dos serviços públicos. Serviços
como coleta de lixo, educação formal, feiras livres e diversos outros podem ser
compartilhados entre as administrações públicas e as cooperativas.
Os primórdios do princípio cooperativo
demandam organização (Conselhos de Administração) e fiscalização (Conselhos
Fiscais), para acompanhar os trabalhos dos dirigentes das cooperativas. Afinal,
esses dirigentes atendem a seus próprios interesses, na medida em que fomentam
os interesses dos membros das cooperativas. Percebemos com isso, que a
atividade de uma cooperativa não pode ser encarada de maneira amadora, uma vez
que seus dirigentes trabalharão com conhecimento específicos de gestão de negócios,
administração financeira e comercial, estratégias de longo prazo, além das
questões relativas ao processo de educação cidadã.
As cooperativas precisam competir e serem
eficientes no mercado. Conseguirão isso na medida em que melhor conseguirem se
organizar e combinar da forma mais eficiente possível aspectos como: inovação,
preços e especificidades/nichos; todos inerentes à administração de empresas
capitalistas. Agindo dessa forma, podem obter o melhor resultado dos dois
mundos: resultados econômicos e competitivos do lado capitalista e resultados
em termos de desenvolvimento humano e promoção da cooperação e da ajuda mútua,
inererentes aos aspectos da cooperação.
É preciso com isso, salientar a importância
da educação cooperativa. É preciso entender que uma nova cultura – se inicia
com o processo educacional. Portanto, vale a reflexão sobre o estado da educação
cooperativa nas empresas em nosso estado.
Importa também refletir sobre o estado das
organizações responsáveis por prover o apoio necessário às cooperativas.
Organismos responsáveis por associar cooperativas e cobrar por sua adesão, também
têm a obrigação de prover conhecimento técnico e ação educativa no caminho da
cooperação. Não se trata aqui de um apoio formal, instrumental ou técnico para
justificar a arrecadação de recursos. O apoio deve acontecer na forma de
comprometimento com os resultados cooperativistas. Seria um retorno a Rochdale!
Vale também mencionar a importância do
intercooperativismo. Como acontece a “cooperação entre cooperativas”? Aqui, é preciso
levar em conta a cooperação não apenas entre aquelas cooperativas do mesmo
tipo, do mesmo segmento. É mais que isso; é preciso fazer a intercooperação
entre cooperativas de produção e cooperativas de crédito – por exemplo. Entre
cooperativas profissionais e cooperativas de consumo.
A maioria das cooperativas locais trabalha
apenas com a categoria ‘economia’, negligenciando os aspectos de: intercooperação;
mutualismo; eventos sociais; ações ecológicas, etc. Os casos refletem sobre a
separação dos propósitos das cooperativas e do mundo político. O momento da
confusão dos interesses desses grupos (cooperativas – políticos – empresários) é
o início do declínio do movimento cooperativo - Salvemos a cooperativa!
Dito isso, convido-o para uma reflexão sobre o
ativismo e a prática cooperativista, faça-a como se fosse uma viagem inspiradora
para a promoção (e a prosperidade do 'dono-cooperado' e da cooperativa), do cooperativismo e do desenvolvimento de Alagoas!
Salve 30 de junho, dia Nacional do Cooperativismo - Vida longa para a Jorgraf/Cooperativa dos Jornalistas e Gráficos do Estado de Alagoas, para a Tribuna Independente!
Salve 30 de junho, dia Nacional do Cooperativismo - Vida longa para a Jorgraf/Cooperativa dos Jornalistas e Gráficos do Estado de Alagoas, para a Tribuna Independente!
[2] Mestre em Desenvolvimento Sustentável, Engenheiro
agrônomo, professor da Universidade
Estadual de Alagoas/UNEAL, membro da Academia Brasileira de Extensão Rural/ABER, diretor do
Sindagro, articulista da Tribuna Independente/Alagoas, Blog: sabecomquemestafalando.blogspot.com