Marcos Antonio
Dantas de Oliveira
Muito sofisma. Governo oferta o Pronaf, como estratégia garantidora da diversificação e aumento da produtividade, renda, emprego e da qualidade de vida dos agricultores e extrativistas familiares - dos povos e comunidades tradicionais. Anunciou 18 bilhões de reais para a safra 2012/13 [custeio e investimento], com juros subsidiados para comprar trator, resfriador de leite, genética, recuperar solos, irrigar cultivos, ofertar ecoturismo, cumprir a legislação ambiental, por exemplo.
Muito sofisma. Governo oferta o Pronaf, como estratégia garantidora da diversificação e aumento da produtividade, renda, emprego e da qualidade de vida dos agricultores e extrativistas familiares - dos povos e comunidades tradicionais. Anunciou 18 bilhões de reais para a safra 2012/13 [custeio e investimento], com juros subsidiados para comprar trator, resfriador de leite, genética, recuperar solos, irrigar cultivos, ofertar ecoturismo, cumprir a legislação ambiental, por exemplo.
É muito pouco
dinheiro para atender a demanda de pelo menos metade dos 4,3 milhões de
agricultores familiares. Pois, “um 1/3 dessas famílias produz apenas para se
alimentar e nem sequer vende a produção. Entre as demais, a renda média é de
apenas 13.600 reais por ano” (Exame, negócios/ agricultura, 13/jun/2012). E o
governo federal as coloca como classe média, renda familiar per capita por pessoa de 291 a 1.019 reais [SAE da Presidência da República] – um despautério.
Em verdade, elas estão
em iniquidade social – pois, o pequeno excedente comercializável por hectare
não dar conta de diminuir a extrema desigualdade de renda e patrimônio.
E independente do
financiamento, que ainda é para poucos. Invariavelmente, a maioria continua cultivando seus sistemas produtivos. É comum o
crédito da usura para incrementar a produtividade da terra e da mão de obra, que nem
sempre dá certo; ainda assim transferem suas rendas aos setores dominantes: comercial, financeiro, industrial e estatal de modo permanente e brutal, e inviabiliza
o êxito da atividade com repercussões ruins na unidade geográfica, produtiva,
social e familiar, principalmente, às crianças, jovens rurais e mulheres.
Ainda assim, sensíveis para produzir mais excedente por hectare, subsidiam a unidade produtiva com suas mais-valias e seus bens até o êxodo rural. E, endividados precarizam a sociabilidade familiar e do entorno. Assim continuam pobres.
Outro agravante, a
maioria desses agricultores está descapitalizada e em insegurança alimentar; é minifundiária
e analfabeta; é degradadora dos recursos naturais; e estão em insegurança
jurídica, portanto, com muitas dificuldades para planejar e executar as
atividades agrícolas e não agrícolas na unidade produtiva e familiar, seu negócio.
O que torna-os mais
vulneráveis ao mercado pela condição minifundiária [não incorpora as
externalidades: custos sociais e ecológicos ao sistema produtivo]; pelo baixo
grau de escolaridade [praticamente não há empreendorismo]; pelos custos de
produção irreais e pelos preços aviltados [limitam o uso de tecnologias,
inovações e seguros]; pelas ocupações e rendas precárias, instáveis e muitas ilegais estão na informalidade [do trabalho infanto-juvenil - um desrespeito ao ECA - à jornada ampliada e sem remuneração, principalmente das mulheres];
pela não agregação de valores aos bens e serviços migram em êxodo; pela taxa de
câmbio supervalorizado menos empregos; pelas importações subsidiadas mudanças
no perfil da demanda e da oferta; pela apatia dos agricultores ineficiência do serviço
de pesquisa, assistência técnica e extensão rural estatal e não estatal.
Esse modo de
produção e consumo também aniquila sistematicamente a lógica do agricultor e do
extrativista familiares – terra, água, trabalho e família – ora pela aceleração
da degradação do solo, da água, da biodiversidade;
pela precariedade do uso do patrimônio imaterial, ainda que rico; pela falta de
uma politica pública consistente aos jovens rurais e às mulheres – “Agricultoras
reclamam da dificuldade em acessar Pronaf Mulher em Mato Grosso (Globo
Rural,13/ago/2012). Efetiva-se, à vida indigna. E assim sua
penúria é solapada pela notoriedade midiática do Pronaf, e confirma-se o sofisma.
Ainda assim, ajudam a assegurar a dinâmica dos negócios e impostos nos municípios e estados, mesmo com empregos sem carteira assinada. Faturam rendas precárias – R$ 0,76 por litro de leite bovino pago ao agricultor familiar de Alagoas, pelo governo federal [80%] e estadual [20%] no programa do leite e sem reajuste desde 2010. Ademais, “produtores de leite de todo o país reclamam que o preço pago pela indústria não cobre os custos de produção. Para superar a crise e aumentar a margem de lucro, especialistas orientam que é preciso investir mais em tecnologia” (UOL Notícias, 17/08/2012). Dificultam seu acesso aos benefícios da seguridade social. Contribuem para aumentar o dano ecológico [“Mais de 27% do estado já começou a virar deserto” (Gazeta de Alagoas, 24/jan/10)].
Nessas condições,
produzir para o autoconsumo e ou para criar nichos de mercados de produtos e
serviços é possível ao apropriar-se dos recursos naturais e dos tributos; e assim pode intensificar o uso da terra [e dos recursos
genéticos e saberes tradicionais]; incrementar a produtividade de todos os fatores; administrar [e
contabilizar] os ativos e passivos; e ao gerar excedente por hectare garante a
segurança alimentar da unidade familiar com boas repercussões na unidade produtiva, social e
geográfica, e aos interesses dos consumidores, da sociedade. Será uma agricultura sustentável?
Só empoderados, os
agricultores e extrativistas familiares [povos e comunidades tradicionais], cidadãos
iguais e livres dialetize às Leis: 11.326 [Da Agricultura Familiar e dos
Empreendimentos Familiares Rurais] e a 12.188 [de ATER], vitais para que a política
de Educação no Campo; de Reforma Agrária; de Habitação Rural; de Juventude Rural;
de Seguridade Social; de Fortalecimento da Agricultura Familiar e outras
políticas públicas atuem como estratégias eficientes para sustentá-los em suas lógicas familiares: terra e água [coleta, cultivo, mito], trabalho
[pluriatividade e mais-valia] e família [sucessão, propriedade privada e comum,
patrimônio imaterial]. E por
meio do associativismo, principalmente, compre e venda produtos e serviços, e assegure renda líquida, inclusive para o
lazer a si [e sua família] e benefícios a outros trabalhadores da unidade
social e produtiva, como opção de permanência no campo.
“A politica
agrícola precisa atingir dois objetivos, dar oportunidades de modernização para
todos os agricultores e amparar aqueles que vão ficar à margem até que possam
ser absorvidos pelas cidades” [Alves, 2001].
Portanto, é pelo
controle dos recursos naturais e dos tributos que os agricultores e extrativistas familiares [os povos e comunidades tradicionais] usam essa política pública, e garante-lhes usufruto
dos bens primários [liberdades, cidadania, renda, felicidade.... ], vida digna.
Publicado pela Tribuna Independente, Maceió - Alagoas, 2012