domingo, 30 de abril de 2023

O livre-arbítrio do Homo sapiens sapiens

Marcos Antonio Dantas de Oliveira[1]

Em 2016, o Fórum Econômico Mundial, divulgou um vídeo, “Você não possuirá nada. E será feliz”.

O exímio Homo sapiens sapiens e as instituições políticas e econômicas extrativistas têm empregado as think tanks (instituições de diferentes naturezas: podem ser autônomas ou ligadas a governo, universidades, fundações, partidos políticos ou ao setor privado) e stakeholders que atuam em diversas áreas: segurança internacional, globalização, governança, economia internacional, meio ambiente, informação (Era Digital), sociedade, mercado, marketing, redução de desigualdades, educação, saúde para atingir seus objetivos e metas; por conseguinte, demarca e mantém o caos – oportuno e necessário abismo social entre os vários segmentos da sociedade: homens e mulheres, ricos e pobres, brancos e índios, brancos e pretos, índios e pretos escolarizados e analfabetos, príncipes e servos. E, inexoravelmente, sem nenhuma razoabilidade exacerba o afeto insociável, como nos ensina Adam Smith.

Homo sapiens sapiens apropria-se das instituições políticas e econômicas extrativistas para exercer uma vigorosa ditadura para o (des)conforto de suas vidas, usa seus julgamentos de valor que baseados na sua posição privilegiada e na "ética" de compadrio engendra seus desejos e demandas como direito secular; uma cultura senhorial, que usa o consumo como ferramenta para enfraquecer ou aniquilar outrem. 

Pois bem, a ditadura da minoria assegura seu bem viver pelo fortalecimento das instituições políticas e econômicas extrativistas, é uma ditadura exercida por pouquíssimas pessoas que ajudam a devastar a natureza pela forma mais degradante de consumo – ouro em pias e em ralos – a opulência [aqui se mede o tamanho da desigualdade pela avareza, soberba, luxúria], ora por excesso de prerrogativas econômicas e patrimoniais. Esses ditadores, ademais, usam suas influências e controles para negar a muitos outros indivíduos a realização de suas preferências temporais individuais e coletivas; bem como impossibilitá-los de exercitar o livre-arbítrio em todas as instâncias do fluxo circular da vida humana, e assim provocarem danos irreversíveis aos biótipos, biótopos e biomas, e com rigor a existência de muitas e muitas pessoas, mulheres e crianças, severamente; nesse caso, surge uma ditadura da maioria imposta por essas muitas e muitas pessoas que também devastam a natureza, ora pela forma mais decidida de resistência – lenha para cozinhar, aquecer e vender – a sobrevivência. 

Essa ditadura da maioria, por certo, também se mede pela falta ou insuficiência de prerrogativas econômicas e patrimoniais e nessa condição há pelo menos 3 milhões de agricultores familiares presentes em todos os estados, desses 3 milhões, a maioria estão nos estados nortistas e nordestinos, inclusive, pela maior necessidade e oportunidade de um serviço estatal e não estatal de pesquisa agropecuária e extensão rural eficiente. Logo, esses 3 milhões vivem precariamente por não usufruir de bens primários, seus julgamentos de valor estão aprisionados pelas éticas de compadrio postas pelos mandatários dessas instituições extrativistas.

O exímio Homo sapiens sapiens, então, tanto na ditadura da minoria quanto na ditadura da maioria usa o exercício arbitrário; um utiliza o poder, age como condutor do controle social; o outro utiliza a troca (recompensas), age como chefe e faz o controle social, esses controles sociais são comuns nas suas instituições extrativistas políticas e econômicas, enquanto a poderosa ditadura da minoria detém muita riqueza e renda privadas, a frágil ditadura da maioria detém pouca riqueza e rendas privadas. Todavia, em ambas, o onipresente Estado coercitivo e compulsório está presente com sua vigorosa e rigorosa logística para fazer valer o império da lei.

É o exímio Homo sapiens sapiens que emulando, competindo e cooperando pacífica e espontaneamente nessa era digital interage como líder, usa a autoridade para atingir a meta coletiva, e utiliza as think tanks e stakeholders para levarem suas instituições inclusivas políticas e econômicas à prosperidade e ao bem viver, salvaguardadas em Aristóteles pela ‘philia’, vínculo de união ou de interesse entre os homens e pelo Estado de Direito – que "significa que todas as ações do governo são regidas por normas previamente estabelecidas e divulgadas – as quais tornam possível prever com razoável grau de certeza de que modo a autoridade usará seus poderes coercitivos em dadas circunstâncias, permitindo a cada um planejar suas atividades com base nesse conhecimento" (HAYEK)”.

É o Homo sapiens sapiens no exercício de sua individualidade – pois "ação é a vontade posta em movimento e transformada em força atuante; é almejar fins e metas; é a significativa resposta do ego aos estímulos e às condições de seu ambiente; é o consciente ajuste de uma pessoa ao estado do universo que determina a sua vida", diz Mises – que pode e deve solucionar essas divergências ao exercitar o Estado de Direito e participar do banquete da liberdade individual para realizar suas preferências temporais, individual e coletiva, hoje e amanhã, livre numa ordem ampliada – ou “Você não possuirá nada. E será feliz”.



[1] Mestre em Desenvolvimento Sustentável, Engenheiro Agrônomo, professor da Universidade Estadual de Alagoas/UNEAL, membro da Academia Brasileira de Extensão Rural/ABER, dirigente sindical, articulista da Tribuna Independente/Alagoas, Blog: sabecomquemestafalando.blogspot.com