Marcos Antonio Dantas de Oliveira[1]
Por isso, é oportuno entendermos
a degradação social vivida por seu Mané, dona Maria, sua família e tantos
outros agricultores e extrativistas familiares, povos e comunidades
tradicionais. E eles refletirem sobre como saírem dessa degradação; e entenderem
sua relevância como produtores e consumidores de alimentos, fibras, [bio]energia,
postos de trabalhos, rendas e tributos; enfim, e como cidadãos iguais e livres protagonizarem seu acesso e usufruto aos bens primários, objetivando seu bem-estar e da sociedade.
Ressalte-se essa penúria: em
Alagoas, mais da metade da população vive em pobreza [ganha até 1/2 salário
mínimo], nessa condição, o agricultor-contribuinte, seu Chico. Está posta sua
condição econômica. E, a sua condição social também é indesejável, pois os
serviços sociais de saúde, segurança pública e educação [alto número de
analfabetos] de tão frágeis acentuam a ineficácia dos governos municipal,
estadual e federal em atendê-lo, em suas necessidades e demandas; seu lar
precário reflete o abandono ao setor habitacional rural [déficit de 40 mil
lares em Alagoas] pelos governos, sem financiamento nas mesmas condições do citadino [Exceção o Programa Nacional de Habitação Rural]; gera empregos informais e precários, e rendas baixas e instáveis, ainda usa a mão obra infanto-juvenil. O setor agrícola é o que mais usa essa mão de obra –
uma afronta ao Estatuto da Criança e do Adolescente/ECA;
e pelo baixo valor de suas aposentadorias e de suas bolsas-família, a família rurícola [avós, pais, filhos e netos] também recorre
ao crédito da usura, oficial ou não para sobreviver. E termina por transferir continuadamente por anos o suor do trabalho da família à conta-corrente dos setores: industrial, comercial, financeiro e estatal.
Aliás, seu João e família, em sua
propriedade degradam a paisagem, os biomas [água, terra e ar], e a degradação
crescente desses potenciais é o resultado também da intensificação e mau manejo
de práticas agrícolas – com perda de fertilidade, aumento de erosões e
salinizações dos solos; pela contaminação dos solos e mananciais hídricos por
adubos, agrotóxicos, lixos; e pela perda da biodiversidade, inclusive a
genética –, e pela intensificação do consumo de produtos e serviços aplaca a fome do estômago de muitos e de uns poucos pela luxúria. O desrespeito às
normas ambientais ajuda-os participar do mercado produtor e consumidor como à
sobrevivência de muitos, inclusive em aterros sanitários. Ora um despautério, à
ineficácia do Estado: da fiscalização do IBAMA e IMA às políticas de inclusão
social e digital; da sonegação e da renúncia fiscal à ineficácia da pesquisa,
da ATER, do crédito e da capacitação de agricultores, familiares e técnicos.
Contudo, o
governo Estadual tem programa bem intencionado: Alagoas, Desenvolvimento com
Bem-Estar Social, e seu Eixo Indústria e Agronegócio, anuncia as diretrizes:
desenvolvimento integrado do agronegócio; garantia da assistência técnica e
extensão rural e urbana com qualidade; promoção da agricultura familiar
sustentável – por exemplo: Para isso o rio deve deixar de ser propaganda [Canal
do Sertão, será preciso mais quantos anos para que a produtividade de todos os
fatores promova renda líquida positiva para os agricultores e extrativistas
familiares, dos povos e comunidades tradicionais, principalmente, dos 42
municípios] –; e, apoio ao processo de reforma agrária, mas o interesse em
promovê-lo é pífio.
Nem o programa, nem o discurso encantou alguém, o que frustra dona Tercília e família, ávidos para melhorarem suas posições na distribuição da renda – 43% dos trabalhadores não têm renda, segundo o IPEA (Gazeta de Alagoas, 2010) – apesar da riqueza confirmada pelo avanço do PIB – "Alagoas: PIB 2012 supera média nacional - Valor supera em cinco vezes e índices apontam crescimento maior que três estados do Nordeste" (Tribuna Independente, 13/abr/2013). Mas, Alagoas continua com os piores indicadores sociais e econômicos do País.
Nem o programa, nem o discurso encantou alguém, o que frustra dona Tercília e família, ávidos para melhorarem suas posições na distribuição da renda – 43% dos trabalhadores não têm renda, segundo o IPEA (Gazeta de Alagoas, 2010) – apesar da riqueza confirmada pelo avanço do PIB – "Alagoas: PIB 2012 supera média nacional - Valor supera em cinco vezes e índices apontam crescimento maior que três estados do Nordeste" (Tribuna Independente, 13/abr/2013). Mas, Alagoas continua com os piores indicadores sociais e econômicos do País.
[1]
Engenheiro Agrônomo, mestre em Desenvolvimento Sustentável, membro da Academia
Brasileira de Extensão Rural, extensionista da EMATER/AL e professor da Universidade Estadual de Alagoas/UNEAL.
Blog: sabecomquemestafalando.blogspot.com
Um recado certeiro para essa sociedade apática. Lúcia
ResponderExcluirVocê é um ótimo animador. Toninho
ResponderExcluirO nosso confrade da ABER e escritor, MARCOS DANTAS, sempre oportuno e preciso nos seus textos, faz um trabalho a bem da reflexão e do pensamento. Permita-me, mas, estou repassando para outros contatos.
ResponderExcluirParabéns, um abraço,
Verneck
Muito boa a observação do Verneck. Eu também repasso seus textos. Vanessa
ResponderExcluirComo a escola de qualidade faz falta. gustavo
ResponderExcluiralagoas camiha no caminho serto! caminho serto de ode da degradação? A mídia infeita muito quero ver provar:
ResponderExcluirPara diminuir a pobreza, a escola tem função vital. Rubens
ResponderExcluirAlagoas precisa avançar muito nos indicadores sociais. Fernando
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