Marcos Antonio Dantas de Oliveira
Em Alagoas, é de relevância observar os indicadores educacionais sob o ponto de vista do PEA [População Economicamente Ativa] eles oferecem uma oportunidade ímpar para revelar, segundo o IBGE/PNAD [2005], que o número elevado de indivíduos sem instrução [26%], bem como, aqueles que têm de 1 a 7 anos de estudo [43%], é de maioria adulta. E como os rurícolas, os agricultores, extrativistas, pescadores e suas famílias aqui se situam; é dramática, a baixa escolaridade dos responsáveis pelos estabelecimentos o que acarreta-lhes dificuldades para o exercício da cidadania, do contraditório e até do simples diálogo; sobretudo, é traumática, porque é baixo o processo de aceitação e adoção de inovações em suas unidades de produção, extração [agrícola, extrativista e pesqueira] e social, em seus modos de vida – quando da produção e uso de alimentos, fibras e [bio]energia no campo como no interior de seus lares.
Outro dado importante: no perfil do eleitorado, 44% de analfabetos com direito a voto [TRE/AL, 2007] evidencia a prática de interlocução: “sabe com quem está falando” ou “do homem cordial”; que de autoritária e hierárquica, é usual e propaga-se com vigor nos Brasis, e ainda mais rigorosamente em Alagoas, solapando o acesso dos agricultores, dos extrativistas, dos pescadores, dos familiares e dos seus organismos sociais à liberdade individual e coletiva: ao mundo democrático da internet e ao estado de bem-estar da [e de] vida humana, por exemplos.
Importante também: o lucro líquido no primeiro semestre de 2010, do Bradesco foi de 4,51 bilhões de reais [Gazeta de Alagoas, 29/jul/2010]. Seus donos estão na classe A [acima de 30 salários mínimos, e com consumo voraz dos bens e serviços naturais e produzidos]. Entretanto, para o ministro Paulo Bernardo [Tribuna Independente, 12/nov/2009]: “É um recado bom para a sociedade porque os bancos estão ganhando dinheiro com operações de mercado e com juros mais baratos” – É barato! Taxa média de juros pessoa física de 40,4% ao ano [Gazeta de Alagoas, 28/jul/2010], enquanto, o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) é de 4,60%, nos últimos 12 meses [IBGE] – uma brutal transferência de renda a terceiros, ou melhor, principalmente à conta corrente dos setores industrial, comercial e financeiro, numa clara demonstração de como os negócios privados [esfera privada onde impera a desigualdade, o egoísmo] se apropriam da riqueza privada e pública de todos.
E relevante: entre os tomadores do crédito consignado, 79,8% ganham até um salário mínimo [INSS, 2008], e estão na classe E [até dois salários mínimos, dá para consumir o quê?] e utilizam o crédito usurário para comprar roupas e alimentos, principalmente, e revelam sua penúria social e patrimonial; entre eles, rurícolas, os extrativistas, pescadores, agricultores familiares – o agricultor familiar fica R$ 0,12 de cada R$ 1,00 gerado da agricultura familiar, enquanto, R$ 0,18 com quem comercializa sementes e outros insumos e R$ 0,70 com quem industrializa e comercializa, afirma Duarte et al.,(2006). E essa renda transferida escraviza os que mais trabalharam e trabalham, e menos ganham – aposentados e rurícolas – “SPC em Alagoas: 34,86% sem crédito” [Tribuna Independente, 25/jul/2010].
Nesta condição, o crédito usurário alivia momentaneamente a precariedade social, mas logo a seguir repercute negativamente na unidade familiar pelo endividamento e posteriormante pela alta inadimplência, repercute também na unidade social. Primeiro, às pequenas mercearias, em seguida aos bancos, acentuando a dilaceração do tecido familiar e do entorno.
Ainda mais quando, Alagoas tem 123.331 estabelecimentos, e desses 77,7% teem até 10 ha, e ocupam 10,5% da área total (Censo Agropecuário, 2006). Em Alagoas, o faturamento anual do setor foi de R$ 1.100,00 por ha/ano (IBGE, 2008). É uma situação bem mais caótica, que no nordeste; e o nordeste está em situação muito pior que as três regiões [Centro-Oeste, Sudeste e Sul]. Somente as classes de área igual ou superior a 200 ha oferecem remuneração superior ao salário mínimo. Ademais, tanto o estabelecimento minifundiário como a renda baixa e instável precarizam a situação da família campesina e às do seu entorno. Aqui, uma das explicações para o êxodo rural, que continua vigoroso no Nordeste e em Alagoas.
Agricultores, extrativistas, pescadores, rurícolas, suas famílias e suas representações, ainda mais pelas suas penúrias: social, patrimonial e ecológica, ao exercitar suas individualidades, ora expressa pela cidadania igual e pelas liberdades reais para escolher os encargos e benefícios sociais da vida em sociedade; assegurem que o resultado de suas labutas diárias proporcione-lhes: acúmulo de riqueza privada e participações na distribuição da riqueza pública; e oportunizam o acesso aos direitos [moradia, alimentação, educação, saúde, lazer, vestuário, seguridade social, propriedade, renda não produtiva...], e aos deveres [defender e preservar à natureza, à família, o patrimônio imaterial], enfim, seus modos de vida.
Está dado o recado.
Artigo publicado pela Tribuna Independente, Maceió - Alagoas, 2010 publicado pelo jornal: Tribuna Independente, Maceió – Alagoas, 2010
Começo o comentário com a frase do autor: uma brutal transferência de renda a terceiros, deixa o agricultor à mingua.E não há outro caminho, cidadania igual neles, Lúcia
ResponderExcluirO agricultor familiar fica R$ 0,12 de cada R$ 1,00 gerado da agricultura familiar, é prova que faltava a muitos técnicos, inclusive do governo de que a situação do homem do campo é de pobreza. Não há mídia que resista. Excelente texto, Tião
ResponderExcluirE Alagoas com mais de 90% de agricultores familiares mostra a situação crítica em que vivem essas famílias e a omissão do estado em atendê-las com decência. Antônio
ResponderExcluirO texto e as colocações feitas nos comentários acima deixam claro, que como técnicos temos que melhorar em muito nossa atuação junto aos agricultores, Rita
ResponderExcluirUm texto para ler mais de uma vez, polêmico e esclarecedor, Diogo.
ResponderExcluirAcredito que só com o exercício da cidadania é possível avançar na melhoria das condições de vida. O texto assim insinua e eu aprovo, Alexandre
ResponderExcluirUm texto educativo, Artur
ResponderExcluirPrecisamos colocar em nossas pautas, o tema: transferência de rendas dos agricultores familiares a terceiros, como forma de melhorar suas vidas, Otávio.
ResponderExcluirParabéns pelo artigo, Renan.
ResponderExcluirCom um faturamento de R$ 1.100,00 por ha/ano, uma família de agricultor com prole ainda numerosa e pouco terra e sem políticas públicas eficientes, resta-lhes continuar em vida penosa.Ademar
ResponderExcluirLeio e uso em algumas aulas minhas, Edgar.
ResponderExcluirUm show de artigo, Flávio.
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