sábado, 7 de agosto de 2010

Anote o RECADO!

Marcos Antonio Dantas de Oliveira


Em Alagoas, é de relevância observar os indicadores educacionais sob o ponto de vista do PEA [População Economicamente Ativa] eles oferecem uma oportunidade ímpar para revelar, segundo o IBGE/PNAD [2005], que o número elevado de indivíduos sem instrução [26%], bem como, aqueles que têm de 1 a 7 anos de estudo [43%], é de maioria adulta. E como os rurícolas, os agricultores, extrativistas, pescadores e suas famílias aqui se situam; é dramática, a baixa escolaridade dos responsáveis pelos estabelecimentos o que acarreta-lhes dificuldades para o exercício da cidadania, do contraditório e até do simples diálogo; sobretudo, é traumática, porque é baixo o processo de aceitação e adoção de inovações em suas unidades de produção, extração [agrícola, extrativista e pesqueira] e social, em seus modos de vida – quando da produção e uso de alimentos, fibras e [bio]energia no campo como no interior de seus lares.


Outro dado importante: no perfil do eleitorado, 44% de analfabetos com direito a voto [TRE/AL, 2007] evidencia a prática de interlocução: “sabe com quem está falando” ou “do homem cordial”; que de autoritária e hierárquica, é usual e propaga-se com vigor nos Brasis, e ainda mais rigorosamente em Alagoas, solapando o acesso dos agricultores, dos extrativistas, dos pescadores, dos familiares e dos seus organismos sociais à liberdade individual e coletiva: ao mundo democrático da internet e ao estado de bem-estar da [e de] vida humana, por exemplos.


Importante também: o lucro líquido no primeiro semestre de 2010, do Bradesco foi de 4,51 bilhões de reais [Gazeta de Alagoas, 29/jul/2010]. Seus donos estão na classe A [acima de 30 salários mínimos, e com consumo voraz dos bens e serviços naturais e produzidos]. Entretanto, para o ministro Paulo Bernardo [Tribuna Independente, 12/nov/2009]: “É um recado bom para a sociedade porque os bancos estão ganhando dinheiro com operações de mercado e com juros mais baratos” – É barato! Taxa média de juros pessoa física de 40,4% ao ano [Gazeta de Alagoas, 28/jul/2010], enquanto, o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) é de 4,60%, nos últimos 12 meses [IBGE] – uma brutal transferência de renda a terceiros, ou melhor, principalmente à conta corrente dos setores industrial, comercial e financeiro, numa clara demonstração de como os negócios privados [esfera privada onde impera a desigualdade, o egoísmo] se apropriam da riqueza privada e pública de todos.


E relevante: entre os tomadores do crédito consignado, 79,8% ganham até um salário mínimo [INSS, 2008], e estão na classe E [até dois salários mínimos, dá para consumir o quê?] e utilizam o crédito usurário para comprar roupas e alimentos, principalmente, e revelam sua penúria social e patrimonial; entre eles, rurícolas, os extrativistas, pescadores, agricultores familiares – o agricultor familiar fica R$ 0,12 de cada R$ 1,00 gerado da agricultura familiar, enquanto, R$ 0,18 com quem comercializa sementes e outros insumos e R$ 0,70 com quem industrializa e comercializa, afirma Duarte et al.,(2006). E essa renda transferida escraviza os que mais trabalharam e trabalham, e menos ganham – aposentados e rurícolas – “SPC em Alagoas: 34,86% sem crédito” [Tribuna Independente, 25/jul/2010].


Nesta condição, o crédito usurário alivia momentaneamente a precariedade social, mas logo a seguir repercute negativamente na unidade familiar pelo endividamento e posteriormante pela alta inadimplência, repercute também na unidade social. Primeiro, às pequenas mercearias, em seguida aos bancos, acentuando a dilaceração do tecido familiar e do entorno.


Ainda mais quando, Alagoas tem 123.331 estabelecimentos, e desses 77,7% teem até 10 ha, e ocupam 10,5% da área total (Censo Agropecuário, 2006). Em Alagoas, o faturamento anual do setor foi de R$ 1.100,00 por ha/ano (IBGE, 2008). É uma situação bem mais caótica, que no nordeste; e o nordeste está em situação muito pior que as três regiões [Centro-Oeste, Sudeste e Sul]. Somente as classes de área igual ou superior a 200 ha oferecem remuneração superior ao salário mínimo. Ademais, tanto o estabelecimento minifundiário como a renda baixa e instável precarizam a situação da família campesina e às do seu entorno. Aqui, uma das explicações para o êxodo rural, que continua vigoroso no Nordeste e em Alagoas.


Agricultores, extrativistas, pescadores, rurícolas, suas famílias e suas representações, ainda mais pelas suas penúrias: social, patrimonial e ecológica, ao exercitar suas individualidades, ora expressa pela cidadania igual e pelas liberdades reais para escolher os encargos e benefícios sociais da vida em sociedade; assegurem que o resultado de suas labutas diárias proporcione-lhes: acúmulo de riqueza privada e participações na distribuição da riqueza pública; e oportunizam o acesso aos direitos [moradia, alimentação, educação, saúde, lazer, vestuário, seguridade social, propriedade, renda não produtiva...], e aos deveres [defender e preservar à natureza, à família, o patrimônio imaterial], enfim, seus modos de vida.


Está dado o recado.



Artigo publicado pela Tribuna Independente, Maceió - Alagoas, 2010 publicado pelo jornal: Tribuna Independente, Maceió – Alagoas, 2010

12 comentários:

  1. Começo o comentário com a frase do autor: uma brutal transferência de renda a terceiros, deixa o agricultor à mingua.E não há outro caminho, cidadania igual neles, Lúcia

    ResponderExcluir
  2. O agricultor familiar fica R$ 0,12 de cada R$ 1,00 gerado da agricultura familiar, é prova que faltava a muitos técnicos, inclusive do governo de que a situação do homem do campo é de pobreza. Não há mídia que resista. Excelente texto, Tião

    ResponderExcluir
  3. E Alagoas com mais de 90% de agricultores familiares mostra a situação crítica em que vivem essas famílias e a omissão do estado em atendê-las com decência. Antônio

    ResponderExcluir
  4. O texto e as colocações feitas nos comentários acima deixam claro, que como técnicos temos que melhorar em muito nossa atuação junto aos agricultores, Rita

    ResponderExcluir
  5. Um texto para ler mais de uma vez, polêmico e esclarecedor, Diogo.

    ResponderExcluir
  6. Acredito que só com o exercício da cidadania é possível avançar na melhoria das condições de vida. O texto assim insinua e eu aprovo, Alexandre

    ResponderExcluir
  7. Um texto educativo, Artur

    ResponderExcluir
  8. Precisamos colocar em nossas pautas, o tema: transferência de rendas dos agricultores familiares a terceiros, como forma de melhorar suas vidas, Otávio.

    ResponderExcluir
  9. Parabéns pelo artigo, Renan.

    ResponderExcluir
  10. Com um faturamento de R$ 1.100,00 por ha/ano, uma família de agricultor com prole ainda numerosa e pouco terra e sem políticas públicas eficientes, resta-lhes continuar em vida penosa.Ademar

    ResponderExcluir
  11. Leio e uso em algumas aulas minhas, Edgar.

    ResponderExcluir
  12. Um show de artigo, Flávio.

    ResponderExcluir