domingo, 30 de junho de 2019

O chefe e sua ética de compadrio

           Marcos Antonio Dantas de Oliveira[1]

As cooperativas, por certo, precisam transformar a oferta e a demanda inelásticas do produto e/ou serviço dos ‘donos-cooperados’, em oferta e demanda elásticas os produtos in natura, artesanais e industrializados. A elasticidade é uma oportunidade ímpar para negociar em mercados desafiadores: mercado interno, por exemplo, pelo acesso ao mercado de compra governamental [apesar do baixo valor per capita por agricultor, devido ao baixo montante monetário ofertado pelo governo e o número alto de agricultores em condições de negociar] e ao mercado externo; para isso, o governo federal precisa garantir que o Sistema Harmonizado de Mercadorias da Organização Mundial do Comércio/OMC – o Acordo sobre Agricultura [baseado nos critérios: apoio interno, acesso a mercados, subsídios à exportação] não exclua esses beneficiários, enquanto produtores e consumidores de bens e serviços.

Via de regra, as cooperativas continuam inviabilizando o negócio social e econômico por não fazerem planejamento [por exemplo, utilizando o método 5W2H] e gestão estratégica, e por falta de capacitação de dirigentes e ‘donos-cooperados’ sobre as ferramentas de análise e gerenciais; bem como não há qualquer diretor nem empregado com formação em Administração nessas cooperativas. No estado de Alagoas, por exemplo, ainda que a Universidade Estadual de Alagoas/UNEAL, a Universidade Federal de Alagoas/UFAL e cursos à distância pela Universidade Norte do Paraná/UNOPAR e pela Universidade Tiradentes/UNIT ofereçam cursos de Administração em Arapiraca/AL.

O modelo de negócio e a estratégia de tão primitivas anulam a missão, a visão de futuro, os valores, o marketing, o posicionamento estratégico e a proposta de valor, no dia a dia, dessas cooperativas; por conseguinte têm uma gestão baseada no clima e na cultura organizacionais tipicamente personalista, paternalista e de lealdade ao dirigente. Seus dirigentes atuam, em geral, como chefes, pois usam a ética de compadrio a troca como meio de “controle ou influência tendo por base recursos materiais e recompensas na forma de remuneração pelo recebimento de algum tipo de contribuição”, diz Bernardes (2009).

O êxito do clima e da cultura organizacionais, uma vez que, estão alicerçados numa vigorosa ética de compadrio, como resultado do exercício arbitrário do Estado (Poderes: Executivo, Legislativo e Judiciário) e das oligarquias política e econômica numa ação combinada com os dirigentes-chefes, também é agravado pela baixa participação cognitiva, instrumental, política e social da grande maioria dos ‘donos-cooperados’; e numa outra prática de exercício arbitrário muito usual: o edital de convocação dessas cooperativas quando de sua publicação, observa-se que 'os donos-cooperados' deliberam e aprovam em assembleia qualquer assunto em 3ª (terceira) convocação com um mínimo de 10 (dez) cooperados ou com qualquer número de cooperados. E entre tantos outros motivos, a ética de compadrio e o edital de convocação são atualmente os motivos mais extremados pelos quais as cooperativas são ineficazes e malvistas no cumprimento de seus estatutos – esse "menosprezo pelo exercício da democracia direta” (OLIVEIRA, 2013) dos ‘donos-cooperados' e dos dirigentes aniquilam o ativismo, a prática cooperativista, o resultado econômico e social, a prosperidade e o bem-estar pelo usufruto dos bens primários: individualidade, liberdade, posse, confiança e felicidade (OLIVEIRA, 2013) ­­– essa prática efetiva o insucesso dessas cooperativas.

E assertivamente diz Bastiat (2010): “se cada homem tem o direito de defender – até mesmo pela força – sua pessoa, sua liberdade e sua propriedade, então os demais homens têm o direito de se concertarem, de se entenderem e de organizarem uma força comum para proteger constantemente esse direito”.





[1] Mestre em Desenvolvimento Sustentável [engenheiro agrônomo], professor da Universidade Estadual de Alagoas/UNEAL, membro da Academia Brasileira de Extensão Rural/ABER, diretor do Sindagro, articulador da Tribuna Independente – Maceió/AL Blog:   sabecomquemestafalando.blogspot.com 




10 comentários:

  1. Fico claro nossa apatia para exercemos a liberdade individual, daí o êxito de chefe. Toninho

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  2. A utilização de profissionais competentes podera as cooperativas serem viabilizadas.

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  3. Poderia haver o incentivo por parte de organizações governamentais que mostrasse tamanha importância de capacitados à frente de cooperativas, visando as vantagens que isso poderia trazer como um bem comum a todos os envolvidos.

    Débora Barbosa

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  4. Este comentário foi removido pelo autor.

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  5. O cooperativismo brasileiro precisa resgatar a cultura cooperativista que vem sendo esquecida pelos seus membros, a união está dando lugar aos interesses particulares. Os cooperados estão perdendo a motivação, a participação e o comprometimento com a cooperativa. Surge também a necessidade de capacitação profissional dos dirigentes e profissionais das cooperativas, bem como dos cooperados.

    José Carlos dos Santos Silva

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  6. É verdade que os donos-cooperados fazem pouco caso de sua cooperativa. Celso

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  7. Chega-se de donos nas cooperativas. Marcel

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  8. Como é difícil internalizar e fazer acontecer as coisas. Mas Bastiat está certo. Ronaldo

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  9. Precisamos ler mais sobre liderança e chefia. Luiza

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