Marcos
Antonio Dantas de Oliveira[1]
Em meados do
século XVIII, o processo de industrialização dava seus passos iniciais e, com
ele, a sistematização de trabalho. Nesse sentido, a fábrica, esse elemento
novo, provocou deslumbramento na sociedade e as mulheres agora podiam
empregar-se, como também as crianças atendiam a esse chamamento, um gesto que
modificou a relação entre mulher e homem. O tempo mostrou que essa invenção, a
fábrica, foi percebida pelas famílias como um estorvo, pois, com aquele
horário, dezesseis horas, não sobravam mais tempo para as conversas sobre o
cotidiano, as brincadeiras lúdicas e as crianças ressentiam essa falta. O
nascente capitalismo tomou para si as rédeas desse processo sempre em franca e
crescente prosperidade da indústria da flanela de Rochdale, da Inglaterra de
1843, os tecelões – adultos e crianças, homens e mulheres –, continuavam a
trabalhar com horário extenuante e mal remunerado, tornou-se o senhor das vidas
dos operários e de suas famílias. A situação precária sócio-econômica em que
viviam os tecelões fez com que estes reagissem.
A ocasião era oportuna para solicitar aumento em seus salários; “hão de
ver quem somos nós!” (HOLYOAKE). E, em comissão, lá foram eles, ao encontro dos
industriais. Não! Foi a resposta que obtiveram, e alguns deles preferiram
fechar as portas de suas fábricas.
Frustrado
o intento. Em um desses dias sombrios de novembro de 1843, os operários
resolveram discutir quais soluções seriam possíveis, para o enfrentamento dessa
situação de penúria em que se encontravam, e elencaram várias possibilidades:
pedir proteção da lei dos indigentes? Deviam migrar? No entanto foram os ideais
dos socialistas utópicos, Robert Owen e Doutor Willam king, que nortearam a
decisão de criarem um armazém cooperativo de consumo. E, na noite de 24 de outubro de 1844, a Sociedade dos
Probos Pioneiros de Rochdale, localizada na Travessa do Sapo, abre suas portas
para atendimento aos operários e suas famílias, baseada em princípios [regras]
bem estabelecidos: “1 - Governo democrático da sociedade, cada sócio tendo
direito a um só voto, independentemente do capital que tivesse investido; 2 - A
sociedade estava aberta a qualquer pessoa que quisesse se associar, desde que integrasse
uma cota do capital; [...] ; 7- Desenvolvimento da educação cooperativa dos
sócios – uma das herança de Owen; 8 - A sociedade seria neutra, política e
religiosamente (PINHO). Esses princípios balizam até hoje qualquer estatuto de
uma cooperativa onde quer que ela se localize, no hemisfério norte ou sul, nas
sociedades ricas ou pobres, em países credores ou devedores.
E
Mladenatz (2003) resume bem a importância dessa organização, afirmando que “a
generalização dessas associações permite realizar uma ordem econômica e social
capaz de fundar-se não sobre a luta, mas sobre o entendimento, não sobre o
espírito da competição, mas sobre a solidariedade, não sobre a dominação da
empresa lucrativa, mas sobre a colaboração com o trabalhador”. A idéia de
auto-ajuda contida na proposta cooperativista está em constante movimento e,
por isso, realiza-se nas mais diversas e numerosas categorias: sociedades, sofrimentos,
soluções e desejos. Desde então, tanto outros sonhadores-precursores-estudiosos
– Owen, King, Bellers, Fourier, Blanc, Gide, padre Arizmendiarrieta, Boettcher,
Benecke, Filene, Pinho, Singer, Mladenatz e outros que continuam a iluminar o
mundo com seus ideais e realizações, para transformar o ambiente social. Essa
idéia tem ressonância na região fumageira de Arapiraca, Alagoas, Brasil e
começa com o entusiasmo de Lourenço de Almeida. Em 1963, funda-se a primeira
cooperativa agrícola na região, conhecida por CAPIAL/Cooperativa Agro-pecuária
e Industrial de Arapiraca Limitada. Obteve sucesso entre os anos de 1978-1983,
hoje vive sua fase de estagnação, mas continua a ser uma referência sobre a
execução ou não do seu estatuto social.
Assim
sendo, é importante compreender o mundo em que vivemos e também como nos
posicionamos no mundo. Dentro dessa ótica, indaga-se: como o associativista
pensa e age nas sociedades e nos agrupamentos humanos os mais diversos
possíveis para atingir posições confortáveis, garantidoras de relevância
social, redistribuição econômica e prudência ecológica em um mundo tão
hierarquizado e autoritário? Muitos estudiosos, entre eles Ignacy Sachs e Fritjof
Capra, comentam sobre um sistema de produção e consumo respeitador do meio
ambiente, onde a sustentabilidade definida como eficácia econômica, social e
ambiental atenda às necessidades e desejos da geração atual e das gerações
futuras.
Esse sistema atende pelo nome de desenvolvimento sustentável, que é
um processo dialético, de desinteresse mútuo, de cidadania igual e de
liberdades reais, que compartilhado pelas diversas categorias [conflito] ao
preservarem, conservarem e utilizarem os recursos naturais e os tributos,
transforma-os em bens e serviços: do autoconsumo ao mercado, do PIB às rendas
[gestão] destinados ao bem-estar social e ecológico de todos no presente e no
futuro [justiça social] (OLIVEIRA, 2010); elegendo critérios que possam mitigar
os danos ambientais, ei-los: social, cultural, ecológico, ambiental,
territorial, econômico, política nacional e política internacional (SACHS, 2000),
sobretudo baseado na alfabetização ecológica e seus princípios:
interdependência, reciclagem, parceria, cooperação, fluxo cíclico dos processos
naturais, flexibilidade, diversidade (CAPRA, 2002), promovam o bem-estar com
todos pelo acesso e pelo usufruto dos bens primários propostos por Rawls (2002)
e van Parijs (1997): autoestima, inteligência, imaginação, saúde e vigor,
direitos, liberdades e oportunidades, renda, riqueza.
De modo que, não há nenhuma razoabilidade
no excesso de bens de uns poucos e na carência de bens de muitos, já observava
o filósofo Aristóteles (384 - 322 a.C) – leia mais sobre essa desigualdade crescente:
na Carta Encíclica Papal: RERUM NOVARUM -http://w2.vatican.va/content/leo-xiii/pt/encyclicals/documents/hf_l-xiii_enc_15051891_rerum-novarum.html no http://g1.globo.com/economia/noticia/2015/08/71-mil-brasileiros-concentram-22-de-toda-riqueza-veja-dados-da-receita.html
Destarte, o ativismo e a prática
cooperativista são algumas das ferramentas capazes de fazer o enfrentamento e tirar proveito dessa onda globalizante, que tem sido perversa o suficiente, para aniquilar
desde os estilos de vida mais prosaicos dos povos autóctones e tradicionais,
como também daqueles que sobrevivem das migalhas do processos
científico-tecnológico tanto pela tirania do capital e do mercado; pela apatia
da maioria dos “donos-cooperados” e da sociedade em cumprir suas normas, pela
ineficiência do Estado em assegurá-lo como uma associação de iguais como pela crise de percepção a tudo que nos rodeia e nos amedronta tem inviabilizado nosso bem-estar pelo usufruto dos bens primários: autoestima,
inteligência, imaginação, saúde e vigor, direitos, liberdades e oportunidades,
renda, da riqueza.
.
[1] Mestre em Desenvolvimento Sustentável, membro da
Academia Brasileira de Extensão Rural/ABER, professor da UNEAL,
extensionista da EMATER-AL/Carhp, diretor do SINDAGRO, articulista da
Tribuna Independente, Maceío/AL.
Blog: sabecomquemestafalando.blogspot.com
Um artigo oportuno para avaliar a cooperativa e suas práticas. Toninho
ResponderExcluirNo mês de celebração do cooperativismo, nada mais sensato do que ler esse artigo.
ResponderExcluirA Encíclica Papal revela a preocupação da Igreja com os trabalhadores. Não conhecia. Ricardo
ResponderExcluirPrecisamos estudar mais para entender as crises, principalmente a de percepção. Stella
ResponderExcluirParabéns pelo excelente artigo sobre o Cooperativismo. Continue nesta trilha, em prol e em defesa do trabalho e do trabalhador. Adauto.
ResponderExcluirGostei, achei muito importante.abc Luiz
ResponderExcluirLi a Encíclica Papal. Ela continua atual. Claúdia
ResponderExcluirComo continua em dia o entendimento de Aristóteles sobre carências e excessos, inclusive para a prática cooperativista. Manoel
ResponderExcluirSempre nos oferecendo uma oportunidade para abrir nossos horizontes. Chico
ResponderExcluirA prática maquiavélica nessas organizações é um dos motivos do seu insucesso na vida do cooperado. Ailton
ResponderExcluirRepito a colocação do Ailton. Jason
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