quarta-feira, 13 de janeiro de 2016

Bem-estar, Tô À TOA

Marcos Antonio Dantas de Oliveira[1] 

 Nesse sentido, é vital para prosperar na vida privada e gozar de bem-estar, o usufruto dos bens primários em Rawls [autoestima, inteligência, imaginação, saúde e vigor, oportunidades, renda, riqueza, liberdades, direitos] como cidadãos livres e iguais, que controlam, preservam, usam e garantem a riqueza pública [os recursos naturais e os tributos] também para gerações futuras – Ressalta-se que, 79,02% da população brasileira ganha até 03 salários mínimos, paga 53,79% de tributos indiretos. Confirmado, quem ganha menos, paga mais tributos; está à toa  -http://g1.globo.com/economia/noticia/2014/08/brasileiros-com-renda-menor-pagam-53-dos-impostos-no-pais-diz-ibpt.html.

Muitos estudiosos continuam alertando que: “Todo indivíduo nasce com um legítimo direito a uma certa forma de propriedade ou seu equivalente” defendia Thomas Paine já em 1795. E, o brasileiro Eduardo Suplicy [ex-senador/PT] é autor da Lei nº 10.835/2004, que diz: Artigo 1o – É instituída, a partir de 2005, a renda básica de cidadania, que se constituirá no direito de todos os brasileiros residentes no País e estrangeiros residentes há pelo menos 05 (cinco) anos no Brasil, não importando sua condição socioeconômica, receberem, anualmente, um benefício monetário. Essa Lei garante o usufruto de todo o brasileiro a um quinhão da importante riqueza pública, tributo, direto em sua conta bancária – para alavancar sua mobilidade social. O vexame é que 12 anos depois de sancionada pelo governo Lula, o Estado não oferece os benefícios propostos; ademais, a lei caduca, tanto pela ineficiência da máquina pública [poderes: executivo, legislativo e judiciário] como pela apatia da sociedade em promover suas liberdades fundamentais; e não por falta de dinheiro – o brasileiro pagou em 2015 mais de R$ 2 trilhões em tributos indiretos, mais de R$ 1,2 trilhão em tributos diretos; e a corrupção em geral leva cerca de outro trilhão de real.

Aliás, a máquina pública é apropriada pelas exuberantes relações de compadrio [do sabe com quem está falando]; por isso, a avareza, a luxúria, a soberba, a submissão predominam nessas complexas relações, ante a pluralidade de interesses da sociedade e da singularidade da associação de iguais que é o Estado. E alguns servidores públicos [eleitos e concursados da alta magistratura] e outros personagens se apropriam dos recursos públicos usando o poder, são chefes – chefe é “aquele que controla as ações dos outros para atingir as próprias metas, sem o consentimento desses outros” [Bernardes citando Buckley] –; o vídeo detalha a apropriação dos recursos públicos pelos parlamentareshttps://www.youtube.com/watch?v=zZuQAipBAK8.

Não obstante, essa apropriação evidencia que o bem-estar pelo usufruto dos bens primários em Rawls está  pra lá de neca de pitibiriba para grande maioria da população brasileira, dos rurícolas, dos beneficiários da Lei 11.326/2006, e dos jovens rurais, que privados das liberdades fundamentais não monitoram, nem avaliam a eficácia do processo de desenvolvimento sustentável, local e global: ora face à baixa escolaridade. Entrementes, é flagrante em Alagoas, o descaso do governo com a educação – pela baixa aprendizagem das crianças com suas ridículas notas, e também ridículas notas no IDEB] – http://g1.globo.com/al/alagoas/noticia/2014/09/alagoas-apresenta-o-pior-ideb-pela-segunda-vez-consecutiva.html e com a formação de profissionais pela Universidade Estadual de Alagoas/UNEAL – pelas razoáveis notas no índice Geral de Cursos/IGC das universidades brasileiras. Ah, a UNEAL não tem duodécimo em lei, sobrevive em função do humor dos governantes. Que despautério!

Está também pra lá de neca de pitibiriba, o bem-estar pelo usufruto dos bens primários em Rawls pela baixa e isolada oportunidade econômica [PIB e renda em viés de baixa, tributo e dólar em viés de alta resultando em desemprego e em mal-estar]; bem como, devido ao Estado [ao governo] repressivo, que interfere na vida plural da sociedade aniquilando a liberdade individual e a cidadania como comprometimento social, principalmente, no Norte e no Nordeste – “Semiárido: seca volta a provocar êxodo; alagoanos migram para outras regiões do país” [Gazeta de Alagoas, 06/01/2016]. E nesse caos, é que se forjam líderes capazes de usar a autoridade em funções públicas “para controlar ou influenciar o comportamento de outros para a promoção de  metas coletivas, com base em alguma forma constatável de consentimento destes outros” [Bernardes citando Buckley]. Mas, onde estão os líderes?

O Banco Mundial e a Cruz Vermelha fizeram um estudo para avaliar a prosperidade nos países e concluíram: no Brasil, os recursos naturais são responsáveis por 18%, nos Estados Unidos e na Europa 2%, cada um; os bens de capital, respondem por 14%, 13% e 17%; o capital humano e a eficiência de governo somado atingem 68%, 85% e 90%, respectivamente. No Brasil, o usufruto dos bens naturais é alto, mal usado e sujeito à grilagem [a quem serve o Cadastro Ambiental Rural?]; é baixo o usufruto dos bens de capital e do capital humano pelos 3,9 milhões de beneficiários da Lei 11.326. Em Alagoas, o secular uso da enxada ainda simboliza a inovação para o agricultor familiar, de modo que, o alto uso dos bens naturais e a baixa utilização dos bens de capital, somado á baixíssima qualidade do capital humano das 110 mil famílias de beneficiários da Lei 11.326, e seus filhos os mais atingidos, por exemplo, a nota do IDEB em 2013, no ensino fundamental foi de 3,1 e a do ensino médio: 2,6 – um despautério, pois, “Alagoas é o Estado do Nordeste com maior vulnerabilidade social” [Gazeta de Alagoas, 02/09/2015]. 

Nesse país, a competente ineficiência de governo [poderes: legislativo, executivo e judiciário] assegura através de uma hipnótica mídia que os serviços de educação, saúde pública, arrecadação, fiscalização, de pesquisa agrícola e extensão rural; a segurança jurídica e a vida privada estão qualitativamente de bom tamanho.
         
Portanto, a austeridade, ou melhor, a ineficiência de governo, é notória, principalmente, no que diz respeito ao baixo exercício dos brasileiros, dos alagoanos e de suas representações pelos assuntos públicos, pelos Princípios da Administração pública [legalidade, publicização, moralidade, impessoalidade e eficiência], que, resultam, por exemplo, em Alagoas decretos que beneficiam usineiros e deixam déficit milionário [o Decreto 23.111 e o Decreto 23.115 – D.O.E. 24/10/2012], uma forma de apropriação da riqueza pública - tributos - de todos os alagoanos, incluídos os 110 mil beneficiários da Lei 11.326 – literalmente abandonados em seu bem-estar pelo governo: federal, estadual e municipal. Uma apropriação que continua no atual governo, por isso, a austeridade. 

Um outro assunto público em baixa é a penosidade social e econômica da maioria da população. Penosidade essa que é reforçada pelos dados expostos no ranking de competitividade, do Centro de Liderança Pública/CLP, onde o estado de Alagoas ficou mal colocado na maioria dos 10 pilares pesquisados entre seus pares: 27º em segurança pública e educação; 26º em potencial de mercado; 25º em sustentabilidade social e capital humano; 22º em inovação; 21º em infraestrutura; 20º em solidez fiscal e sustentabilidade ambiental e 17º em eficiência da máquina pública, por exemplo, com nota variando de 0 a 100: em educação e segurança pública, nota zero; em inovação, nota 6; e em capital humano, nota 3: que tal ver esse ranking - http://www.rankingdecompetitividade.org.br./

Além disso, a prosperidade dos brasileiros e dos 110 mil alagoanos beneficiários da Lei 11.326, invariavelmente, necessitam de ambientes e arranjos institucionais, formais ou não, que operem politicas públicas [distributivas, redistributivas, reguladoras e constitucionais] efetivas; por exemplo, um big data como porta para a prosperidade e ao bem-estar em Rawls, e um serviço de pesquisa agrícola e extensão rural eficiente – e a Emater/Alagoas está fora dessa condição. A Emater/AL tem um quadro técnico insuficiente [e concurso público nem miragem é, e a contratação de bolsistas é uma opção precária e cara para a sociedade]; e nesse sentido, com a demissão de técnicos especialistas, mestres e doutores em agricultura, até a sucessão familiar no campo está comprometida – governo Renan Filho demite 270 empregados públicos da Carhp [leia-se: Emater, Epeal, Comag, Sergasa, Codeal, Eturb, Edrn, Cohab] – que desvario!


Como prosperar em bem-estar em Rawls, se o controle e o uso dos bens naturais e dos tributos estão sob a guarda dos ‘príncipes’; se o Estado, enquanto uma associação de iguais, não tem um Projeto de Desenvolvimento Sustentável. Em Alagoas, eleito governador: “Renan Filho prega união e convoca nova emancipação de Alagoas pelo fim da miséria” [Tribuna do Sertão, 22/12/2014]. Indaga-se, como emancipar os miseráveis sem um Projeto de Desenvolvimento?

Então, para problematizar o bem-estar desses brasileiros, se faz necessário em qualquer atividade e função desempenhadas por essas categorias no processo de Desenvolvimento Sustentável, a relevância do bem-estar com todos. E, que a vida plural da sociedade e a vida singular do Estado emulem essa problematização nos ambientes e nos arranjos institucionais, aprimorem a governabilidade e a governança para solucionar os agravos ao bem-estar pelo difícil usufruto dos bens primários: autoestima, inteligência, imaginação, saúde e vigor, oportunidades, renda, riqueza, liberdades, direitos – pois, está à toa não dá.

Decerto que, é vital que os brasileiros, os 110 mil alagoanos beneficiários da Lei 11.326, e os jovens rurais, desobstruam as relações que prejudicam o desempenho de suas capacidades básicas e de fazer escolhas, rumo à plenitude do estado de direito, do bem-estar e do estado da arte – Avante como cidadãos livres e iguais!



[1] Mestre em Desenvolvimento Sustentável, membro da Academia Brasileira de Extensão Rural/ABER, professor da UNEAL, extensionista [engenheiro agrônomo] da EMATER-AL/Carhp, diretor do SINDAGRO, articulista da Tribuna Independente, Maceió/AL - artigo publicado na Tribuna Independente.                                                                   Blog:   sabecomquemestafalando.blogspot.com 

31 comentários:

  1. Começar a ano lendo esse texto sobre bem-estar é um alento, principalmente para aqueles que trabalham com os agricultores familiares. Davi

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  2. As colocações sobre as diferenças entre, chefe e líder são importantes, porque esclarece que os brasileiros não têm líderes. Daí o atraso nos avanços do bem-estar. Vanessa

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  3. Como estão distante do exercício de cidadania e da liberdade individual,principalmente os moradores do campo.Parabenizo pelo excelente texto. Antônio

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  4. Sua insistência sobre o que é bem-estar em Rawls, nos motiva avançar nos debates sobre a penúria dos agricultores familiares, em maioria. Claúdio.

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  5. Valeu pelo texto oportuno. Gabriel

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  6. De fato a zona rural está à toa. Manoel

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  7. Uso seus textos para debate que faço. Mauricio

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  8. Como os agricultores precisam avançar em seu bem-estar. Fernando

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  9. Os links colocados ao longo do texto não o enriquece, mas, sobretudo, transforma-o numa crônica sobre a vida dura da população que tem renda de até 3 salários mínimos. Valeu! Gustavo

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  10. Aqueles que pagam mais impostos têm os piores serviços. Então é hora de cobrar dos governantes serviços decentes esses contribuintes. Oto

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  11. Como a Emater é importante nesse estado. Ainda assim o governo abandonou o esse serviço público essencial. Vera

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  12. Cada dia os agricultores familiares ficam abandonadas pelo governo e suas representações. Toninho

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  13. São bem-vindos seus textos. Maria

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  14. Seus textos nos leva a uma certa indignação a precariedade dos agricultores familiares, em sua grande maioria. Otávio

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  15. Ótimo para ler com mais cuidado neste início de ano.Parabéns! Gabriel

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  16. Sua insistência em falar do usufruto do bem-estar em Rawls, dá vigor aos seus textos. Rui

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  17. Continue com escrita! Rodrigo

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  18. É verdade como respeitar a pluralidade da sociedade com a singularidade do Estado num Brasil tão passional? Chico

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  19. Agricultores familiares literalmente abandonados pelo governo e por suas representações no que diz aos avanços no bem-estar. Margarete

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  20. Avante como cidadãos iguais e livres. Carla

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  21. Tenho lido seus artigos e seus livros, e a cada dia sua compreensão sobre os avanços no bem-estar dos agricultores familiares dependem do exercício de cidadania. Rafael

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  22. É controlando o uso dos impostos e dos recursos naturais que avançamos no bem-estar. Sua observação sobre esse tema é contundente. Gildo

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  23. Estais inspiradíssimo! Valeu. César

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  24. Um texto para reflexão e exercício do estado de direito. Flávio

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  25. Acertada seus argumentos sobre os problemas diagnosticados e os possíveis avanços. Matheus

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