domingo, 20 de julho de 2014

Apesar da BELA estética

Marcos Antonio Dantas de Oliveira

   A vida no campo se resume à moradia, ao trabalho, inclusive alugando-o, e ao não trabalho, a desocupação [e assim pode levar seus moradores ao tráfico de drogas e a prostituição infanto-juvenil, por exemplo]. Pois, mais da metade [53,4%] dos agricultores, extrativistas, trabalhadores de aluguel, povos e comunidades tradicionais, principalmente as mulheres e os jovens rurais, têm renda bruta entre zero e meio salário mínimo; têm seu negócio [agrícola e não agrícola] inviabilizado, e consequentemente não têm nem usufruem dos bens primários [autoestima, inteligência, imaginação, saúde e vigor, oportunidades, renda, riqueza, liberdades, direitos, segundo Rawls], nem a um bem-estar digno.

  E sem dinheiro suficiente a fome oculta viceja, pois, sua dieta alimentar diária não balanceada em fibras, proteínas e lipídios e a carência de vitaminas e sais minerais no organismo deixa-os expostos às doenças e a morte às crianças de até os cinco anos. Dados do IBGE [2006] sobre orçamento familiar de 2002/2003 revelaram que no Brasil, 35,5% das famílias ainda subsistem com uma quantidade insuficiente de alimentos - são famílias com renda até R$ 400,00 que consumiram 15 kg de hortaliças/ano, enquanto as famílias com renda superior a R$ 3.000,00 consumiram 42 kg. 
    
  Não obstante no lugar rural, o agricultor, o extrativista familiar, o trabalhador de aluguel, o índio e suas famílias realizam seu labor e manifestações culturais, dia a dia, em conformidade com a harmonia aparente dos fluxos cíclicos naturais e com suas relações familiares e compadrios; mas não o suficiente para garantir-lhes suas escolhas individuais e coletivas, pois as políticas públicas em vigor obedecem a critérios assistencialistas, ora através de estratégias filantrópicas, ora por políticas compensatórias e clientelistas.

  Que também facilitam a exploração dos recursos e serviços naturais, ora pelo uso na agropecuária, mineração, indústria e no setor de serviços; ora por assentamentos humanos, empresas e por indivíduos, com avaliações e fiscalizações frouxas e até lenientes pelos órgãos de fiscalização [restam do bioma Mata Atlântica, 12% da área original e do bioma Caatinga, 8%], afrontando a legislação ambiental e os planos Diretores municipais (e orçamentos), por fim, leva-os à vida indigna. 

   Assim, os pobres – agricultores, extrativistas e trabalhadores de aluguel, povos e comunidades tradicionais, crianças e jovens rurais – organizam famílias pobres que continuarão pobres. Segundo o IPEA, quem ganha até 50% do salário mínimo está em pobreza absoluta; e quem ganha até 25%, está em pobreza extrema. Aliás, a grande maioria dos rurícolas vive em pobreza. Assim, os pobres necessitam transformar as atuais e degradadas relações sociais e de poder pelo acúmulo de riqueza privada, pelo acesso eficiente à distribuição da riqueza pública em Bem-estar, especialmente os rurícolas, que precisam enfrentar à pobreza em qualquer fase da vida http://globotv.globo.com/rede-globo/globo-rural/t/edicoes/v/relatorio-sobre-violencia-contra-os-povos-indigenas-e-divulgado/3505343/ . 

 Bem como exigir do Estado, representado por governos autoritários, à garantia de que pelos menos seus filhos terão uma educação, inclusive no campo, de qualidade para levá-los ao exercício das liberdades fundamentais e da cidadania igual, e assim tomarem decisões que lhes promova bem-estar – acesso e usufruto dos bens primários [RAWLS], vida digna em seus lugares de origem como opção http://educacao.uol.com.br/noticias/2013/06/04/menos-de-1-das-escolas-brasileiras-tem-infraestrutura-ideal.htm

 Portanto, os movimentos rurais, inclusive de jovens rurais, associações comunitárias, sindicatos de trabalhadores e de indígenas precisam reivindicar: do financiamento do sistema produtivo [culturas e agroindústrias] à moradia; da manutenção e uso do patrimônio imaterial [valores, costumes, modos de produzir e consumir ...] à educação; da eficiência na distribuição da riqueza [patrimônio, renda, segurança alimentar e jurídica, tributos, seguridade social...] à proteção da natureza [ora por uso, ora por não uso]; do eficaz serviço de pesquisa agropecuária e extensão rural à renda decente [produtiva e não produtiva]; do acesso ao mercado internacional ao nacional [e ao institucional] ao Desenvolvimento Sustentável.
      
  Inspirados, necessitam contraditar, desenvolver, sustentar e valorizar a difícil política do bem-estar social e ecológico com todos – modos de pensar, dialogar, produzir, distribuir, consumir e entreter-se, hoje e amanhã, ao aprender a ser e a viver junto. 

 Aliás, é a justiça social a expressão máxima para assegurar que os efeitos combinados da tecnologia e da inovação, da produtividade da terra e do trabalho [e sua organização], da acumulação de capital, do lazer e do tirocínio escolar leve-os a um Bem-estar digno.

  Publicado pela Tribuna Independente, Maceió/Alagoas


[1] Mestre em Desenvolvimento Sustentável, membro da Academia Brasileira de Extensão Rural/ABER, extensionista da EMATER/AL - CARHP, professor da Universidade Estadual de Alagoas/UNEAL, articulista da Tribuna Independente, Maceió/AL.

Blog:sabecomquemestafalando.blogspot.com 

13 comentários:

  1. Um belo texto a reclamar da vida dura dos agricultores familiares. Toninho

    ResponderExcluir
  2. E agora no período eleitoral, o agricultor é de novo a bola da vez para promessas não cumpridas. Vanessa

    ResponderExcluir
  3. Literalmente inspirado. Carlos

    ResponderExcluir
  4. Literalmente inspirado! Artur

    ResponderExcluir
  5. Os técnicos também devem estar inspirados para debate a complexidade da sociologia da agricultura familiar. Mauricio

    ResponderExcluir
  6. Valeu pelo texto lúcido. Suzana

    ResponderExcluir
  7. E os links reforçam a penúria do que fazem a agricultura familiar e a indígena. Gabi

    ResponderExcluir
  8. Bem lembrado colocar a situação precária dos índios. Gustavo

    ResponderExcluir
  9. Continue nos presenteando com seus textos. Mário

    ResponderExcluir
  10. Outra problema é a informalidade no campo. Marcelo

    ResponderExcluir
  11. O bem-estar é o lugar comum. Vera

    ResponderExcluir
  12. Até a bela estética sofre ameaça desproporcional ao seu valor de uso e não uso. Ricardo

    ResponderExcluir