Marcos Antonio Dantas de Oliveira
O brasileiro precisa
ter no bolso 8.000 dólares por ano para atingir nota 7, em uma escala de
felicidade, desenhada pela Universidade de Michigan [2];
e o americano precisa de 32.000 dólares por ano para ter o mesmo nível de
felicidade. Então, a felicidade [o bem-estar] varia em função do acesso e usufruto dos bens
primários - autoestima, inteligência, imaginação, saúde e vigor, oportunidades, renda, riqueza, liberdades, direitos, segundo Rawls
(2002). E continua Rawls, “os bens primários são presentemente definidos pela
necessidade das pessoas em razão de sua condição de cidadãos livres e iguais e
de membros normais e plenos da sociedade durante toda a vida”. E, em Alagoas, a
grande maioria das pessoas não usufruem desses bens primários. Alagoas tem o
pior Índice de Desenvolvimento Humano/IDH – http://g1.globo.com/brasil/noticia/2013/07/veja-aqui-o-idhm-do-seu-municipio.html.
Nesse país longe da felicidade está a classe
média que tem renda entre 320 a 1.120 reais por pessoa [Instituto Data
Popular]. Donde, conclui-se que muitos brasileiros da classe média estão em
insegurança alimentar e nutricional; é ridícula essa classe média, mas verdadeira sua penosidade
social e econômica – dentro dela, pouquíssimos são agricultores e extrativistas familiares, povos e comunidades tradicionais. Segundo Alves e Rocha (2010), “mais da
metade das propriedades rurais, por exemplo, com níveis de renda entre zero e
meio salário mínimo [53,4% do total] encontram-se, segundo os autores,
inviabilizados produtivamente, pois [...] a residência serve basicamente como
moradia, sendo a atividade agrícola insignificante. Os minifúndios [agrícola ou
extrativista] operam precariamente como unidades para autoconsumo, com reserva de mão de obra, analfabeta, desqualificada e barata; e as alternativas de sobrevivência, ocupações e rendas, são poucas e instáveis em outras atividades para esses minifundiários,
principalmente, para as mulheres e os jovens rurais, do Norte e do Nordeste. E com o baixo crescimento do PIB [menos de 1% para este ano] aumenta ainda mais essa penosidade.
E no lugar rural, muitas famílias ainda
com posse precária da terra e sem documentos pessoais, para além de outras inseguranças jurídicas, sofrem ainda mais
com a baixa produtividade da terra e da mão de obra; com o baixo crescimento do negócio agrícola [incluído seu patrimônio
imaterial]; com a renda e a ocupação precárias, instáveis e baixas; com o baixíssimo grau
de escolaridade; com a alta insegurança alimentar e nutricional; com os serviços
públicos ineficazes [de saúde, educação, segurança pública, pesquisa agrícola e extensão rural [principalmente em Alagoas]; e com a má gestão dos recursos privados e públicos
aprofunda a vida penosa e penitente da maioria dos agricultores e extrativistas
familiares, dos povos e comunidades tradicionais; e torna difícil sua permanência na atividade e na propriedade
legal ou ocupada; e a baixíssima escolaridade compromete a sucessão familiar dos
Quilombolas - www.ecodebate.com.br/2013/01/07/quilombolas-expoem-miseria-brasileira-75-vivem-em-situacao-de-extrema-pobreza/,
e dos índios em abandono - https://www.google.com.br/?gfe_rd=cr&ei=Kq35U7iBM4Kk8wfUtIHwAg&gws_rd=ssl#q=%C3%8Dndios+que+eram+isolados+pegam+gripe%2C+s%C3%A3o+medicados+e+voltam+para+aldeia_._
Em relação à
educação no campo, pode-se dizer que ela tem um papel fundamental no avanço da
conscientização às lutas pelo acesso e uso da natureza e pelo usufruto dos bens primários [RAWLS].
É o tirocínio escolar a mola propulsora para inserir, principalmente os filhos
dos agricultores e extrativistas familiares, dos povos e comunidades
tradicionais em práticas modernas de adoção de tecnologias e inovações, bem
como o exercício das liberdades fundamentais tão cara nas zonas rurais. Isto
mostra a dificuldade dessas categorias na gestão da unidade produtiva e social, no respeito às
leis [inclusive, ambientais, ecológicas e ao ECA] e no exercício da cidadania
igual, exige-se a interpretação de textos. Com baixíssima escolaridade e com
notas baixas nas avaliações do Ministério da Educação/MEC, é extremamente
difícil para os filhos assumirem um papel protagonista neste país. Em Alagoas, a escola pública [IBED baixo] é uma máquina de fazer pobres. Pois, uma das ferramentas que permite tirá-los da pobreza, o tirocínio escolar, é um fiasco.
No Brasil, outro
dado relevante: A insegurança alimentar dos rurícolas é de 56,4%, para aqueles
que têm renda entre um ¼ a ½ salário mínimo. Outro: Os brasileiros devem dar
atenção ao hábito de lavar as mãos, para evitar a transmissão de doenças como
hepatite A, conjuntivites, rotavírus, e parasitoses, e crianças à morte.
A OMS recomenda 110 litros de água para a
necessidade diária do ser humano. No Ceará, água um bem comum escasso e de
baixa qualidade – http://globotv.globo.com/rede-globo/globo-rural/v/moradores-do-ceara-reclamam-da-qualidade-da-agua-em-campos-sales-e-salitre/2723250/. Aliás, a quem serve uma cisterna de 16 mil litros para os 6 ou 8 meses de estiagem?
Então, a insegurança alimentar e
nutricional, além da jurídica, a falta de água tratada para lavar as mãos, e a
pouca leitura para interpretar um texto, principalmente das crianças, serão
novas formas de genocídio? - http://www.brasildefato.com.br/node/29599
E mais, a esperança de vida ao nascer do brasileiro
significa para os que ganham abaixo do salário mínimo de 2.915,07 reais [em julho
de 2014, segundo o DIEESE], principalmente, os
agricultores e extrativistas familiares e os povos e comunidades tradicionais, que suas vidas vão continuar na contramão do bem-estar digno [dos bens
primários]; estão em penúria social, econômica, ecológica e patrimonial
distante do que preconiza o artigo 7 da Constituição federal.
E tem mais no Brasil: até às 7h36 de hoje
[24 de agosto], o governo já arrecadou R$ 1,05 trilhão em tributos, e a sonegação atinge R$ 323 bilhões; a corrupção drena 200 bilhões de reais, segundo
PNUD; e está perdendo o controle da inflação [e para as pessoas com renda de até 02 salários a perda de poder aquisitivo é implacável].
Imposto, essa riqueza pública de todos
continua indo para o bolso dos príncipes, dos que dão ordens e dos que dão
conselhos e para a maioria da população, inacessibilidade aos bens primários.
Esse despautério afronta à dignidade de todos, principalmente, dos
agricultores e extrativistas familiares, dos povos e comunidades tradicionais,
das crianças e dos adolescentes. Alagoas é o primeiro lugar em mortalidade
infantil – http://g1.globo.com/bemestar/noticia/2013/08/al-registra-maior-taxa-de-mortalidade-infantil-do-pais-e-sc-menor-diz-ibge.html
Não obstante, o governo, brasileiro e
alagoano, tem cumprido mal seu papel de arrecadador, distribuidor de impostos e
zelador dos princípios da Administração pública [legalidade, impessoalidade,
moralidade, publicização e eficiência], aumentando irresponsavelmente os gastos públicos e negligenciando na execução das políticas públicas, via de regra, clientelistas e na governança, mas um bom negociante quanto à governabilidade - http://g1.globo.com/fantastico/noticia/2014/06/assessores-e-ex-deputado-revelam-como-funciona-esquema-de-corrupcao.html
Saia dessa tirania da conformidade. Aliás,
perde poder quem o entrega a um terceiro, e não o vigia, nem o pune; portanto, exerça suas
liberdades fundamentais! Exerça sua cidadania igual! Dialogue e
discuta sobre o controle dos recursos naturais [uso e não uso] e dos
impostos, sobre padrões e formas de sociabilidade, sobre Desenvolvimento
sustentável. Faça alianças com seus pares para usufruir dos bens primários
[RAWLS] e da felicidade.
Saia à rua! Nessa eleição, celebre a dignidade como status quo!
[1] Mestre em Desenvolvimento Sustentável, membro da
Academia Brasileira de Extensão Rural/ABER, professor da Universidade Estadual
de Alagoas/UNEAL, e extensionista da EMATER/AL - Carhp Blog:sabecomquemestafalando.blogspot.com
[2] Revista Veja, 08 de maio de 2013
Muito bom para refletir sobre a quem vamos dar o voto. Toninho
ResponderExcluirUma oportunidade para pensar em dignidade. Carlos
ResponderExcluirParabéns pelo artigo oportuno. Davi
ResponderExcluirVocê é o cara! Jason
ResponderExcluirQuero um governante cumpridor dos princípios da Administração pública. Claúdia
ResponderExcluirSaia à rua, é mote oportuno. Gabriela
ResponderExcluirSe água é saúde, o sertanejo vai continuar doente. Tononho
ResponderExcluirÁgua é vital para a permanência no campo. Oto
ResponderExcluirA situação dos índios é lastimável. Não podemos abandoná-los. Vanessa
ResponderExcluirPergunte, opine, aconselhe-se sobre os candidatos que deseja votar. Manoel
ResponderExcluirÉ isso aí Manoel.
ResponderExcluirValeu! Roberto
ResponderExcluirComo exercer a cidadania sem interpretar texto. Vera
ResponderExcluirTodos estes problemas são fáceis de resolver. Em tempos de eleição. Depois são sonoramente abandonados. Começa pela definição de Classe Média no Brasil. Que Classe média é esta que ganha 300 reais por mês. Só pode ser uma piada. Com este valor não é possível, sequer comer com dignidade. Quanto mais pagar energia elétrica, água (quando tem), impostos, combustível, escola, etc. O povo precisa se aprofundar nas questões políticas e assumir o protagonismo necessário para uma mudança nesta Democracia Representativa que só Representa os "Interesses dos próprios políticos". Os salários, vantagens, assessorias e as emendas parlamentares são instrumentos que não permitem renovação no congresso, E ninguém vai querer mudar o que é bom para si. "Os donos do poder não vão mudar o poder". A Política de Participação Social que agrega a Democracia Direta nas decisões parece ser uma luz no fim do túnel, mesmo que apresente anomalias ou distorções, muito mais pelo desinteresse da maioria do que pelo interesse dos que participam ou dos governos. Quando candidatos ao Executivo e ao Legislativo combatem esta prática já é um indicativo que ela pode ser boa para quem não tem os privilégios do poder. Pensem nisto.
ResponderExcluirMas que classe média é essa? Marcelo
ResponderExcluirRecomendo essa leitura. Ailton
ResponderExcluirOportuno nessa eleição. Artur
ResponderExcluirEste comentário foi removido pelo autor.
ResponderExcluirOi, colega, também sou um dos articulistas do jornal "Tribuna Independente", e vim aqui parabenizá-lo pelo excelente artigo de hoje (19/09/14) no periódico. Venho acompanhando aos poucos as crônicas de lá, e desde logo lhe considero um dos poucos bons escritores do quadro. Sua reflexão crítica no artigo foi objetiva, impactante. Só não compreendi a diferença de datas, pois o artigo de hoje é o mesmo texto desse blog de quase 1 mês atrás. Saudações.
ResponderExcluirReforço as palavras do Wagner.
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