Marcos Antonio Dantas de Oliveira
Fui ao delírio ao assisti na tarde de
sábado, na tv Senado, a melancólica, a extasiante, a libertária poesia – JOSÉ –
de Carlos Drummond de Andrade; sensível, refleti sobre os brasis de Capistrano
de Abreu; e com os pés no chão enxerguei o Brasil real dos políticos-príncipes:
Com regalias e privilégios para esses poucos desse Brasil – por exemplo, custo
mensal de um deputado federal de R$ 138.000,00[1] – Vivem na luxúria, felizes por serem bancados pela sociedade.
Ouvi o Brasil, a sociedade, surreal que banca esses príncipes – Agricultor,“participante do Programa
Alagoas Mais Leite e do Balde Cheio, e cuja propriedade virou referência em
gestão e melhoria das condições de produção com aumento de renda. Antes de ser
atendido pelos programas, ele adquiria com a venda do leite apenas R$ 80 por
mês. Atualmente, a renda dele chega a R$ 1.800 por mês só com a venda do leite”[2] – E dessa renda familiar baixa, sobra trabalho penoso, diouturno; e por esse trabalho recebeu o prêmio estadual e nacional de empreendedorismo, concedido pelo Sebrae/AL,
na categoria agronegócio.
E com a
voz sem ruídos, indago, e agora, José?
A festa acabou,
a luz apagou,
o povo sumiu,
a noite esfriou,
e agora, José?
e agora, você?
você que é sem nome,
que zomba dos outros,
você que faz versos,
que ama, protesta?
e agora, José?
a luz apagou,
o povo sumiu,
a noite esfriou,
e agora, José?
e agora, você?
você que é sem nome,
que zomba dos outros,
você que faz versos,
que ama, protesta?
e agora, José?
Está sem mulher,
está sem discurso,
está sem carinho,
já não pode beber,
já não pode fumar,
cuspir já não pode,
a noite esfriou,
o dia não veio,
o bonde não veio,
o riso não veio
não veio a utopia
e tudo acabou
e tudo fugiu
e tudo mofou,
e agora, José?
está sem discurso,
está sem carinho,
já não pode beber,
já não pode fumar,
cuspir já não pode,
a noite esfriou,
o dia não veio,
o bonde não veio,
o riso não veio
não veio a utopia
e tudo acabou
e tudo fugiu
e tudo mofou,
e agora, José?
E agora, José?
Sua doce palavra,
seu instante de febre,
sua gula e jejum,
sua biblioteca,
sua lavra de ouro,
seu terno de vidro,
sua incoerência,
seu ódio - e agora?
Com a chave na mão
quer abrir a porta,
não existe porta;
quer morrer no mar,
mas o mar secou;
quer ir para Minas,
Minas não há mais.
quer abrir a porta,
não existe porta;
quer morrer no mar,
mas o mar secou;
quer ir para Minas,
Minas não há mais.
José, e agora?
Se você gritasse,
se você gemesse,
se você tocasse
a valsa vienense,
se você dormisse,
se você cansasse,
se você morresse...
se você gemesse,
se você tocasse
a valsa vienense,
se você dormisse,
se você cansasse,
se você morresse...
Mas você não morre,
você é duro, José!
Sozinho no escuro
qual bicho-do-mato,
sem teogonia,
sem parede nua
para se encostar,
sem cavalo preto
que fuja a galope,
você marcha, José!
José, para onde?
qual bicho-do-mato,
sem teogonia,
sem parede nua
para se encostar,
sem cavalo preto
que fuja a galope,
você marcha, José!
José, para onde?
Maravilhada com o texto. Vanessa
ResponderExcluirVamos acordar José! Mauricio
ResponderExcluirConciso e oportuno. Carlo
ResponderExcluirPrecisamos cobrar a prática do discurso do governo. Toninho
ResponderExcluirQuanto custa produzir um litro de leite, hein Marcelo. Marcos
ResponderExcluirProfunda sua observação. susana
ResponderExcluirGostei do resultado da poesia com a vida diária. Gabi
ResponderExcluirE como prêmio mesmo faz o trabalho como penitência. Oto
ResponderExcluirEstou repassando esse texto para outros colegas. Gil
ResponderExcluirCurto e grosso.hélio
ResponderExcluirFora do discurso governamental. Muito bom. Artur
ResponderExcluirEstá antenado com a penúria da grande maioria dos agricultores familiares. Continue com sua escrita. Paulo
ResponderExcluirMarcos,
ResponderExcluirMuito bom esse artigo, e principalmente a analogia feita a música José. E irônico é vê que no senado federal e estadual existem muitos que querem vistos como "Josés".
Cada vez mais admiro você que dissemina tantas sementes em prol de uma melhor qualidade de vida para os mais fracos e oprimidos.
Tenha um bom dia,
Thereza Christina Braga Ribeiro