O curso da história tem mostrado que os interesses, ideologias e o
poder forjam os valores morais e princípios legais da convivência humana. Dessa forma, é importante relatarmos os esforços em
favor de um desenvolvimento fracassado, que acontece por não considerar os
indispensáveis fatores: ecológico, demográfico, filosófico, cultural e afetivo;
e toda a cadeia de relações existentes no centro de toda cultura; no caso, o
estilo de vida rural e suas estreitas relações com a terra, com a natureza e
com o citadino. Ademais, esse modo de vida é subdimensionado e subavaliado na
maioria dos projetos de desenvolvimento. E os agricultores e extrativistas familiares, os povos e comunidades tradicionais sentem a lógica de
suas reproduções culturais – natureza e mitos, cultivos e extrativismos, suor e
mais-valia, transmissão e posse, patrimônio imaterial e bem-estar – escapar-lhes por entre os
dedos.
É conveniente ressaltar que o sistema capitalista baseia-se em uma ordem em que os
atores evoluem e se comportam de acordo com normas que assegurem o fluxo da vida econômica [produz
muita riqueza – apropriação, lucro e acumulação de rendas e riquezas e muito egoísmo] e a reprodução do capital.
Esgarça o tecido social pela impunidade, por exemplo,"combate à corrupção
não atrai alagoanos" [1]. E por danos ecológicos [degrada as estruturas e funções
ecssistêmicas]; contudo são abrandados por hipnótico
merchandising feitos pelos ‘donos do poder’ [pelos que dão ordens e pelos que
dão conselhos] e pelo Estado.
A bem da verdade, esse
sistema continua produzindo muita riqueza privada e pública, principalmente nos
últimos 30 anos. O PIB mundial está na casa dos 70 trilhões de dólares e a
população em 7 bilhões; portanto, daria para todos
repartirem o consumo; viverem uma sociedade convivial. Esse sistema concentrou
renda e poder, gerando um colonialismo ambiental grave, exercido pelos
ricos, entre países e dentro dos países, sobre os pobres.
Nunca os problemas
ambientais foram tão graves, as dimensões são globais – historicamente, o homem assume-se como um
fazedor de desertos [Euclides da Cunha: Os sertões]. Nunca a liquidação
das culturas tradicionais foi tão perversa e global. Portanto, continua
prevalecendo o projeto e a prática senhorial sobre os recursos e serviços
naturais e os tributos, indo de encontro aos interesses da maioria das nações,
dos povos, dos rurícolas, dos agricultores e extrativistas e suas famílias e,
como resultado: os insustentáveis estilos de vida atuais comprometem
os das futuras gerações.
Enfrentar esses conflitos é urgente, já que os extrativistas, os agricultores, seus familiares e
suas comunidades em um contexto mundial em transformação, precisam provocar uma
alteração social equitativa nos benefícios e nos encargos da cooperação social;
afirmar os valores democráticos [liberdade,
igualdade e fraternidade], e a eles se ajustarem sem negar a riqueza de
elementos de suas tradições.
É nessa perspectiva, que o saber ambiental
emula, articula a concertação entre realidades diferentes: conhecimento da vida
moderna e da tradicional, do modo de vida dos ricos e dos pobres; e
inteirando-se dessa realidade, diagnostica e orienta a construção de organizações sociais capazes de projetar
tendências que corrijam os excessos dos sistemas: produtivo e consumista atual;
e ensejem uma vitalização no sentido mais profundo da
vida, e não uma ilusão, através da acumulação de rendas e de riquezas, não se deseja a permanência de um mundo comum forjado na Declaração Universal dos Direitos Humanos [1948]: “igualdade de todos os seres humanos”.
No entanto, "o mundo comum acaba quando
é visto somente sob um aspecto e só se lhe permite uma perspectiva",
enfatiza, Hannah Arendt [citada por Cardoso Júnior, 2007]. Sem mundo comum, o cotidiano dos indivíduos continua sofrendo grandes
alterações, e elas são ruins para a maioria da
população alagoana, brasileira e mundial, pois seus modos de produzir,
consumir, distribuir os bens e serviços, de lazer, de proteção aos ecossistemas,
de salvaguardar o patrimônio imaterial estão em franco processo de esgotamento
social, tanto pela degradação dos solos e águas [baixas
produtividades], como pela baixa remuneração das atividades, baixa escolaridade, baixa
eficácia das políticas públicas [em geral], alto grau de informalidade nos
empregos, rendas e mercado, e velocidade
da tecnologia informacional, por exemplo.
E, neste contexto, o agricultor e o extrativista familiar [povo
e comunidade tradicional] dão conta de que suas lógicas familiares não sobrevivam sem as relações
existenciais com a natureza [ciclo da vida],dialéticas, cidadãs e libertárias de homens e mulheres [adultos, jovens, crianças,
citadinos e rurícolas], ricos e pobres; pois, “cada pessoa possui uma
inviolabilidade fundada na justiça que nem mesmo o bem-estar da sociedade como
um todo pode ignorar. Por essa razão, a justiça nega que a perda da liberdade
de alguns se justifique por um bem maior partilhado por outros” [Rawls, 2002].
Então, todos ao diálogo e ao
compromisso.
Publicado pela Tribuna Independente, Maceió - Alagoas, 2012
É verdade ainda não observamos como vivemos. Gustavo
ResponderExcluirLi e repassei a outros colegas, parabéns. Toninho
ResponderExcluirA citação de Rawls foi arrasadora. Vanessa
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