sábado, 12 de janeiro de 2013

OBSERVE como vive

Marcos Antonio Dantas de Oliveira



O curso da história tem mostrado que os interesses, ideologias e o poder forjam os valores morais e princípios legais da convivência humana. Dessa forma, é importante relatarmos os esforços em favor de um desenvolvimento fracassado, que acontece por não considerar os indispensáveis fatores: ecológico, demográfico, filosófico, cultural e afetivo; e toda a cadeia de relações existentes no centro de toda cultura; no caso, o estilo de vida rural e suas estreitas relações com a terra, com a natureza e com o citadino. Ademais, esse modo de vida é subdimensionado e subavaliado na maioria dos projetos de desenvolvimento. E os agricultores e extrativistas familiares, os povos e comunidades tradicionais  sentem a lógica de suas reproduções culturais – natureza e mitos, cultivos e extrativismos, suor e mais-valia, transmissão e posse, patrimônio imaterial e bem-estar – escapar-lhes por entre os dedos.

É conveniente ressaltar que o sistema capitalista baseia-se em uma ordem em que os atores evoluem e se comportam de acordo com normas que assegurem o fluxo da vida econômica [produz muita riqueza – apropriação, lucro e acumulação de rendas e riquezas e muito egoísmo]  e a reprodução do capital. Esgarça o tecido social pela impunidade, por exemplo,"combate à corrupção não atrai alagoanos" [1]. E por danos ecológicos [degrada as estruturas e funções ecssistêmicas]; contudo são abrandados por hipnótico merchandising feitos pelos ‘donos do poder’ [pelos que dão ordens e pelos que dão conselhos] e pelo Estado.

A bem da verdade, esse sistema continua produzindo muita riqueza privada e pública, principalmente nos últimos 30 anos. O PIB mundial está na casa dos 70 trilhões de dólares e a população em 7 bilhões; portanto, daria para todos repartirem o consumo; viverem uma sociedade convivial. Esse sistema concentrou renda e poder, gerando um colonialismo ambiental grave, exercido pelos ricos, entre países e dentro dos países, sobre os pobres.

Nunca os problemas ambientais foram tão graves, as dimensões são globais  historicamente, o homem assume-se como um fazedor de desertos [Euclides da Cunha: Os sertões]. Nunca a liquidação das culturas tradicionais foi tão perversa e global. Portanto, continua prevalecendo o projeto e a prática senhorial sobre os recursos e serviços naturais e os tributos, indo de encontro aos interesses da maioria das nações, dos povos, dos rurícolas, dos agricultores e extrativistas e suas famílias e, como resultado: os insustentáveis estilos de vida atuais comprometem os das futuras gerações.

Enfrentar esses conflitos é urgente, já que os extrativistas, os agricultores, seus familiares e suas comunidades em um contexto mundial em transformação, precisam provocar uma alteração social equitativa nos benefícios e nos encargos da cooperação social; afirmar os valores democráticos [liberdade, igualdade e fraternidade], e a eles se ajustarem sem negar a riqueza de elementos de suas tradições.

É nessa perspectiva, que o saber ambiental emula, articula a concertação entre realidades diferentes: conhecimento da vida moderna e da tradicional, do modo de vida dos ricos e dos pobres; e inteirando-se dessa realidade, diagnostica e orienta a construção de organizações sociais capazes de projetar tendências que corrijam os excessos dos sistemas: produtivo e consumista atual; e ensejem uma vitalização no sentido mais profundo da vida, e não uma ilusão, através da acumulação de rendas e de riquezas, não se deseja a permanência de um mundo comum forjado na Declaração Universal dos Direitos Humanos [1948]: “igualdade de todos os seres humanos”.

No entanto, "o mundo comum acaba quando é visto somente sob um aspecto e só se lhe permite uma perspectiva", enfatiza, Hannah Arendt [citada por Cardoso Júnior, 2007]. Sem mundo comum, o cotidiano dos indivíduos continua sofrendo grandes alterações, e elas são ruins para a maioria da população alagoana, brasileira e mundial, pois seus modos de produzir, consumir, distribuir os bens e serviços, de lazer, de proteção aos ecossistemas, de salvaguardar o patrimônio imaterial estão em franco processo de esgotamento social, tanto pela degradação dos solos e águas [baixas produtividades], como pela baixa remuneração das atividades, baixa escolaridade, baixa eficácia das políticas públicas [em geral], alto grau de informalidade nos empregos, rendas e mercado, e  velocidade da tecnologia informacional, por exemplo.

E, neste contexto, o agricultor e o extrativista familiar [povo e comunidade tradicional] dão conta de que suas lógicas familiares não sobrevivam sem as relações existenciais com a natureza [ciclo da vida],dialéticas, cidadãs e libertárias de homens e mulheres [adultos, jovens, crianças, citadinos e rurícolas], ricos e pobres; pois, “cada pessoa possui uma inviolabilidade fundada na justiça que nem mesmo o bem-estar da sociedade como um todo pode ignorar. Por essa razão, a justiça nega que a perda da liberdade de alguns se justifique por um bem maior partilhado por outros” [Rawls, 2002]. Então, todos ao diálogo e ao compromisso.


[1]  Tribuna Independente, 10/dez/2010



 Publicado pela Tribuna Independente, Maceió - Alagoas, 2012






3 comentários:

  1. É verdade ainda não observamos como vivemos. Gustavo

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  2. Li e repassei a outros colegas, parabéns. Toninho

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  3. A citação de Rawls foi arrasadora. Vanessa

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