sábado, 23 de junho de 2012

A dureza de uma vida INDIGNA

Marcos Antonio Dantas de Oliveira


Reforça a tese de que aqueles que recebem mensalmente até 50% do salário mínimo estão em penúria; estão em pobreza absoluta, segundo o IPEA. E muito agricultores familiares com faturamento de R$ 91,66 por hectare/mês [IBGE, 2008], estão em pobreza extrema – com renda per capita de até 25% do salário mínimo; aqui se incluem os jovens rurais e as crianças. 

Com reflexos em sua dieta alimentar diária não balanceada em fibras, proteínas e lipídios desses rurícolas, em maioria agricultores, extrativistas e trabalhadores de aluguel e suas famílias [povos e comunidades tradicionais], como pela carência nutricional de vitaminas e sais minerais no organismo – a tal fome oculta. Dados de pesquisa do IBGE [2006] sobre orçamento familiar de 2002/2003 revelaram que no Brasil, as famílias com renda até R$ 400,00 consumiram 15 kg de hortaliças/ano. No Brasil, 35,5% das famílias ainda subsistem com uma quantidade insuficiente de alimentos, enquanto as famílias com renda superior a R$ 3.000,00 consumiram 42 kg. 

E os movimentos rurais, inclusive de jovens rurais, associações comunitárias e sindicatos de trabalhadores, precisam reivindicar: do financiamento do sistema produtivo [culturas e agroindústrias] à moradia; do patrimônio imaterial [valores, religiosidade, costumes, modos de produzir e consumir, poder...] à educação; da eficiência na distribuição da riqueza [patrimônio, renda, segurança alimentar, tributos, seguridade social...] à proteção da natureza [ora por uso, ora por não uso]; do eficaz serviço de pesquisa agropecuária e extensão rural à renda decente [produtiva e não produtiva].

E assim exigirem do Estado, ora representado por governos autoritários, à defesa das liberdades fundamentais de pensamento e expressão, de ir e vir, da liberdade individual, e garantir o exercício da cidadania igual dos agricultores, extrativistas e trabalhadores de aluguel [dos povos e comunidades tradicionais] na tomada de decisões para o enfrentamento da pobreza em qualquer fase da vida; por fim, ao acesso e usufruto dos bens primários, à vida digna em seus lugares de origem como opção.

Esses governos enfatizam em seus discursos midiáticos, responsabilidades: ora sociais [mas, o ENEM revela: “Alagoas detém escolas da rede pública estadual entre as piores do País” (Gazeta de Alagoas, 2010); e ainda: “com 53 unidades públicas, entre municipais, estaduais e federal, Alagoas é o retrato do descaso na saúde” (Gazeta de Alagoas, 2009)] e ora ambientais [“Cidades estão ameaçadas pelos lixões: em Arapiraca e Maceió, a sujeira se impõe na paisagem” (Gazeta de Alagoas, 2009)]; assim, no dia a dia, negação à vida digna. 

Bem como, facilita a exploração dos recursos e serviços naturais, ora pelo uso na agropecuária, mineração, indústria e no setor de serviços, ora por assentamentos humanos, empresas e por indivíduos, com avaliações e fiscalizações frouxas e até lenientes pelos órgãos de fiscalização [restam do bioma Mata Atlântica, 12% da área original e do bioma Caatinga, 8%], afrontando a legislação ambiental e os planos Diretores municipais (e orçamentos), por fim, a dignidade das pessoas.

E no lugar rural, o agricultor, o extrativista familiar, o trabalhador de aluguel e suas famílias realizam seu labor e manifestações culturais, dia a dia, em conformidade com a harmonia aparente dos fluxos cíclicos naturais e com suas relações familiares e compadrios; mas não o suficiente para garantir-lhes suas escolhas individuais e coletivas, pois as políticas públicas em vigor obedecem a critérios assistencialistas, ora através de estratégias filantrópicas, ora por políticas compensatórias e clientelistas.

Assim, os pobres – agricultores, extrativistas e trabalhadores de aluguel [povos e comunidades tradicionais] – organizam famílias pobres que continuarão pobres, ora pelo pouquíssimo ou pelo não acesso aos bens primários: prerrogativas, renda, terra, água, alimentação, inteligência, felicidade... . Inspirados, necessitam contraditar, desenvolver, sustentar e valorizar a difícil política do bem-estar social e ecológico com todos – modos de pensar, dialogar, produzir, distribuir, consumir e entreter-se, hoje e amanhã, ao aprender a ser e a viver junto. 

Aliás, é a justiça social a expressão máxima para assegurar que os efeitos combinados tirocínio escolar, da tecnologia e da inovação, da produtividade da terra e do trabalho [e sua organização], da acumulação de capital, da cultura, do lazer transformem as atuais e degradadas relações sociais e de poder, em vida digna, pelo acúmulo de riqueza privada e acesso eficiente à distribuição da riqueza pública pela família, em pobreza absoluta ou pobreza extrema, e especialmente o rurícola: o agricultor, o extrativista e o trabalhador de aluguel [os povos e comunidades tradicionais], principalmente os jovens rurais, enquanto, cidadãos iguais e livres. Por isso, o fiasco RIO +20.

Publicado pelo jornal: Tribuna Independente, Maceió – Alagoas, 2012

10 comentários:

  1. Em tempo de RIO + 20, o assunto levantado é da hora. Toninho

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  2. De fato, a rio + 20, não foi boa nem de marketing. Flávio

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  3. Bem lembrado, é preciso compreender o que é pobreza. Artur

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  4. O seu chamamento aos jovens para o exercício da cidadania é crucial para implementar mudanças no sistema. Lúcia

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  5. Uma das minhas leituras do domingo. Toninho

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  6. Bom para uma reflexão sobre a dura vida dos pequenos agricultores. César

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  7. Inspirados, necessitam contraditar, desenvolver, sustentar e valorizar a difícil política do bem-estar social e ecológico com todos – modos de pensar, dialogar, produzir, distribuir, consumir e entreter-se, hoje e amanhã, ao aprender a ser e a viver junto. Essa inspiração vale uma reflexão! Vanessa

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  8. Boa a observação de Vanessa.

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  9. Parabéns pelo texto. Carlo

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  10. Ainda tem gente fazendo só elogiando a agricultura familiar. Acordem. OTO.

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