sábado, 24 de setembro de 2011

Nova e velha ATER para a Agricultura Familiar: a contradição do discurso

Lino Moura

Depois de um verdadeiro desmonte nos serviços de Assistência Técnica e Extensão Rural (ATER) no Brasil, durante o Governo Collor, a mobilização de agricultores e extensionistas não arrefeceu. A crença na importância destes serviços para o desenvolvimento rural, em geral, e para a agricultura familiar em particular, não deixou a idéia morrer. Seminários foram realizados, documentos foram publicados e muitos discursos foram feitos sempre enfatizando a relevância deste serviço para o desenvolvimento sustentável no meio rural e combate à miséria no campo.

Nos últimos anos a criação da Lei de ATER e o aumento dos recursos para o serviço acenderam uma luz no fim do túnel: os serviços de ATER passaram a ter mais visibilidade e voltaram com força às pautas do Governo Federal e, a partir daí, influenciaram políticas nos estados com contratação de pessoal e uma maior aplicação de recursos que se refletiu em um maior atendimento aos agricultores familiares. As críticas aos serviços de ATER de antes do desmonte chegam a colocar a Extensão Rural como vilã nos processos de exclusão social e degradação ambiental no campo e colocam em xeque qualquer iniciativa para retomar este serviço.

Afinal de contas, porque reconstruir algo que causou tantos prejuízos ao desenvolvimento sustentável? Porque investir em algo que foi ruim? Este discurso tem como finalidade apenas fazer um jogo político de que “agora tem algo novo” para justificar esta política, o que não é necessário. Basta olhar para os últimos 50 anos e ver que a ATER foi fundamental para o desenvolvimento rural, para a soberania e segurança alimentar, para a melhoria da qualidade de vida no meio rural e para garantir divisas para o país com as exportações da agropecuária.

O que aconteceu, continua e vai continuar acontecendo é que a política de ATER não atinge a todos os agricultores e isto faz com que os assistidos tenham avançado e os não assistidos ficaram caudatários naquilo que se costumava chamar de “progresso”. E assim será se não houver a universalização dos serviços de ATER aos 4,3 milhões de famílias de agricultores familiares do país. É preciso analisar quem são os miseráveis do campo.

E certamente são aqueles que não receberam assistência técnica do sistema oficial.A falta de orçamento, de técnicos e de instrumentos para chegar a todos os agricultores vai continuar fazendo com que o ritmo dos assistidos seja diferente dos não assistidos. E não dá para querer dizer que a culpa de alguns ficarem “atrasados” ou “pobres” é porque a Extensão Rural atendeu os outros.

Ou será que o ideal é deixar todos em igualdade: sem assistência?

Fundamental é consultar os agricultores sobre o tipo de assistência técnica que querem. Que tipo de informações desejam receber?

Isto sim pode legitimar as opiniões sobre a ATER que os agricultores querem. Se o serviço de ATER no Brasil não tivesse sido eficiente não haveria razão para lutar para mantê-lo e fortalece-lo. Os serviços de ATER são realizados de forma datada. De acordo com a realidade do momento. Foi assim e será assim.

E nada garante que a ATER de hoje, prevista na PNATER, construída com o protagonismo de muitos extensionistas (aqueles extensionistas criticados por alguns) vai passar incólume às críticas dos políticos, técnicos e agricultores nas próximas gerações. Não existe velha ATER e nova ATER. O que existe é uma ATER sempre afinada com o momento vivido pela sociedade. E se não fosse assim, não teria qualquer importância e não seria objeto de desejo das famílias rurais desde a metade do século XX.

Continuaremos a ajudar a construir um mundo rural melhor, mas continuaremos limitados a cada momento e sujeitos a erros que serão identificados em cada mudança de paradigma. É preciso analisar cuidadosamente o contexto em que cada ação foi realizada.

E não colocar na conta dos agrônomos, técnicos e extensionistas os problemas que eles mesmos tentaram e tentam equacionar ao longo deste processo histórico. Ou alguém duvida que foram os extensionistas os primeiros a discutir o uso de agrotóxicos, os primeiros a ir a campo falar de tecnologias alternativas ou orgânicas, os primeiros a estimular o uso de proteção, a capacitar agricultores em práticas de conservação dos solos e a implantar projetos de energia elétrica e saneamento básico no meio rural. O que não podemos é repetir erro velho, pois ainda existem muitos erros novos para fazer.

Publicado em www.maisrural.com.br, Porto Alegre, RS, setembro de 2011

Em tempo: Um dos erros novos, é o não reconhecimento da lucidez, do elevado grau de confiança, do contínuo rito de passagem que esta sexagenária senhora, a EMATER - BRASIL [seus extensionistas], realiza dia a dia, principalmente no lugar rural [e pela complexidade de sua multifuncionalidade], ora aprendendo, ora desaprendendo e ora reaprendendo com os agricultores, extrativistas, pescadores e suas famílias [e com povos e comunidades tradicionais]e com os organismos governamentais e não governamentais, o aprender a viver junto, o aprender a ser tão necessários às relações triviais; inclusive àqueles que farão a sucessão familiar, a garantia do acesso e uso dos bens primários: riqueza privada, riqueza pública, inteligência, autorrespeito, cidadania igual, liberdade individual,felicidade... , por aqueles com pouca leitura sobre a EMATER - BRASIL.

No dia 23 de setembro, a EMATER-PARAÍBA fez 54 anos de história; parabéns aos empregados, agricultores e extrativistas familiares pela VIDA LONGA da marca: EMATER - BRASIL.

Marcos Antonio Dantas de Oliveira

5 comentários:

  1. Fiquei contente com o texto do Lino e do Marcos. Edgar

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  2. O aniversário de 54 anos da Emater-PB mostra a importância desse serviço para aos agricultores.Cleide

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  3. O texto nos leva a indagar, quanto caminho ainda teremos que percorre para obter qualidade de vida? Elias

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  4. Que texto bom de ler. Margarete

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  5. Um texto muito bom, este escrito a duas mãos. Alexandre

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