sábado, 23 de outubro de 2010

Não é um jogo de soma ZERO

Marcos Antonio Dantas de Oliveira

Quando o relatório Brundtland anunciou ao mundo que o desenvolvimento sustentável - desenvolvimento durável - [recurso natural, demografia e PIB] tem como finalidade máxima: a capacidade de as gerações presentes atenderem suas necessidades sem comprometer a capacidade de as gerações futuras o fazerem; instalou-se a polêmica, o contradiscurso. E não teria sentido não tê-lo; é salutar para o debate.

Argumentações, a posteriori, exigem uma leitura, uma reflexão e uma ação sobre o uso e o não uso dos recursos e serviços naturais: dos modos de produção, distribuição e consumo de bens e serviços aos valores culturais: trabalho, lazer, norma de conduta, crença e utopia de cada sociedade, de cada categoria social, inclusive das tradicionais e das indígenas; inegavelmente um passo foi dado em busca do que se compreende por desenvolvimento e sustentabilidade.

Conquanto, por termos vivido, ao longo das últimas cinco décadas, um processo penoso de transição política, econômica, social e ecológica; este processo tem avançado, rapidamente, na área econômica, em virtude da crença nos valores de mercado e que esses são capazes através de seus próprios mecanismos, ao autocorrigir-se, redistribuir renda e riqueza, entretanto, ainda persiste a pobreza.

Estudos mostram que, a economia sozinha não tem sido capaz de maximizar a liberdade e a igualdade de oportunidade social, ecológica e econômica dos indivíduos, hoje; imagine amanhã! A economia e seus princípios não têm realizado as demandas da grande maioria dos alagoanos, notadamente dos rurícolas, dos agricultores e extrativistas familiares: do desejo de participar do banquete de bens e serviços, como garantir-lhes o acesso e uso dos bens primários – liberdade, autorrespeito, autoestima, moradia, alimentação, educação, saúde, lazer, seguridade social, inovação, meio ambiente, família e cultura.

Assim, os valores sociais devem estar igualmente distribuídos, ou uma distribuição desigual de um indivíduo ou do conjunto de indivíduos garantam benefícios a todos. Esse é o desafio entre o acúmulo de riqueza por uma minoria e de pobreza por uma grande maioria onde quer que elas se localizem no campo ou na cidade.

É brutal, pública e notória: “a transferência de renda para os mais ricos,na forma de juros pelos titulos públicos, foi,no ano passado, de 380 bilhões [para cerca de 300 mil aplicadores]", enquanto “a transferência de renda para 12,6 milhões de famílias pobres [45 milhões de pessoas] custa 13,1 bilhões de reais [Bolsa Família]” (Gazeta de Alagoas, 2010). Em Alagoas, quase um milhão e setecentas mil pessoas vivem como pobres – aqueles com renda de até ½ salário minimo per capita domiciliar [IPEA], entre eles, uma multidão de moradores do campo, agricultores e extrativistas familiares.

Decididamente: não é um jogo de soma zero!

Então, demarcar uma posição original, por parte dos ricos, em abdicar da crescente onda de desejos realizáveis, como dos rurícolas, dos agricultores e dos extrativistas familiares em continuar, em maioria na pobreza, com seus sonhos de consumo irrealizáveis, exige um marco regulatório que garanta a distribuição da riqueza pública e o acesso e o incremento da riqueza privada a todos; é o ponto de partida.

Aliás, os moradores definem os parâmetros e possibilidades para apropriação e condução do desenvolvimento sustentável à sua plenitude; assim impedem que alguns poucos transforme-os em ferramenta política e/ou ideológica para atender seus interesses, do estado e do município – “Corrupção devasta mais de 67% das prefeituras em Alagoas”(Tribuna Independente, 25/mai/2008).

Só uma estrutura social com novas formas de lidar com os potenciais ecológicos, tributos e as relações sociais em sua diversidade romperá a penúria desses pobres – Cooperativa de Reclicadores de Alagoas/Cooprel que faturam em média R$ 280 por mês, cada. "Se não tivéssemos acreditado na ideia, nem mesmo esse pequeno salário teríamos para ser feliz ao fim do mês, diz Maria José [fundadora da Cooprel] (Gazeta de Alagoas, 22/ago/2010) como a do cortador de cana que recebe R$ 3,57/t cortada(Tribuna Independente, 2009). Quanta irresponsabilidade ecológica e social!

Para isso,é preciso criar redes de instituições estatais e não estatais, formais e informais, citadinas e rurais capazes de enfrentar essas situações incômodas ao desenvolvimento sustentável, é um processo dialético, de desinteresse mútuo, de cidadania igual e de liberdades reais, que compartilhado pelas diversas categorias [conflito] ao utilizarem, conservarem e preservarem os recursos naturais, transforma-os em bens e serviços: do autoconsumo ao mercado, do PIB às rendas [gestão] destinados ao bem-estar social e ecológico de todos no presente e no futuro [justiça - e à dignidade das pessoas, uma multidão de ruricolas, agricultores e extrativistas familiares. E ao se relacionarem, ajudem-se na construção de normas e de condições para manter e ou adotar inovações e adaptações, que assegurem o estado da vida humana como da não humana saudável nos territórios.

E na capacidade de trocar ideias e experiências, aliás, no incremento da capacidade de cooperar dos rurícolas e citadinos, entre si e entre eles, exercitando a dialética, a cidadania igual[igualdades de oportunidades: sociais, econômicas, políticas, o desinteresse mútuo, justiça social] sob o viés do uso, conservação e preservação dos recursos e serviços naturais e dos tributos, e salvaguardadas pela liberdade individual.

Publicado pelo jornal: Tribuna Independente, Maceió – Alagoas.

12 comentários:

  1. Muito bem postas as soluções, exercício da dialética e da cidadania igual, para os problemas enfrentados pelos agricultores e extrativistas. Antonio

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  2. Cada vez que, leio esses textos, sinto-me reconfortada.
    Ana

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  3. Como os agricultores em geral pertencentes a classe E podem melhorar suas vidas com essa brutal transferência para os ricos. Rui

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  4. Assisti uma palestra sua muita reflexiva. E agora acesso seu blog com frequencia, por sinal excelente. Fernando

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  5. Marcos, parabéns pelo texto. Adélia

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  6. É o exercício da dialética e da cidadania igual que dão rumo a melhoria da qualidade de vida de todos nós. Francisco

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  7. É o exercício da cidadania o caminho para planejar e executar políticas públicas eficazes. Joaquim

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  8. A sustentabilidade ganha corpo em muitos discursos evasivos, e esse texto nos provoca sobre tal tema. Aldo

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  9. Acertadamente na mosca esse artigo; tudo é uma questão de exercício da cidadania igual, Arnon

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  10. Um conceito muito claro e reflexivo sobre o que é Desenvolvimento sustentável. Mateus

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  11. Interessante e reflexivo. Eduardo

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