sábado, 8 de maio de 2010

Pode-se VIVER melhor

Marcos Antonio Dantas de Oliveira

Mas, em Alagoas, a pobreza e a indigência levam famílias inteiras lutarem pela sobrevivência - em Poço das Trincheiras: "Uma das 24 comunidades quilombolas reconhecidas pelo governo federal, a Jacu-Mocó vive esquecida num ambiente inóspito". "Nossos maiores problemas aqui, sem dúvida, são água e moradia" , diz Demézia Moraes (Gazeta de Alagoas,01/nov/2009). Esses rurícolas praticam a agricultura e o extrativismo; e ora avós, pais, filhos e netos, confirmam o descaso e o clientelismo (das políticas públicas) do governo com esse modo de vida. Tem mais, esses Quilombolas fazem parte do mais de 1,5 milhão de alagoanos pobres [pobre: aquele que ganha até 1/2 salário mínimo per capita domicilar (IPEA)].

Entretanto, os deputados estaduais são os mais caros do país – custam a sociedade [... e aos agricultores, extrativistas, pescadores e suas famílias] quase 100 mil reais por mês cada (Tribuna Independente, 2009). Essas situações ajudam a entender porque os bens primários: liberdade, riqueza, renda, poderes, bases sociais do autorrespeito..., são tão escassos à maioria dos citadinos e mais aos rurícolas; e porque Alagoas tem os piores indicadores sociais. Por isso, as comparações interpessoais devem ser feitas para além das escolhas pessoais, em termos de um índice de bens primários assegurados a todos em resposta às necessidades de cada um, demandas e desejos; e assim forneça critérios, desinteressados, para definir os direitos e os deveres para a cooperação social, dos benefícios aos encargos.

Então, o projeto de desenvolvimento rural sustentável deve estar forjado em um presente cultural amplo onde a heterogeneidade, a capilaridade e a criatividade das instituições: indivíduo, família, escola, igreja, fábrica, sociedade façam leis preventivas e corretivas para fiscalizar e punir os infratores como forma de anular os processos de excessiva concentração de renda e poder; de corrupção e impunidade, como das relações de produção desfavoráveis, avigoradas pelos equivocados modelos tecnológico-produtivos, ora praticados pelos “donos do poder e da natureza”; e corrija-as. Assim, cresce a número de instituições que entendem a problemática: citadina/rurícola e suas relações.

Soluções: essas instituições desvelam ferramentas: teórica e prática; e ética para alimentar a sabedoria desses entes e assim melhorar o estado de vida dos Zés e Marias, agricultores, pescadores e extrativistas familiares, pobres, indigentes, iguais, livres e agora indignados mitiguem ou acabem com sua penúria, fruto da perversa troca desigual: econômica e ecológica realizada no imóvel, no estado, no país e fora deles. Há necessidade construí-las em redes locais e globais, e assim praticar ações para eliminar essa vida penosa. No entanto, esse projeto ecológico [e humanitário] ora dificílimo é possível, à dialética.

Pois, transformações já acontecem no setor rural e agropecuário, um arranjo de tarefas agrícolas, pecuárias, agronômicas, econômicas, ecológicas e sociais: do preparo e conservação do solo ao uso de tecnologias [satélites artificiais, equipamentos com controle remoto, organismos geneticamente modificados, crédito, pesquisa, assistência técnica, internet] por aqueles que praticam uma agropecuária de precisão; e a utilização de satélites naturais, serviços ambientais, insumos da biomassa, seleção natural de cultivares [sementes crioulas], intensividade da mão de obra familiar, por aqueles que usam o saber tradicional, e essencialmente a essa categoria; nesses arranjos é recorrente, a alta informalidade das ocupações que gera rendas indecentes e ilegais; que dificulta o acesso à seguridade social; que desvaloriza seus símbolos e costumes; que precariza seus ritos e rituais; que degrada biótopos, enfim, que torna sem rosto à vida humana e não humana. Então, para viabilizar esse projeto, à cidadania igual.

Assim, o agricultor, o pescador e o extrativista familiar e o rurícola [da criança ao adulto] devem costurar alianças e cultivar credibilidade com indivíduos e instituições: dos defensores da ecologia profunda aos da economia forte, dos citadinos aos políticos, dos técnicos aos agricultores, da política ambiental às políticas públicas melhorando assim suas condições de vida, suas posições sociais.

E indagando-se sobre a melhor forma de conduzí-las nesse lugar rural. Para nele, dialogar e executar suas ações; nele, exercitar às liberdades [consiste em que a sociedade assegure a cada um deles, os meios objetivos para realizar essas liberdades], sem condicionalidades, para além da liberdade de consumir, trabalhar e não trabalhar, divertir-se e cultuar seus patrimônios imateriais; nele aprender, desaprender e reaprender a viver com dignidade.

Publicado pela TRIBUNA INDEPENDENTE, Maceió - Alagoas.




7 comentários:

  1. Antonio

    Um artigo para lido e debatido pelos que lidam não só com a agricultura familiar, mas também com o ambiente rural.

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  2. Melhorar de posição social essa é máxima a ser perseguida, Carmelita.

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  3. O artigo sugere que para se ter uma vida digna, é necessário exercitar o contraditório e a cidadania igual. Vamos à luta, Diogo.

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  4. É verdade a discussão gira em torno da dificuldade de acesso e garantia os bens primários aos pobres, aqueles que ganham até meio salário mínimo, Júlio.

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  5. Fiquei muito pensativa ao lê o artigo, e isso é muito bom, Margarida

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  6. A melhoraria de posição social do rurícola pobre é assegurada pela distribuição da riqueza pública. Antonio

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  7. O autor toca num ponto fundamental. O exercício da cidadania igual é o ponto de partida para que o agricultor mude de posição social e melhore sua renda familiar, Bruno

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