sábado, 22 de maio de 2010

NÃO é um faz de conta!..

Marcos Antonio Dantas de Oliveira

Que as forças vivas da sociedade [entre elas, o rurícola, o agricultor, o extrativista e suas famílias] ao buscarem nos saberes autóctones e científicos, a identificação de princípios éticos, estão motivadas a assumir compromissos mútuos, libertando-as da servidão e da vontade de explorar como de ser dona da natureza.

Para tanto, é necessário que, os indivíduos e suas organizações assumam responsabilidades e, com isso, elegam políticas públicas típicas de uma democracia, entre elas, a educação, a reforma agrária... que, de forma desinteressada, assegurem o pensar, o desenvolvimento e o exercício das capacidades básicas, que é ter senso do que é justo e aquela de optar, de transformar e de possibilitar a execução de uma concepção de vida solidária: dos bens primários [liberdade, riqueza, renda, inteligência, autoestima, patrimônio imaterial] à utopia, vistas em qualquer sociedade, inclusive naquelas fora do alcance do modo de vida moderno. É possível, pois as condições materiais e imateriais existem.

A construção de novas realidades ecológicas, ambientais e sociais é necessária para liquidar a hierarquização e autoritarismo das relações sociais. Essa queda permitirá a abertura de diálogos de saberes, e o fluxo do conhecimento acontecerá com e para todos, com relevância para os estilos de vida rurais – em realce, o dos agricultores, dos extrativistas, dos pescadores e de suas famílias. Assim sendo, o saber ambiental se constitui através da “desconstrução dos paradigmas dominantes do conhecimento e da produção e articulação de saberes: científicos e autóctones”, para Enrique Leff (2002).

Ainda é pouco relevante para terceiros, os espaços de vida das categorias rurais: do princípio da igualdade de oportunidades sociais, econômicas às patrimoniais aos seus direito e deveres: da produção da riqueza privada e da pública ao lazer, da arrecadação e distribuição dos tributos à liberdade individual, do consumo ao bem-estar individual e coletivo, da dilética à cidadania igual.

Porém, é uma das portas de entrada à percepção e compreensão de como funciona seu precário mercado, formal e informal; sua baixa participação na vida pública e política; sua luta diária pela sobrevivência; sua ineficaz rede de proteção social [inclusive pelo serviço de pesquisa agropecuária e extensão rural], sua complexa relação com os citadinos; seu manejo inadequado ao solo e a água, aos insumos e as plantas, aos animais domesticados e a vida silvestre [pela falta de um zoneamento ecológico-econômico]; seu temor às catástrofes naturais e aos mitos; como para pressionar os estados a buscarem novas formas para superar as barreiras e construir soluções: ao gênero, etnia, cor da pele, renda, emprego, saúde, educação, moradia, segurança alimentar..., impostas ao ambiente rural.

Aliás, é dever da sociedade e do estado comprometerem-se em avigorar também a liberdade das crianças e adolescentes do perigo de nascerem e habitarem nesses lugares, cujos ecossistemas podem não prover as suas necessidades e aspirações.

Ademais, princípios e metas estabelecidas são vitais para mitigar os danos ecológicos e ambientais, as diferenças sociais e econômicas; para garantir o acesso aos recursos naturais, a cultura e aos impostos; e assim evitar o colapso dos ecossistemas e serviços ecológicos e das relações familiares, produtivas e sociais. E ainda reconhecer que os quilombolas e índios devem estar protegidos desses impactos.

E o Congresso Nacional aprovou leis, medidas provisórias nesse sentido. Implementá-las e fiscalizá-las daqueles que resistem os ventos da mudança, é preciso. E os ambientes escolares, os veículos de comunicação, o sistema jurídico em especial devem estar a postos para pôr fora de perigo o cumprimento dessa legislação: Lei dos Crimes Ambientais, Estatuto da Cidade, Estatuto da Criança e do Adolescente entre tantas, com repercussões positivas para a diversificação da economia e vida social dos campesinos.

O campo é o lugar para além da sustentabilidade da lógica familiar [terra, trabalho e família]; é a fonte de recursos naturais com fins de alimentação, vestuário, moradia, espiritualidade, energia, paisagem estética ao patrimônio imaterial, inclusive aos citadinos; é o lugar onde a essência do estado da vida e de vida [desequilíbrio, temor, territorialidade, cooperação, autorrespeito, desinteresse mútuo, dialética, cidadania igual, liberdade, afeto...], é mais vivido, é mais sentido pelos indivíduos - das relações consigo e terceiros, com as espécies e o inaminado.

... O campo não é apenas um quadro de vida.

Publicado pela Tribuna Independente, Maceió - Alagoas, 2010.



8 comentários:

  1. O artigo mostra como o campo é relevante à vida humana e outras formas de vida. Então, porque o desprezo pelos campesinos, Sofia.

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  2. Taí um ótimo artigo sobre a vida do homem do campo, Joaquim

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  3. UM artigo para uma boa reflexão sobre a importância da lógica de reprodução dos agricultores familiares, João.

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  4. O campo não é apenas um quadro de vida dos campesinos, é o estado da vida de todos nós.
    Parabenizo pelo artigo, Otávio.

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  5. A frase: ...O campo não é apenas um quadro de vida, nos revela o esforço que devemos fazer melhorar as relações com terceiros, Adriana.

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  6. Há muito tempo não lia um artigo tão interessante.
    Luzia

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  7. A falta de um zoneamento ecológico-econômico real impede que a agriculura, a pecuária e as áreas de preservação ambiental desenvolvam atividades resultem em êxito. Por isso, é urgente um código florestal e das águas, por exemplos que as garantam constitucionalmente sem o famoso jeitinho. Amadeu

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  8. Lendo o artigo e o que outros leitores comentaram, avanços mais fortes no campo dependem de um zoneamento ecológico-econômico que deixe claro as áreas de produção, lazer e proteção à natureza e não arremedos como temos hoje, Valdemar

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