Marcos Antonio Dantas de Oliveira
O
filósofo Aristóteles (384 - 322 a.C) já denunciava a desigualdade argumentando
que não há nenhuma razoabilidade no excesso de bens de uns poucos e na carência
de bens de muitos; e o associativismo pode ser uma das ferramentas para mitigar, superar ou romper essa desigualdade? – clique neste link sobre desigualdade: https://www.facebook.com/CanalDaDireita/videos/429849677159569/
De maneira que, “quem somos?, é inseparável de onde estamos?, de onde
viemos?, e para onde vamos”, nos ensina Morin (2000).
Então, em que medida a cooperativa [o ativismo] será capaz de motivar
seus membros a discutirem e criarem mecanismos de garantia não só da gestão
empresarial, assegurando trabalho e renda, mas, sobretudo, às condições de
usufruto do bem-estar dos “donos-cooperados” em termos econômicos, sociais,
ambientais e culturais, assegurando a diversidade de modos de vida em sintonia
com o desenvolvimento sustentável –
durável – e seus critérios: social, cultural, ecológico, ambiental, territorial,
econômico, política nacional e política internacional (SACHS, 2000); com a alfabetização ecológica e seus princípios:
interdependência, reciclagem, parceria, cooperação, fluxo cíclico dos processos
naturais, flexibilidade, diversidade (CAPRA, 2002), com
usufruto dos bens primários propostos por Rawls (2002): autoestima,
inteligência, imaginação, saúde e vigor, direitos, liberdades e oportunidades,
renda, riqueza?
E o cooperativismo agrícola [ativismo e a cooperativa] é um dos caminhos
possíveis na construção de uma sociedade mais eqüitativa, mais solidária, mais
respeitadora da natureza, ajudando, assim, na transformação de áreas rurais com
problemas fortes na distribuição dos ativos fundiários, da renda, do acesso aos
bens públicos. O cooperativismo tem se constituído em um fenômeno
social e econômico que, pela amplitude e por sua manutenção no tempo,
pode ser considerado um movimento de caráter massivo que gerou marcas
importantes na sociedade.
Partimos do pressuposto de que, na busca pela minimização das dificuldades do seu dia a dia, o agricultor deve buscar no ativismo e na cooperativa importantes estratégias como forma de garantir a gestão eficiente do seu sistema social e de produção pelo acesso e usufruto aos recursos naturais e impostos; à inovação; à comercialização de produtos; à proteção do meio ambiente; ao serviço de pesquisa agropecuária e extensão rural; à segurança jurídica; ao conhecimento; e às melhorias sociais para assegurar à reprodução e prosperidade do seu modo de vida. Enfim, que articulações as cooperativas agrícolas fizeram – e continuam fazendo – com outros agentes econômicos e sociais, no sentido de buscar compor cenários, nos quais os agricultores atinjam seus objetivos, enquanto “donos-cooperados”.
Enfim, o cooperativismo continua a emular discussões e comentários
sobre a importância da educação cooperativista para reformar o ambiente
econômico, social, ambiental e cultural; ainda mais, hoje, com essa onda
globalizante que devasta os estilos de vida mais prosaicos em nome do
consumismo supérfluo, que menospreza os lugares em nome do espaço, do localismo,
do globalismo.
No estado de Alagoas, o número de organizações cooperativas ainda é pequeno
quando se leva em conta que existe 123 mil estabelecimentos agropecuários,
principalmente daquelas que atuam no ramo agropecuário, de crédito e de
trabalho; e que ocupam espaços privados e públicos objetivando cumprir seus
estatutos – ideário e prática cooperativista. É importante notar e anotar que no Brasil como em Alagoas o baixo grau do ativismo, da prática e da gestão social dos “donos-cooperados” e dos dirigentes dessas cooperativas, do solidarismo repercutem negativamente nos
debates e nas alianças [atos, processos e soluções].
É comum os “donos-cooperados” atuarem de modo apático ao ideário e à
prática cooperativista. Por exemplo: é na Assembleia [enquanto instância
máxima, que se exercita democracia direta] que se planeja e decide a prática
cooperativista, se fiscaliza o cumprimento do estatuto. Chamo atenção para o
edital da Cooperatica dos Produtores de Mel de Abelha e Derivados Ltda/COOPMEL
publicado pela Tribuna Independente, 19 de
janeiro de 2016. Em particular para a chamada em 3ª convocação – com no mínimo
10 (dez) cooperados em condições de votar a seguinte ordem do dia: 1) Reforma
estatutária. Ademais, votar esse tema com um número tão baixo, de 10 “donos-cooperados” revela a precariedade da prática cooperativista. Destarte, é
crucial uma Assembleia tão esvaziada, ela mostra quão difícil é implementar o
Estatuto Social; e reflete principalmente a má atuação dos dirigentes para
implementá-lo. Nesse sentido, não tem nem elevado, nem melhorado o ideário e a
prática cooperativista alagoana e brasileira.
Outro agravante: a cooperativa é quase sempre sendo ineficaz e malvista em cumprir seu Estatuto social pela baixa participação cognitiva, instrumental, política e social da maioria dos “donos-cooperados” – o menosprezo pelo exercício da democracia direta evidencia-a como uma instituição extrativista tanto política [porque não distribui poder] como econômica [porque não distribui riqueza] como comentam Acemoglu e Robinson, 2012, sobre instituições extrativistas no livro: Por que as nações fracassam.
Mais
outro: a prática da reeleição, em geral, efetivou a apropriação do Estatuto
Social pelo príncipe. Todavia, em 1844, Lancashire, Inglaterra, os Probos
Pioneiros de Rochdale, os tecelões da indústria da flanela, elegiam
semestralmente um presidente, um tesoureiro, um secretário; essa prática
rochdaliana fê-la, um caso de sucesso saudado até hoje.
Nesse sentido, devem continuar a luta para que o ativismo e o projeto
social, permanente e continuado, garantam que os princípios cooperativistas – adesão livre e voluntária, controle democrático pelos sócios e
educação, participação econômica dos sócios, independência e autonomia das
cooperativas, cooperação entre cooperativas e preocupação com a comunidade;
interpenetrados pelos princípios ecológicos em Capra (2002), pelos critérios de
sustentabilidade em Sachs (2000)
e pelo usufruto
dos bens primários propostos por Rawls (2002) alavanquem o bem-estar com todos associados, livres e iguais.
Assim é preciso avaliar: a intervenção
do Estado [e dos governos] e da cooperativa [e dos dirigentes-cooperados],
ainda com sua mão de força promovendo a hierarquização de seus interesses “com
práticas clientelistas e paternalistas que as da oligarquia política e
fundiária” (SABOURIN, 2006). Aliás, “aquele que promove o poder de um outro
perde o seu ...”, nos ensina Machiavelli (1998). Indubitavelmente, essa
intervenção caracteriza o modo brasileiro de fomentar o ativismo e a
cooperativa. Então, “a primeira tarefa dos intelectuais deveria ser a de
impedir que o monopólio da força torne-se também o monopólio da verdade”
(BOBBIO, 1997).
Pois, para Arendt (2003), “a liberdade situa-se exclusivamente na esfera política”. E Paulo Freire (1996) afirma: o “essencial nas relações [...], entre autoridade e liberdades, [...] é a reinvenção do ser humano no aprendizado de sua autonomia”; é reflexão e ação dos homens sobre o mundo para transformá-lo. Sem ela, é impossível a superação da contradição opressor-oprimido” (1987) e, sobretudo, das predadoras instituições econômicas e políticas extrativistas. De modo que, é imperioso que as crianças, os jovens e as mulheres, principalmente os rurícolas, participem ativamente dos processos de governança, de governabilidade e de tomada de decisões em instituições econômicas e políticas inclusivas para alavancar seu bem-estar pelo usufruto dos bens primários propostos por Rawls (2002): autoestima, inteligência, imaginação, saúde e vigor, direitos, liberdades e oportunidades, renda, riqueza.
Artigo publicado na Tribuna Independente, Maceió/AL.
Continue nos oferecendo esses artigos tão sensíveis a condição de desigualdade social. Vera
ResponderExcluirQue Aristóteles lhe ilumine cada vez mais. Toninho
ResponderExcluirVou levá-lo a outras pessoas, quero repercutir seu artigo. Marcelo
ResponderExcluirMuito bom seu artigo, parabéns, Conceição fez seu doutorado em Cooperativismo vou reenviar-lhe, continue contribuindo com o questionamento social, nós precisamos destes despertares cotidianamente.
ResponderExcluirCrisólogo
Via de regra, como anda mal das pernas nossas cooperativas. Este texto é um alento. Jason
ResponderExcluirSempre problematizando as condições precárias da grande maioria dos agricultores familiares. Gabi
ResponderExcluirHá muito isolidarismo entre a gestão e os cooperados. Geovane
ResponderExcluirA citação desses autores oportuniza uma leitura bastante reflexiva. Mauricio
ResponderExcluirO associativismo não andar bem das pernas, parabéns Marcos. Ricado
ResponderExcluirA importância das crianças, jovens e mulheres na construção do projeto social da cooperativa é fundamental. Vanessa
ResponderExcluirMe chamou a atenção sua observação principalmente para as crianças, precisam tratá-las com decência para dar-lhes oportunidades na vida. Oto
ResponderExcluirParticipar da tomada de decisões é vital para melhorar a condição de vida do agricultor. Rodrigo
ResponderExcluirOutro ferramenta em baixa é o ativismo, por isso, seu texto é oportuno. Ana
ResponderExcluirParabenizo pela oportunidade do texto. Gilberto
ResponderExcluirO texto deixa claro que as cooperativas precisam implementar seus estatuto, e assim avançar em seus objetivos. Mariana
ResponderExcluirA citação de nomes como Capra, Sachs, Arendt, Rawls, Freire, Sabourin, Bobbio, Maquiavel não só enriquece como torna o texto reflexivo sobre a prática cooperativista. Chico.
ResponderExcluirRompe com a submissão é necessário, pois, o cooperado ainda não está liberto. Hélio
ResponderExcluirValeu!!! Davi
ResponderExcluirVivemos um associativismo de compadrio. Adolfo
ResponderExcluirO opressor-oprimido, de que fala Paulo Freire é evidente na organização associativa. Bernardo
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ResponderExcluirE a Academia está longe desse papel. Graça
ResponderExcluirAtualissimo! Rosa
ResponderExcluirGosto dessa sua forma de se pronunciar, Marcos. Stella
ResponderExcluirVibrante seu texto, parabéns. Diogo
ResponderExcluirPrincipalmente no Nordeste e no Norte, as cooperativas atuam como instituição extrativista. Adelmo
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