Marcos Antonio
Dantas de Oliveira[1]
Atente: para o Edital de uma Cooperativa em sua 3ª
convocação: “com no mínimo 10 cooperados em condições de votar, com a seguinte
ordem do dia: 1. Prestação de contas do conselho administrativo; 2. Relatório
da gestão/2010; 3. Balanço geral 2010; 4. Outros assuntos de interesse social“.
Em verdade, com presença tão baixa na 3ª
convocação, os donos-cooperados não exercitam a democracia direta nas assembleias.
E por não exercitarem a democracia direta, “os cidadãos são expulsos do campo
político, que é cada vez mais dominado pelos ‘expertos’, e o domínio da ‘nova
classe’ impede de fato a democratização do conhecimento” [EDGAR MORIN, 2000].
Urge entender o associativismo, enquanto
militância, e a empresa cooperativista, enquanto projeto e prática social.
Aliás, os rurícolas, e em especial, os povos e as comunidades tradicionais e os
agricultores familiares, os donos-cooperados, necessitam avaliar sua apatia:
ora pela influência do Estado [e do governo], do dirigente-cooperado promovendo
à hierarquização de seus interesses, sob o viés autoritário e paternalista; e,
ora pela sua prática cooperativista, sua apatia com o seu negócio.
Por conseguinte, para superar essa apatia, os
donos-cooperados precisam de motivação da filosofia cooperativa [dos princípios
inspirados nos 28 Tecelões de Rochdale, Inglaterra [1844]: adesão voluntária e
livre; gestão democrática; participação econômica dos membros; autonomia e
independência; intercooperação; preocupação com a comunidade, por exemplos],
assim como entender e exercitar uma das máximas da cooperativa: a democracia
direta.
Inclusive, o associativismo que conhecemos continua
seu processo de transformações profundas; é do seu estilo; entretanto, sempre
prescindirá de um ambiente livre e solidário, por isso, a luta para reformar o
ambiente social. Há 166 anos, os Tecelões de Rochdale revolucionaram o ambiente
social com a constituição de um armazém cooperativo baseado na ajuda mútua como
finalidade, mas de elevado caráter democrático, em contraste com o caso
brasileiro. Dono-cooperado, salve-se dessa apatia
sustentável.
Uma das razões pelas quais as cooperativas brasileiras
estão quase sempre sendo ineficazes e malvistas em cumprir seus estatutos é a
baixa participação cognitiva, instrumental, política e social da maioria dos
donos-cooperados – o menosprezo pelo exercício da democracia direta.
Será por que os donos-cooperados não sabem o que é
democracia direta?
Será por que não sabem a quem serve o seu negócio:
a cooperativa?
Será que não sabem que uma Assembleia tão esvaziada
para deliberar sobre o seu negócio é uma forma de servidão?
Daí, ainda se indaga: é possível a cooperativa,
enquanto ferramenta econômica, satisfazer às demandas de bem-estar material e
imaterial de seus donos sem solapar o seu elevado caráter social, sua
identidade, sobretudo vivenciar a ética, a virtude?
É o embate, dia a dia, que ao promover o
contraditório, tanto o choque de ideias como os atos de abnegação e servidão,
usura e ajuda mútua, corrupção e solidariedade, egoísmo e dignidade que propiciarão
condições para exercitar o ativismo [cidadão livre e igual] e a prática
cooperativista.
Segundo Arendt (2003), “a liberdade situa-se
exclusivamente na esfera política”. E afirma Paulo Freire (1996): o “essencial
nas relações [...], entre autoridade e liberdades, [...] é a reinvenção do ser
humano no aprendizado de sua autonomia; é reflexão e ação dos homens sobre o
mundo para transformá-lo. Sem ela, é impossível a superação da contradição
opressor-oprimido” (1987).
Um esforço há de se mover a partir de práticas
criativas e eficazes dos donos-cooperados no interior da cooperativa e fora
dela. É essa identidade que, ao se reproduzir, revigora-se a partir das
relações sociais e de produção, sobre a ótica da cooperação, do associativismo,
da cooperativa, e ainda em função de situações econômicas, sociais,
patrimoniais e ecológicas em permanente mudança; esses elementos definem as
bases de desenvolvimento e de sustentação desse projeto e prática social,
enquanto um negócio privado de interesses coletivos - salve o cooperativismo.
É pelo êxito da militância e do exercício estatutário
dos donos-cooperados que se reforma esse ambiente social: das relações
multifuncionais às multidimensionais, da produção ao consumo, do controle dos
recursos naturais e dos tributos ao Plano Plurianual / PPA, à Lei das
Diretrizes Orçamentárias / LDO e à Lei Orçamentária Anual / LOA; e, por fim, ao
aprenderem a conhecer; aprenderem a fazer; aprenderem a ser; e aprenderem a
viver junto usufruindo dos bens primários: autoestima, inteligência, imaginação, saúde e vigor, oportunidades, renda, riqueza, liberdades, direitos [RAWLS,
2002], alcançarão o bem-estar – à vida digna.
[1] Mestre em Desenvolvimento Sustentável, membro da
Academia Brasileira de Extensão Rural/ABER, professor da UNEAL,
extensionista da EMATER-AL/Carhp Blog: sabecomquemestafalando.blogspot.com
Arretado de bom! Cássio
ResponderExcluirSuas perguntas estão esperando respostas. Jason
ResponderExcluirPrecisamos nos reinventar. Vanessa
ResponderExcluirAcho que o cooperado está como você diz, apático com o que é seu. Parabéns pelo texto. Marcelo
ResponderExcluirEssa terceira convocação com esse número mínimo é demais para os cooperados apáticos. Vera
ResponderExcluirUm abraço MARCOS, parabéns pela continua produção intelectual, e que assim seja para reflexão dos trabalhos afins.
ResponderExcluirVerneck Abrantes-ABER-PB
Um artigo importante neste dia (do cooperativismo) por nos ajudar a refletir sobre a atuação da cooperado em sua cooperativa. Oto
ResponderExcluirMarcos, você sempre nos ajudando a formar e informar opiniões. Gabi
ResponderExcluirEm frente, Marcos! Osvaldo
ResponderExcluirVocê tem escrito não só sofre as dificuldades do agricultor, mas, sobretudo sobre soluções, parabéns. Mauricio
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