domingo, 21 de abril de 2013

Não é um faz de conta!..

 Marcos Antonio Dantas de Oliveira[1]

Que as forças vivas da sociedade ao buscarem nos saberes autóctones e científicos, a identificação de princípios éticos estão motivadas a assumir compromissos mútuos, libertando-as da servidão e da vontade de explorar os fatores de produção, e do egoísmo.

Para tanto, as pessoas, as organizações e a sociedade assumem responsabilidade e elegem políticas públicas típicas de uma democracia, entre elas, a Educação, a Reforma Agrária, Código Tributário... que, de forma desinteressada, assegure o pensar, o desenvolvimento e o exercício das capacidades básicas, que é ter senso do que é justo e aquela de optar, de transformar e de possibilitar a execução de uma concepção de vida solidária à utópica ­­dos princípios ecológicos, proposto por Capra (2002) [interdependência, parceria, cooperação, diversidade, flexibilidade, reciclagem, fluxo cíclico da natureza] aos bens primários [segundo Rawls (2002): autoestima, inteligência, imaginação, saúde e vigor, oportunidades, renda, riqueza, liberdades, direitos]  para qualquer sociedade, inclusive àquelas fora do alcance do modo de vida moderno. É possível, pois as condições materiais e imateriais existem.

A construção de novas realidades ecológicas, ambientais e sociais é necessária para liquidar a hierarquização e autoritarismo das relações sociais. Essa liquidação permitirá a abertura de diálogos de saberes, e o fluxo do conhecimento acontecerá com e para todos, com relevância para os estilos de vida rurais – em realce, o dos agricultores e extrativistas familiares, povos e comunidades tradicionais. Assim, o saber ambiental se constitui através da “desconstrução dos paradigmas dominantes do conhecimento e da produção e articulação de saberes: científicos e autóctones”, para Enrique Leff (2002).

Ainda é pouco relevante para terceiros, os espaços de vida das categorias rurais: do princípio da igualdade de oportunidades sociais, ecológicas, patrimoniais ­­às econômicas “Alagoas apresenta queda na geração de emprego formal” [2].

Porém, a construção de novas realidades é uma das portas de entrada à percepção e compreensão de como funciona seu precário mercado, formal e informal; sua baixa participação na vida pública e política [sua liberdade individual e cidadania igual]; sua luta diária pela sobrevivência; sua ineficaz rede de proteção social [inclusive pelo serviço de pesquisa agrícola e extensão rural estatal e não estatal]; seu manejo inadequado ao solo e a água, aos insumos e as plantas, aos animais domesticados e a vida silvestre; seu temor às catástrofes naturais e aos mitos; sua complexa relação com os citadinos, é pressionando os estados e a sociedade para superar as barreiras impostas à vida rural; outra é exercitar a cidadania igual e a liberdade individual.

Ademais, princípios e metas estabelecidas são vitais para mitigar os danos ecológicos,  ambientais e culturais, as diferenças sociais e econômicas para garantir o acesso e usufruto dos recursos naturais e dos tributos [“Inflação da baixa renda avança em março”, diz FGV [3]; e assim evitar o colapso dos ecossistemas e das relações familiares e sociais. E ainda reconhecer que os quilombolas e índios devem estar protegidos desses impactos ­­ “Bancada ruralista pressiona para tirar poderes da Funai na demarcação de terras” [4] – PEC 215/2000 

Aliás, é dever da sociedade e do estado comprometerem-se em avigorar as liberdades fundamentais sincrônica e diacronicamente, inclusive às crianças e adolescentes do perigo de nascerem e habitarem lugares cujos ecossistemas podem não prover suas necessidades e aspirações ­­  “Mapa da Violência 2013: 67,1% das vítimas por arma de fogo são jovens” [5].

O Congresso Nacional aprovou leis, medidas provisórias, normas nesse sentido. Implementá-las e fiscalizá-las daqueles que resistem os ventos da mudança é preciso. E a sociedade, os ambientes escolares, os veículos de comunicação, o sistema jurídico em especial devem estar a postos para pôr fora de perigo o cumprimento dessa legislação: Lei dos Crimes Ambientais, Estatuto da Cidade, Estatuto da Criança e do Adolescente,  entre tantas, com repercussões positivas para preservação e uso dos recursos naturais renováveis e não renováveis, para diversificação da economia [ganhos de produtividade e lucro], para o estado [arrecadação e distribuição dos tributos], e para a vida social [bem-estar com dignidade], inclusive dos rurícolas.  

O campo é o lugar para além da sustentabilidade da lógica familiar [terra, trabalho e família], é muito mais do que o arranjo citadino para promover o Código Tributário e a metodologia do IBGE, por exemplo. Esse arranjo é perverso com os rurícolas, com os agricultores e extrativistas familiares, com os povos e comunidades tradicionais; pois, o campo é a fonte de recursos naturais com finalidades: para alimentação, vestuário, moradia, energia, paisagem estética, indústria e mineração, inclusive aos citadinos; é o lugar onde a essência do estado da vida e de vida [desequilíbrio, temor, territorialidade, cooperação, autorrespeito, desinteresse, liberdade, afeto...], é mais vivido, é mais sentido pelos rurícolas - das relações dialéticas consigo e terceiros, e de suas relações com as espécies e o inanimado.

 ... O campo não é apenas um quadro de vida.



[1] Engenheiro Agrônomo, mestre em Desenvolvimento Sustentável, membro da Academia Brasileira de Extensão Rural/ABER, professor da Universidade Estadual de Alagoas/UNEAL

[2] www.eztraalagoas.com.br/2013/04/18/alagoas-apresenta-
[3] G1.globo.com/economia/noticia
[4] www.ecodebate.com.br/2012/04/15/bancada-ruralista-oressiona-para-tirar-poderes
[5] www.ecodebate.com.br/2012/04/15/mapa-da-violência-

9 comentários:

  1. Sento-me confortável e esperançoso ao ler seu texto. Toninho

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  2. Sua forma de escrever nos chama atenção para a pobreza instalada neste Brasil. É também um alento, esse país tem jeito. Mauricio

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  3. Parabéns pelo texto. Pedro

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  4. Você é sempre atencioso para a questão indígena. Obrigado Gustavo

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  5. Continuo lendo seus ótimos textos. Maria

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  6. A vida dura dos agricultores não é um faz de conta. Lucia

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  7. Vamos discutir primeiro o acesso dos jovens às políticas públicas, antes de alterar a maioridade penal. Marcos

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