Promessa é dívida:
“Os agricultores do município de Canapi,
no Sertão de Alagoas, ainda não receberam o farelo de milho e de soja para
alimentação animal, promessa feita pelo governo do estado numa reunião ocorrida
logo após o carnaval” [2].
Ministro da Integração Nacional,
Fernando Bezerra, “diz que transposição do Rio São Francisco termina em 2015” [3].
“Dilma Rousseff disse que a meta de seu
governo é levar água do canal até a cidade de Arapiraca” [4]. No entanto, depois de 20 anos, dos 250 km previstos, 65 km do canal do Sertão foram inaugurados pela presidente Dilma e comitiva, em 12 de março, ao custo de cerca de R$ 15,3 milhões o km [com R$ 15,3 milhões compra-se cerca de 510 carros populares, ou faz-se 510 casas pelo Programa Nacional de Habitação Rural do governo federal. O déficit habitacional na zona rural de Alagoas é de 39.917 moradias (Ministério
das Cidades, 2005)]. E Dilma prometeu mais 1,1 bilhão para 3ª e 4ª etapas com mais 45 km [5]. Aliás, os moradores do Sertão e do Agreste não devem deixar essa promessa vira anedota.
Enquanto isso, no Semiárido, em Palmeira
dos Índios, AL: “ao lado da Barragem do Bálsamo, um buraco feito para desviar
água denuncia que alguns fazendeiros decidiram não esperar por uma solução do
poder público” [6].
Mas só uma certeza anima o sertanejo
penitente, ele continuará rezando para que São José não o abandone de vez.
Será que São José está no começo de
mandato, pois as chuvas não chegaram?
No Brasil, principalmente no Nordeste, famílias inteiras, principalmente os jovens, continuam migrando, ainda em êxodo rural, em resposta a sua situação de penosidade social e política; e agora, nas cidades ocupam lugares e ‘ganha pão’ insalubres e perigosos, ora como catadores de lixo e ou na prostituição e no tráfico de drogas, principalmente as crianças e adolescentes, e ora como cortadores de cana de açúcar – em Alagoas do ex-canavieiro Antônio Sabino: “Deus me livre voltar a cortar cana” [7], soluções para suas vidas indignas.
Assim famílias inteiras, em Alagoas, no Nordeste e no Brasil, continuam sua luta [uma ação política] pela posse da terra, da água, da segurança alimentar, da dignidade.
Ademais, para a melhoria das condições de vida desses rurícolas em
seus municípios e regiões de origem é vital sua participação, um diálogo livre entre cidadãos iguais; “o diálogo, como
encontro dos homens para a ‘pronúncia do mundo’, é a condição fundamental para
a sua real humanização”, afirma Paulo Freire [Pedagogia do oprimido]. E
ao contrário do que pensa os indivíduos, a esperança longe de ajudá-los a viver
melhor, faz-lhes perder o essencial de suas vidas, no presente, a dignidade.
Doravante, o diálogo para a pronúncia do acesso e usufruto dos bens primários deve ser a prática dos rurícolas – dos agricultores e extrativistas familiares [quilombolas, caboclos, índios...], no
que diz respeito às ações do Estado para diminuir a degradação ecológica, o
êxodo rural e agrícola e a pressão demográfica nas cidades; e para garantir a
ocupação do território com acesso a terra e a água, a segurança alimentar, o
emprego e a renda decentes e legais, a escolaridade – “Alagoas gasta mais em diárias do que para erradicar analfabetismo”
– “Em 2010, o montante chegou a R$ 16 milhões, valor é 11 vezes superior à quantia gasta no programa
de Educação de Jovens e Adultos”
[8].
Aliás, o rurícola além de fornecedor de alimentos,
fibras, energia e de mão-de-obra e transferidor de renda para a indústria, o
comércio, o banco, e o Estado pode atrair visitantes tanto pela paisagem
estética dos biótopos e biótipos como pelo seu vital e exuberante patrimônio
imaterial. Para acontecer, é preciso que esses moradores garantam acesso às
políticas públicas de financiamento de lavouras e criações, de pequenos
comércios, de moradias e seguros, de rendas não produtivas e outras políticas
ligadas aos serviços de educação, saúde, segurança pública, pesquisa
agropecuária e extensão rural, ecoturismo, por exemplo; e assim dispor para consumo
familiar, produtos e serviços saudáveis como para oferecê-los aos consumidores citadinos, como resultante da ação coletiva de cidadãos que dialogam sobre interesses
privados e negócios públicos.
Essas políticas são fundamentais para sobrevivência dos rurícolas,
para preservação, conservação e uso da biosfera e biomas como para os padrões de consumo
de sociedades motivadas a atuarem no presente pelos princípios ecológicos,
exaltados por Capra: diversidade, autonomia, interdependência,
cooperação, flexibilidade; e garantam que os bens primários, proposto por Rawls: liberdade, riqueza, renda,
autorrespeito, inteligência... sejam exercitados por todas as mulheres e homens
em qualquer lugar, sincrônica e diacronicamente, permitindo-lhes melhorar suas
posições sociais ao participar ativa, interativa e coletivamente do debate na esfera pública.
Melhorias no campo dependem de um esforço enorme de seus
moradores-contribuintes-agricultores para dialetizar os debates, os embates, as
escaramuças, ora postas, para entender como os mecanismos do desenvolvimento sustentável – durável [investimento,
incorporação de mão de obra e ganhos de produtividade, controle dos recursos naturais e dos
tributos, justiça social] e sua complexa rede de dimensões: ecológica, social, econômica e
política podem no presente alterar sua crítica
penosidade multidimensional.
E como rurícolas, homens e mulheres, cidadãos iguais e livres,
ajam e reajam às proposituras hierarquizadas autoritariamente por agentes
econômicos e do Estado que interferem sistematicamente para piorar suas vidas – com inacessibilidade aos bens primários.
Em tempo: Bem-te-vi é uma ave da
família dos tiranídeos de nome científico Pitangus
sulphuratus. Considerado um dos pássaros mais populares do Brasil, é um
dos primeiros a vocalizarem ao amanhecer. Por isso, rurícolas, agricultores e extrativistas familiares [povos e
comunidades tradicionais] amanheçam vocalizando sobre seu acesso e usufruto aos bens primários. E
indaguem-se, sou sujeito da história?
[1]
Mestre em Desenvolvimento Sustentável, membro da Academia Brasileira de
Extensão Rural/ABER, extensionista da EMATER/AL, professor da Universidade
Estadual de Alagoas/UNEAL e membro do
Comitê Permanente de Juventude Rural do Conselho Nacional de Desenvolvimento
Rural Sustentável/CONDRAF
[2]
Gazeta de Alagoas/19/mar/2013
[3]
www.senado.leg.br/jornal/14/mar/2013
[6]
Gazeta de Alagoas/03/mar/2013
[7] Gazeta de
Alagoas, 27/fev/2011
[8] Extraalagoas.com.br.noticia,
24/jan/2011
Ótimo. Carlos
ResponderExcluirVamos acordar mais cedo. Mariana
ResponderExcluirA educação é peça chave para o bem-estar. Vera
ResponderExcluirBem-te-vi é ótimo. Toninho
ResponderExcluirÉ muito dinheiro e muito tempo para fazer só 65 km de canal. Vanessa
ResponderExcluirlá se foi o dinheiro do nosso imposto. Gustavo
ResponderExcluirExcelente. Suzana
ResponderExcluirÉ muito dinheiro para apenas um km de canal. Ricardo
ResponderExcluirBem-te-vi é muito bom. Cássio
ResponderExcluirAvanços efetivos no bem-estar só melhorando muito a escolaridade. Val
ResponderExcluirParabéns. Carlos
ResponderExcluirComo diz o autor: "melhorar suas posições sociais ao participar ativa, interativa e coletivamente do debate na esfera pública", é a solução. Otto
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