No Brasil , a participação na renda total dos 10% mais
pobres em 1960, era de 1,9%, cinquenta depois regrediu, em 2011 foi de 1,6%; e
a renda dos 10% mais ricos que era de 39,6% praticamente continuou a mesma
39,3%. Mas o discurso daqueles que dão ordens e daqueles que dão conselhos, é
que a desigualdade vem diminuindo.
Em Alagoas, vida caótica, mais
de 60% da população ganha até ½ salário, em maioria, rurícolas, agricultores, extrativistas, [povos e
comunidades tradicionais] trabalhadores de aluguel e suas famílias. Outro dado,
o déficit habitacional rural em Alagoas é de 40.000 lares (Ministério das
Cidades, 2005).
Maceió e Arapiraca, principalmente por êxodo rural como
por empobrecimento de citadinos, a favelização. Essa miséria está em expansão,
da pouquíssima renda ao maltrato à natureza, do precário serviço de saúde e
educação à crescente violência: roubos e homicídios, trabalho e prostituição,
também por aqueles de menor de idade –“Meninas se prostituem por apenas R$ 2" – um despautério.
E como o lugar rural está associado à ausência de facilidades
sociais de toda ordem e, diante da débil ordenação política, social e
patrimonial, seu desenvolvimento está ao capricho de políticas públicas
clientelistas como conformistas. É visto como o lugar do atraso [ignorância e
superstições], caracterizado pela pobreza [econômica e política - baixíssimo
exercício de cidadania igual] e por indicadores sociais baixos.
Ainda assim, adultos, adolescentes e crianças dessas
categorias, enquanto coletores, caçadores, produtores e consumidores de bens e
serviços da natureza não dissociam o local do trabalho, da moradia, do lazer de
suas manifestações culturais; por isso, neles o sentimento
de pertencimento não é retórica, é vida compartilhada. Nesse sentido encantam-se com os
biótipos, biótopos e biomas [pela harmonia aparente]; pois, eles relacionam-se
estreitamente do modo de produzir, consumir, divertir ao assumir
responsabilidades com a família, a vizinhança e a natureza – das relações de
produção ao temor a Deus, do uso e não dos recursos e serviços naturais ao controle
dos tributos.
Esta ocorrência assevera o processo de
dominação e controle social [que se dá na esfera privada] por uma minoria rica citadina.
E os rurícolas, agricultores e extrativistas familiares [povos e comunidades
tradicionais] usam sua lógica cultural: natureza [terra, cultivos e mitos],
ocupações [trabalho e renda], e família [mais-valia, patrimônio imaterial,
sucessão] têm seus rituais e ritos de passagem ameaçados pelas dificuldades para
incorporar novos hábitos e tecnologias por estarem descapitalizados, serem
analfabetos, e assim reproduzirem-se e fixarem-se ao lugar rural.
Contudo, o lugar
rural por apresentar laços de proximidade, vizinhança e confiança entre
seus moradores e respeitoso com a natureza aumenta a capacidade do rurícola, do
agricultor e extrativista familiares de desenvolverem, sustentarem e
aperfeiçoarem ao longo da vida suas lógicas familiares: podendo até
acumular riqueza privada, ao pagar os tributos fiscaliza-os para beneficiar-se
da riqueza pública.
Essas categorias têm papel
relevante como usuário, coletor, produtor de alimentos e energia, e também como
protetor da natureza atendem aos interesses de bem-estar da sociedade e da
governabilidade do estado. E assim, os acadêmicos averiguam que eles não sucumbiram
aos processos e efeitos da racionalização capitalista, devido ao vigor de suas lógicas e das amenidades naturais e
rurais; e ainda atraem novos moradores e
turistas vindos da cidade.
É no locus da política que se dar o debate sobre o controle dos
recursos e serviços naturais, tributos, e das políticas públicas
[distributivas, redistributivas e reguladoras e constitucionais], dever ser caracterizado pelas liberdades reais,
interesses particulares e negócios coletivos; é o planejamento principalmente o
estratégico, o instrumento definidor de políticas públicas [ações, orçamentos] que visem não só ao
conforto material, mas a busca incessante por qualidade de vida, felicidade, no
presente, para além do viés normativo ou ideológico. É estratégico para
promover o Desenvolvimento Sustentável [Durável]. Contudo, a problematização do Desenvolvimento Sustentável
Rural [conflitos, gestão, justiça social] de tímida não conseguiu sair dos gabinetes, e nas
cidades pequenas e no meio rural nem abstração é.
Aliás, as relações de interconhecimento e os vínculos com
as cidades devem buscar não só as interações, mas também reconhecer os
conflitos e as estruturas envolvidas; e a dialética, a
cidadania igual e a liberdade individual [argumentações, mediações e consensos] são
caminhos para solucionar as relações de produção, de consumo, de respeito
consigo, aos outros e a natureza, no presente e no futuro – Os povos: Macuxi, Taurepang, Patamona, Ingaricó,
Uapixana e Wapichana têm suas terras [em Roraima] demarcadas (Petição: 3388 do
STF): a garantia do direito de ser [espécie e indivíduo] de ter [abrigo, alimento, sexo]. Enfim de sustentar
seus modos de vida, bem como garantir a diversidade ecológica na bacia
hidrográfica para todos os povos, hoje e amanhã.
Sobre sua vida caótica, nenhuma categoria [o eu, o tu ou o nós] o
aprisiona absolutamente. Liberta-te, tu estás no centro
do debate sobre o uso e controle dos recursos naturais, tributos, serviços e
políticas públicas, sobre dignidade.
Publicado pela Tribuna Independente, Maceió - Alagoas, 2012
Em tempo de Liberdade Tardia, a poesia de
Ivanildo Pereira Dantas
A VOZ GRITANTE DA SECA EM VERSOS
A seca... a seca é uma catástrofe...
a seca é animais mortos na beira da estrada
açude seco e solo rachado
mulheres e crianças carregando água...
em latas, baldes e potes de barro
A seca, a terra e a água
junta-se a alma do povo sertanejo
deixando-o sem esperança
sem comida, sem perspectivas de vida
sem teto num calor forte e muito clamor
A seca não queima só a terra e as plantações
queima famílias, animais e corações
desidrata e mata de fome
quem antes de tudo era um forte
e alimentava esta nação
A seca não gera desenvolvimento
gera dificuldades sociais para os que habitam a região
provoca falta de recursos econômicos
gerando fome e miséria
ao povo forte do sertão...
também gera tristeza
fome, amor e traição
revolta, miséria e dor
saque e tentações
numa terra de paixão e de amor
Na seca aparece de tudo
os políticos inescrupulosos e desonestos
o jeito hipócrita, e maldoso de governar
ações paliativas e as falsas promessas
e a omissão da sociedade em não querer enxergar.
Ótimos. Mauricio
ResponderExcluirPois é, 50 anos depois continuamos num Brasil rico, contudo com muita gente pobre. Toninho
ResponderExcluirA poesia é o retrato da servidão do homem do campo aos poderosos. E o texto confessa esse mal-estar. Vanessa
ResponderExcluirLi, gostei e repassei. Oto
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