O Índice de Satisfação de Vida dos
brasileiros, em março de 2012, foi de 107,5 pontos para aqueles que ganham
entre 5 a 10 salários mínimos; e para aqueles que ganham até 1 salário mínimo
foi de 101,5 pontos [O índice é de base 100 e, quanto
mais alto for, maior a satisfação com a vida] [1]. Aliás,
a maioria dos domicílios [60,7%] tem renda de até 1 salário mínimo, a incluir
os lares dos agricultores e extrativistas familiares, dos povos e comunidades
tradicionais; portanto, são famílias insatisfeitas com a vida que têm [2]. E
o baixo grau de escolaridade torna mais difícil entender, solucionar ou
minimizar essas insatisfações, pois gera mais incertezas sobre sua inclusão produtiva
e social ao mundo da felicidade.
Em geral, a agricultura exige muita água,
terra, insumos; e é ineficaz economicamente – 1,2 milhão de pequenas propriedades
não gera renda [revista Exame [3]]. “Somente as classes de área igual ou superior a 200 hectares [ha] oferecem
remuneração superior ao salário mínimo”. “Em resumo, a remuneração da
agricultura é muito baixa, especialmente para os estabelecimentos de área
inferior a 100 ha” (ALVES et al., 2006, p.51). Essa renda
precária e instável acentua a migração, em êxodo rural, e dá rosto aos
retirantes – são as filhas e filhos mais escolarizados os primeiros a
sair sem opções de permanecer no campo em todas as regiões do país.
E o governo propaga midiaticamente a
exuberância da agricultura familiar. Mas, para ser ‘exuberante’ o agricultor
familiar precisa investir em infraestrutura e logística, incrementar a produtividade
de todos os fatores, num ambiente de negócios com segurança jurídica, um agricultor
que interprete textos e um consumidor fidedigno pelo produto e serviço gerados.
“A luta pela existência. Devo advertir antes
de tudo que uso essa expressão num sentido amplo e metafórico, que inclui a
dependência de um ser a outro e – o que é mais importante – inclui não só a
vida do indivíduo, mas também o sucesso de deixar descendência”, ainda ressoa
Charles Darwin.
Tal busca depende de novas relações para o aprender a conhecer, do aprender a fazer, do aprender a ser, e do aprender a viver junto de agricultores e extrativistas familiares, povos e
comunidades tradicionais, mulheres e jovens rurais, citadinos e rurícolas, analfabetos e alfabetizados, oprimidos e
'donos do poder', e as famílias para fazer o controle social dos recursos naturais[4] –
renováveis e não renováveis [uso, conservação e preservação] –, dos
tributos [arrecadação e distribuição], dos serviços, inclusive de pesquisa
agrícola e ATER, das políticas públicas [distributiva, redistributiva, reguladora
e constitucional], e para empreender[5] com eficiência,
eficácia e efetividade devem considerar o trade-off: superávit da
biocapacidade da natureza e déficit da pegada ecológica
[degradação e consumo de bens e serviços programadamente precoces e obsoletos] tanto
para o mercado local como para o mercado internacional através de legislação e
fiscalização do Estado a fim de atender aos interesses da sociedade através
do balanço social[6] [e
ecológico], e ofertar vida digna aos
consumidores e produtores.
Esse controle deve ser permanente, interagível, informa-cional, sustentável e baseado em padrões de sociabilidade e formas de socialização que tenham como norte os princípios ecológicos, proposto por Capra (2002) [interdependência, parceria, cooperação, diversidade, flexibilidade, reciclagem, fluxo cíclico da natureza]. E com uma governança [7] corporativa eficaz o Desenvolvimento Sustentável[8] [e suas dimensões] ocorra fundamentado pelos princípios da economia ecológica; e assim garanta um PIB com mesa farta, vida digna sincrônica e diacronicamente a todos.
E, nesse mundo de tantas
assimetrias não está claro para os rurícolas, os agricultores e extrativistas familiares, os
povos e comunidades tradicionais, suas famílias, as mulheres, os jovens rurais,
os analfabetos,
os oprimidos, que para gozar de vida digna e
de felicidade, o acesso e o usufruto dos bens primários são vitais [e segundo
Rawls (2002) são eles: autoestima,
inteligência, imaginação, saúde e vigor,
oportunidades, renda, riqueza, liberdades, direitos]. E continua Rawls,
“os bens primários são presentemente definidos pela necessidade das pessoas em
razão de sua condição de cidadãos livres e iguais e de membros normais e plenos
da sociedade durante toda a vida”.
Todavia, esses bens primários são usurpados
pelos 'donos do poder', pelos que dão conselhos, pelos que dão ordens, e por
alguns citadinos; então, a diferença básica e vital entre rurícolas e
esses poderosos é a usurpação pela ausência das liberdades fundamentais e da
cidadania igual dos oprimidos.
Aliás, para usufruir desses bens, é
necessário muita 'graça', muito exercício de liberdade individual e de cidadania igual e
menos penitência; pois, tampouco a Bíblia tem o trabalho em autoestima [o
senhor castigou Adão expulsando-o da vida mansa do Éden; e a queda da
humanidade foi em direção do suor do mundo do trabalho” (GROSSO,1999)]. Está posto
outro trade-off: vida mansa do Éden e suor do mundo do
trabalho sob a ótica da divisão social e internacional do trabalho e suas
diversas categorias e níveis.
Thomas Jefferson em 04 de julho de 1776 afirma que – “[...] que todos os homens são
criados iguais, que foram dotados por seu Criador de direitos inalienáveis, e
que entre eles estão a Vida, a Liberdade e a busca da Felicidade” (GROSSO,
1999).
Em outra definição se diz que “... o conceito felicidade é tão vago que, embora
todo homem queira alcançá-la, ele jamais pode dizer definitivamente e em
uníssono consigo mesmo o que realmente ele precisa e quer”, anuncia Michael
Grosso em o Mito do Milênio (1999).
Como gozar a felicidade?
Publicado
pela Tribuna Independente, Maceió - Alagoas, 2012
[1] Pesquisa trimestral Termômetros da Sociedade Brasileira noticiada
pela Confederação Nacional da Indústria / CNI (uol.com.br, 28/mar/2012).
[2]
IBGE/Sinopse Censo Demográfico/2010 – rendimento mensal domiciliar per capita em salário mínimo
[3] Revista Exame, negócios - agricultura, 13/jun/2012
[4] E
entre tantos recursos naturais: as terras-raras, o nióbio, o petróleo pela
expressão econômica, por exemplo.
[5] É o processo de criar
algo diferente e com valor, dedicando tempo e o esforço necessário, assumindo
os riscos financeiros, psicológicos e sociais correspondentes e recebendo as
consequentes recompensas da satisfação econômica e pessoal”, segundo Robert
Hirsch.
[6] É um instrumento de gestão e de informação que visa reportar,
da forma mais transparente possível, vale dizer, com evidenciação plena [full
disclosure] informações econômicas, financeiras e sociais do desempenho das
entidades, aos mais diferenciados usuários da informação, dentre estes usuários
os trabalhadores
(www.ecodedate.com.br/2012/10/04/a-contabilidade-ambiental-no-brasil-e-no-mundo-artigo-de-roberto-naime/).
[7] É o conjunto de processos, costumes, políticas, leis,
regulamentos e instituições que regulam a maneira como uma empresa é dirigida,
administrada ou controlada [http://pt.wikipedia.org/wiki/Governan%C3%A7a_corporativa].
[8] É
um processo dialético, de desinteresse mútuo, de cidadania igual e de
liberdades reais, que compartilhado pelas diversas categorias [conflito] ao
utilizarem, conservarem e preservarem os recursos naturais, transforma-os em
bens e serviços: do autoconsumo ao mercado, do PIB às rendas [gestão]
destinados ao bem-estar social e ecológico de todos no presente e no futuro
[justiça social].
Você não me supreende mais. Toninho
ResponderExcluirPrecisamos reforçar essa visão. Vanessa
ResponderExcluirTambém concordo, qualquer mudança para melhor na condição dos agricultores familiares passa pelo controle dos recursos naturais e dos tributos, pelo acesso aos bens primários, pelo uso de princípios ecológicos,e pelo exercício das liberdades e cidadania. Mauricio
ResponderExcluirE estamos do Brasil sem miséria; haja discurso. Gustavo
ResponderExcluirA principal razão para a sensação de infelicidade é midiática. O estímulo a um consumismo leva as pessoas a se sentirem menores, com menos do que aquilo que é oferecido e não pode "comprar". O não acesso ao consumismo. Sociedades isoladas (cada vez em menor número) tem tudo o que precisam (ou pensam que precisam) e conseguem níveis de felicidade ou satisfação bem melhores do que a "sociedade de consumo" criada pelo capitalismo. Lino
ResponderExcluirPrecisamos participar politicamente para avançar em melhoria da qualidade de vida. Valdeneide
ResponderExcluirQuase 1/3 dos estabelecimentos familiares sem renda, é muita miséria e muito discurso evasivo do governo. Marcelo
ResponderExcluirFalta cidadania para melhorar de vida. Manoel
ResponderExcluirE um enfrentamento possível entre os donos do poder e os oprimidos. Vamos lá. Marcos
ResponderExcluirUm texto lúcido. Chico
ResponderExcluirEsse final foi o máximo. Lúcia
ResponderExcluirBom texto. Vera
ResponderExcluirMinha leitura dominical. gustavo
ResponderExcluirParabéns pelo texto. suzanna
ResponderExcluirO trade-off: vida mansa do Éden e suor do mundo do trabalho sob a ótica da divisão social internacional do trabalho, qual escolha precisamos fazer? Oto
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