domingo, 13 de maio de 2012

A natureza sob a DITADURA da minoria

Marcos Antonio Dantas de Oliveira

Ora uns poucos, homens e mulheres [com muita riqueza privada] a exercem com vigor ao usar no conforto de suas vidas, o consumo supérfluo de produtos [programadamente obsoleto], quer oriundos da natureza, quer produzidos artificialmente; utilizam suas posições sociais privilegiadas para engendrarem seus desejos, como direito secular; uma cultura senhorial, que usa o consumo de luxo como ferramenta para demarcar a distância social entre os vários segmentos da sociedade: escolarizados e analfabetos, ricos e pobres, produtores e consumidores, serviçais e protagonistas.

E esses poucos apropriam-se e usufruem com vigor dos bens primários: liberdade, cidadania, educação, segurança alimentar, renda, inteligência, felicidade... .

Uma ditadura da minoria, por prerrogativas econômicas e patrimoniais, que devasta a natureza pela forma mais degradante de consumo – ouro em pias e em ralos – a opulência [aqui mede-se o tamanho da desigualdade pela luxúria, soberba e avareza]. Esses ditadores usam suas influências pelo uso do poder e do dinheiro em todas as instâncias do fluxo circular da vida humana para provocar danos irreversíveis aos biótipos, biótopos e biomas. E com rigor aos homens e mulheres, ora em condições sociais que não são as suas.

Ora muitos outros, homens e mulheres [com pouca riqueza privada], inclusive, o agricultor, o extrativista, o pescador [... quilombola, quebradeira de coco, catadora de mangaba, faxinalense, fundo de pasto, índio], o rurícola e sua heterogênea tipificação e hierarquia, a fazem também com vigor, nesse caso pela carência de alimentação, vestuário, renda, moradia, educação e políticas públicas que sustente-lhes com vida digna; e assim usam os recursos naturais como ferramenta de manutenção de suas lógicas familiares – mito, cultivo, propriedade comum, ocupação, renda, posse, sucessão e família; e irremediavelmente degradam os biótipos, biótopos e biomas, severamente.

Um sobreviver precário, para muitos uma tarefa árdua: do sobretrabalho e subemprego de adultos como de crianças e adolescentes - "despachos judiciais permitem a adolescentes de 14 e 15 anos trabalhar; e a quantidade de autorizações envolvendo crianças mais novas, até 13 anos, é assustadora" (Ecodebate. com. br, 2011/out/24); uma situação ilegal, uma afronta ao Estatuto da Criança e do Adolesecente/ECA. E para outros tantos, desemprego.

Como também do procriar aflito: por moradia insalubre, desnutrição, assistência social precária e insuficiência de rendas produtivas e ou não produtivas.

É uma outra ditadura da minoria, agora ao avesso, que por ausência de prerrogativas econômicas e patrimoniais, esses ditadores devastam a natureza pela forma mais decidida de resistência – lenha para cozinhar, aquecer e vender – a sobrevivência [aqui mede-se o tamanho da desigualdade pela falta ou insuficiência dos bens primários]. Nessa, agricultores, extrativistas e pescadores familiares [povos e comunidades tradicionais], em maioria, e presente nos estados com indicadores sociais baixos – Alagoas, um deles, inclusive com um serviço de pesquisa agropecuária e extensão rural ineficaz, e assim incapaz de ajudá-los a sair dessa incômoda posição.

Onde estão as vantagens ecológicas, sociais e éticas dos agricultores, extrativistas e pescadores familiares [povos e comunidades tradicionais]?

Porém, as relações entre essas categorias por conviver no mesmo território, no âmbito da esfera privada, requer argumentações e alianças para assim reordenar seus assentamentos com novas relações para educar usar, conservar e preservar os recursos: flora, fauna, minerais, fósseis, água, ar, luz solar; para a diversidade de política: ecológica e econômica, fundiária e ambiental, produção e consumo, moradia e seguridade social, agrícola e seguros nas atividades do primeiro, segundo e terceiro setor, como para a cultura dos povos tradicionais e autotócnes, suas etnias e seus patrimônios imateriais.

É imperativa uma convivência assentada no controle e na distribuição da riqueza econômica e pública – bens, serviços e lucros, potenciais ecológicos e impostos.

E no âmbito da esfera pública [viver junto] entender as frágeis relações sociais com as outras categorias, e assim atinjam mortamente essas imperativas ditaduras que os impedem de serem livres, iguais e felizes, de terem vida digna, para além do Homo economicus, para o Desenvolvimento [Durável] Sustentável – conflito, gestão e justiça social em concertação. Aliás, compreender o estado da vida [e de vida] dos sem-acessos, no presente, é reorganizar e melhorar com trocas desinteressadas e solidárias, às trocas desiguais ecológicas e econômicas. 

Portanto, é a dialética como exercício máximo de sua individualidade [liberdade individual e cidadania igual], que assegura-lhes não só a liberalização de uma vida confortável; sobretudo, à liberdade de suas escolhas individuais e coletivas; de aperfeiçoá-las ao longo da vida para desfrutar dos bens primários em contínuos processos de aprendizagem, de desaprendizagem e de reaprendizagem dos princípios ecológicos – autonomia, interdependência, parceria, cooperação, diversidade, flexibilidade – e dos fundamentos econômicos – ativos, dividendos e lucros –, ao pensar, dialogar e agir para assegurar que a gestão estratégica e operacional dos recursos [inclusive os naturais] e da estrutura dos impostos efetivem os objetivos estabelecidos pelo setor estatal e pelo setor privado [do planejamento estratégico ao bem-estar, da produção ao consumo sem desperdício, da legislação à fiscalização eficiente, da pesquisa ao ensino de qualidade, da inovação ao ganho de produtividade da terra e do trabalho, da mídia ao voto incorruptível].

Afinal, para aonde estão indo, com tanta insegurança, inclusive a jurídica, o agricultor, o extrativista, o pescador [... quilombola, quebradeira de coco, catadora de mangaba, faxinalense, fundo de pasto, índio], o rurícola e suas famílias?

Publicado pela Tribuna Independente, Maceió – Alagoas, 2012

8 comentários:

  1. Sua sobre Desenvolvimento sustentável é o fio da meada. André

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  2. Chega de insegurança. Aldo

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  3. Como ainda temos que avançar, se quisermos bem-estar. Vanessa

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  4. Esse chamamento aos agricultores e extrativistas familiares para o exercício de cidadania é bom. Gilberto

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  5. Vamos ficar alerta contra esse tipo de ditadura. Lúcia

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  6. Me senti incluído no texto. Toninho

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  7. Marcos, estou feliz em te conhecer, o texto e muito bom, esclarece tudo que alguem queira saber sobre a realidade rural nordestina. Peço autorização para republica-lo no blog/jornal que mantenho , cujo foco e a agroecologia, na perspectiva do Fco Caporal. sou uma pessoa que sonha com a melhoria do nosso povo, mas só agora me dou conta do que preciso aprender (em termos de consciência política!)e ação concreta. Gostaria de me manter em contato, peço que habite o "seguir po email" na configuração do blog, porque facilita muito o contato: os teus textos já caem direto na minha caixa de email.
    Estive recentemente em Aracju, e pela janela do onibus, pude avaliar a situação rural... Sou de Fortaleza e atualmente estudo Agronomia na UFC. Gostaria muito de conversar ao vivo com você! Se algum dia vier a Fortaleza, por favor me procure. meu email pessoal: elainesousabatista@hotmail.com , se possivel me mande uma mensagem para que possamos nos corresponder pois tenho muitas coisas a lhe perguntar. Obrigada por existir e dedicar-se de maneira tão real a quem realmente precisa de nosso conhecimentos acadêmicos acumulados. Gratidão. Ate Breve. Meu blog: http://agroecologiace.blogspot.com.br

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