sábado, 28 de abril de 2012

EMPODERADO para fugir do consumo e da corrupção?

Marcos Antonio Dantas de Oliveira

Em Alagoas e no Brasil, em geral, pela força de seus lobbys os agricultores patronais são bem sucedidos em suas demandas; enquanto, pela fragilidade de suas representações nos espaços públicos e privados os povos e comunidades tradicionais, e os agricultores minifundiários, analfabetos, descapitalizados e em elevado estado de insegurança alimentar e nutricional, precarizam ainda mais seu modo de vida: social, econômico e ecológico, também incluídos nessas condições os jovens rurais.

Isso é piorado pelo não uso do ideário e prática associativista/cooperativista, pelo não acesso ao serviço de pesquisa agropecuária e extensão rural estatal ou não estatal eficaz, por exemplo. Não são cidadãos iguais e livres nesta sociedade.

O lugar rural como espaço multidimensional, está em franco declínio em nosso país [e em Alagoas]. Não é um lugar de exuberância da [de] vida, principalmente para os rurícolas, os agricultores e extrativistas familiares [os povos e comunidades tradicionais]; aliás, é o lugar da pobreza econômica – De pouca geração de renda, “[...] 80% gera renda por vezes insuficiente para a manutenção da família”, diz Mançano da UNESP]; da pobreza social – Do baixo grau de empoderamento dessas categorias; da pobreza ecológica – Da degradação pela sobrevivência, em Alagoas, resta 5,03% da cobertura original; e da pobreza política – Da baixa participação cognitiva, instrumental e social [89% dos responsáveis pelos estabelecimentos têm até o 1º grau incompleto, em Alagoas]. A compreensão dessas condições é urgente e necessária para garantir o acesso e usufruto da riqueza privada e pública por essas categorias.

Ademais, para se construir uma Política de Desenvolvimento Rural Sustentável é preciso se passar por uma abordagem territorial e multifuncional, ecológica e multidimensional, e por uma gestão estratégica [e suas ferramentas gerenciais] – é construir a visão de futuro, que obrigatoriamente deve ter a participação dos jovens rurais, mulheres e homens. Esses grupos permanecem com dificuldade de acesso à terra, aos meios de produção, à renda, aos serviços de saúde, educação, à segurança pública e jurídica, à pesquisa agrícola e ATER, à cultura e lazer; continuam em êxodo rural. Esse êxodo acarreta consequências graves, entre elas: o insucesso ou a interrupção na sucessão familiar, o êxodo das jovens [e a consequente masculinização do campo], e a presença forte de idosos ainda em ocupações insalubres para a situação de vida.

É através de uma política de desenvolvimento rural [Lei 11.326 e Lei 12.188], onde o estabelecimento agrícola e não agrícola sejam lugares de regulação do êxodo rural, por emprego de estratégias sustentáveis, que se pode combater eficientemente a pobreza e exclusão social, principalmente no estado de Alagoas. De olho no acesso, uso e controle dos recursos e serviços naturais e dos tributos - O contribuinte brasileiro paga 36% do PIB, já o inglês paga 37%, aqui o brasileiro tem serviços ruins [inclusive o de ATER], lá os serviços são bons.

Portanto, a conferência Nacional de ATER, agora encerrada [Brasília, 23/26 de abril], foi marcada pela continuidade da ineficiência dos serviços de ATER estatal e não estatal; e foi reforçada quando da aprovação pela plenária da criação do Sistema Nacional de ATER [boa opção] sob a coordenação do MDA [má opção] - A boa opção seria pela vinculação ao MDA de uma empresa pública de direito privado. Outrossim, que na próxima conferência [Nacional, Estadual e Municipal] essas categorias [e sua heterogênea tipificação] sejam pragmáticas para não serem perturbados pelos interesses privados de indivíduos, de grupos, de organismos governamentais ou não governamentais tão comuns nesses eventos.

Salvem seus estilos de vida, seu bem-estar do consumo programadamente precoce e obsoleto dos recursos naturais pela onda consumista que varre o mundo de uns pouquíssimas ricos que podem tudo, inclusive corromper – No Brasil, "a corrupção drena anualmente dos cofres públicos a gigantesca quantia de 85 bilhões de reais" (Veja, 26/10/2012); e a "corrupção em Alagoas desvia R$ 738 milhões em sete anos" (Gazeta de Alagoas,11/07/2012). Mas, agora pode não ficar impune - "Maluf foi obrigado a devolver 3,5 milhões de reais à prefeitura de São Paulo" (Veja, ed.2266 de 2012).

Além da ineficiência dos serviços de ATER, a corrupção também degrada, os serviços de saúde, educação e ATER, que cada dia pioram.

Doravante, como cidadãos iguais e livres, os agricultores familiares, os povos e comunidades tradicionais e principalmente os jovens rurais garantam que o serviço de ATER, estatal ou não estatal, seja eficaz para assegurar opções para sua permanência no campo, pela multifuncionalidade do lugar rural e da agropecuária, pela pluriatividade da família, pelo consumo de bens e serviços, pela efetivação de políticas públicas de acesso à terra [via módulo rural], de segurança alimentar, de renda produtiva e ou não produtiva, de garantia à escolaridade, à vida digna.

Publicado pela TRIBUNA INDEPENDENTE, Maceió - Alagoas, 2012

13 comentários:

  1. Mal cheguei de Brasília, já li seu texto, um reflexo do que ouvimos lá. Toninho

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  2. Parabéns pela provocação. Artur

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  3. Só serviços eficazes garantem bem-estar. Lúcia

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  4. A punição do ex-governador Paulo Maluf é uma boa notícia. Gabi

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  5. Valeu graande confrade, belo texto.
    A propósito, já consertou a asa (rs)? Nilton Cosson

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  6. Caro Dantas,

    Precisamos lutar pela erradicacao da pobreza, sendo a conferencia Rio+20 bom momento de discutir o problema, fortemente ligado a pobreza ecologica.

    Kleber Santos.

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  7. Suas colocações expõe a pobreza dos povos e comunidades tradicionais e da maioria dos agricultores familiares. Roberto

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  8. Acabar com a pobreza no campo, exige serviços eficientes para efetivar políticas públicas. Suas colocações mostra esse caminho. Augusto

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  9. Um dos grandes males do estado é a ineficiência dos serviços. Vanessa

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  10. Bom texto e comentários. João

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  11. um oportuno texto, parabéns. Vanessa

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  12. Chega de discursos vazios para o agricultor. Carlos

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