sábado, 7 de janeiro de 2012

Um INCERTO FUTURO para os jovens?

Marcos Antonio Dantas de Oliveira

O Fundo Monetário Internacional / FMI alerta: “[um problema na economia global] está relacionado a tensões sociais borbulhando abaixo da superfície” e “alimentadas pelo desemprego recorde entre jovens – como uma das principais da crise econômica” . Só 32,5% dos jovens brasileiros tinham emprego formal em 2006 [Relatório: Trabalho Decente e Juventude no Brasil da OIT].

E entre os jovens brasileiros, e para aqueles que residem e labutam em atividades agrícolas e não agrícolas, no lugar rural, o desemprego estrutural e conjuntural está também associado ao alto grau de informalidade do setor agrícola: 90% das atividades à margem da lei [com ocupações e rendas precárias e instáveis] dificulta o acesso à previdência social e os têm levado à prostituição juvenil e ao tráfico de drogas, por exemplo; e pelo baixo grau de escolaridade [“Na Escola Ana Carolina, em Craíbas, irmãos com 9, 11, 15 e 17 anos sequer sabem assinar o próprio nome” ]. Os jovens rurais estão em perigo.

Outro agravante: 59,1% dos nordestinos são extremamente pobres, 56,4% deles vivem no campo e 51,7% deles são jovens rurais de até 19 anos (Censo 2010). Em Alagoas, 41,4% dos domicílios com pelos menos um morador de 18 anos ou menos de idade estava em situação de Insegurança Alimentar (Pnad, 2009).

A faixa etária entre 15 e 29 anos alongada é uma agenda de trabalho [Emenda Constitucional nº 65], que não prioriza os 25 milhões de jovens de 15 a 24 anos, mais necessitados, principalmente de estudo. Relevante nas metrópoles: São Paulo, Rio de Janeiro, Belo Horizonte, Recife, Salvador, Porto Alegre, eles estão estudando mais e trabalhando menos - “a proporção de jovens de 15 a 17 anos ocupados ou que buscam emprego caiu 27% em oito anos . E uns poucos têm ótima escolarização e mesada - mesada dos filhos de 17 anos até R$ 700 .

Atenção para a predominância de adolescentes e adultos jovens de 15 a 24 anos [em torno de 20% da população (Censo de 2010)], essa é a idade ativa para o estudo como para o trabalho [respeitando o ECA], e pode oportunizar um salto na qualidade de vida de todos. Um alerta - Pesquisa da USP, citada por Ari Cipola, 2001: “uma pessoa que começa a trabalhar aos 7 anos vai receber em média ao longo da vida 50% menos do que receberia se tivesse iniciado aos 21 anos, no mercado de trabalho”. O IBGE trata a população economicamente ativa com pessoas de 10 anos ou mais, o que confirma o trabalho infantojuvenil em documentos oficiais.

O governo não tem políticas públicas eficazes para os jovens rurais em idade para o trabalho: entre elas, o Pronaf, os Territórios da Cidadania, nem o serviço de pesquisa agrícola e ATER, estatal e não estatal, que sustentem sua lógica familiar – terra e água, trabalho, e família em seus povoados e propriedades como opção de vida.

Esses jovens permanecem com dificuldade de acesso a terra, aos meios de produção, às disposições sociais, ao financiamento bancário [é baixíssimo o volume em operações do Pronaf Jovem], à renda produtiva e não produtiva, aos serviços de saúde, educação, segurança pública e jurídica, pesquisa agrícola e ATER, cultura, ciência e lazer; continuam em êxodo rural. Esse êxodo acarreta consequências graves – as jovens deixam o campo [como resultado a consequente masculinização], e os idosos ainda ocupam as principais atividades agrícolas de comando.

Uma leitura reflexiva sobre a juventude rural – Estudos do MDA, 2009, confirmam de que os maiores índices de migração – em êxodo – no meio rural ocorrem entre mulheres de 15 a 19 anos e homens de 20 a 24 anos. Essa migração, principalmente em êxodo, compromete a sucessão familiar no negócio agrícola e não agrícola [Lei 11.326].

O Brasil debateu Políticas Públicas para a Juventude em conferências: municipais, territoriais, estaduais, livres e nacional. Alagoas realiza e fecha esse ciclo com a 2ª Conferência Estadual: “Conquistar direitos, desenvolver Alagoas” [Maceió, 30 de setembro e 01 de outubro]. Elas foram movimentadas pelo fluxo de jovens, mulheres e homens, citadinos e rurícolas, centenas deles. Todavia, foram programações curtas demais para a controvérsia sobre a problemática dos jovens em educação, saúde, renda, lazer, acesso a terra e outras – Maceió "lidera a lista das 100 cidades com as maiores taxas de assassinatos de jovens entre 15 e 24 anos" (Edição 2011 do Mapa da Violência) .

Contudo, pela educação ruim de muitos, aos jovens, a servidão consentida. Só o acesso e a permanência na escola reforçam a tese de que exercitar às liberdades fundamentais e a cidadania igual são vitais à vida digna. E assim, lhes garantir a repartição dos tributos, o acesso e acumulação da riqueza pública e da privada pelos princípios ecológicos exaltados por Capra (2002) – interdependência, parceria, cooperação, diversidade, flexibilidade, reciclagem, fluxo cíclico da natureza, para o usufruto dos bens primários propostos por Rawls (2002) – autoestima, inteligência, imaginação, saúde e vigor, oportunidades, renda, riqueza, liberdades, direitos, dialetizar [e problematizar] o Desenvolvimento Sustentável para alcançar a justiça social.

E para construir uma Política de Desenvolvimento Rural Sustentável é preciso uma abordagem territorial e multifuncional, ecológica e multidimensional, e uma gestão estratégica [e suas ferramentas gerenciais]; é construir a visão de futuro, que obrigatoriamente deve ter a participação dos jovens rurais, mulheres e homens. Onde o estabelecimento agrícola e não agrícola sejam espaços de regulação do êxodo rural, pelo emprego de estratégias sustentáveis, e pela efetivação de políticas públicas redistributivas de acesso a terra [via propriedade familiar], de políticas distributivas de segurança alimentar e nutricional, de renda não produtiva, e de políticas públicas reguladoras para garantir à escolaridade, à vida digna.

E o Brasil como a 6ª economia do mundo, e com renda per capita anual de 11.000 dólares, em 2010, pode prescindir do trabalho juvenil proibido pelo Estatuto da Criança e do Adolescente/ECA. Uma vergonha para o país que vai arrecadar R$ 1,6 trilhão em tributos; ter um PIB de mais de R$ 4 trilhões este ano; e que usa a regressividade da tributação para que os pobres paguem mais impostos.

Outra vergonha – no Brasil, "a corrupção drena anualmente dos cofres públicos a gigantesca quantia de 85 bilhões de reais" . A "corrupção em Alagoas desvia R$ 738 milhões em sete anos" . Uma boa nova – "Maluf foi obrigado a devolver 3,5 milhões de reais à prefeitura de São Paulo" .

A corrupção tem piorado os serviços de saúde, educação, pesquisa agrícola e ATER.

“A República não suporta mais tanto desvio de conduta”, afirma Ministro Marco Aurélio Mello .

Portanto, os jovens, em especialmente os jovens rurais, precisam ocupar espaços públicos e não públicos para iniciar algo novo, inclusive para o empreendedorismo. E uma das saídas é a escolarização de qualidade.

E como cidadãos iguais e livres saber quem são? O que querem? Por que querem? Como querem? De onde vem o recurso financeiro? Quanto custa? Quando querem? Aonde estão indo?

Publicado Pela Tribuna Independente, Maceió - Alagoas, 2012

4 comentários:

  1. Um alerta para os jovens rurais. Edgar

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  2. Você abordou a temática pelo que mais interessa , o exercício da cidadania e a liberdade individual. Paulo

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  3. A observação que faz sobre o estudo, é ponto X da questão, o estudo faz a diferença. Isabel

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  4. Repassei esse texto a jovens amigos. Everaldo

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