sábado, 26 de março de 2011

Espere bem MENOS

Marcos Antonio Dantas de Oliveira


No Brasil, principalmente no Nordeste, famílias inteiras migram em êxodo rural em resposta a sua situação de penosidade social e política; agora, nas cidades profissionalizam-se em ocupações insalubres e perigosas, ora como catadores de lixo – Carla Simone, Jardim Gramacho [Duque de Caxias/RJ] “teve que para de ir ao aterro por problemas de saúde”. (G1,28/fev/2011), ora como cortadores de cana de açúcar – em Alagoas do ex-canavieiro Antônio Sabino: “Deus me livre voltar a cortar cana” (Gazeta de Alagoas, 27/fev/2011), e para os filhos e bisnetos, também, à prostituição, como soluções padrões para suas vidas indignas.

Assim famílias inteiras continuam sua luta [uma ação política] pela posse da terra, pela dignidade.

Doravante deve ser a prática dos moradores rurais - agricultores e extrativistas familiares [quilombolas, caboclos e índios] - no que diz respeito às ações do estado para diminuir a degradação ecológica, o êxodo rural e agrícola e a pressão demográfica nas cidades como para garantir a ocupação do território [e acesso à terra], a segurança alimentar, o emprego e a renda decentes e legais, a escolaridade – “Alagoas gasta mais em diárias do que para erradicar analfabetismo” - Em 2010, o montante chegou a R$ 16 milhões, valor é 11 vezes superior à quantia gasta no programa de Educação de Jovens e Adultos [EJA](Extraalagoas.com.br.noticia, 24/jan/2011).

Ademais, para a melhoria das condições de vida desses rurícolas em seus municípios e regiões de origem é vital sua participação, um diálogo livre entre cidadãos iguais.

Aliás, o lugar rural além de fornecedor de alimentos, fibras, energia e de mão-de-obra pode atrair os visitantes tanto pela paisagem estética dos biótopos e biótipos como pelo vital e exuberante patrimônio imaterial. Para acontecer, é preciso que esses moradores garantam acesso às políticas públicas de financiamento de lavouras e criações, de pequenos comércios, de moradias e seguros, de rendas não produtivas e outras políticas ligadas aos serviços de educação, saúde, segurança pública, pesquisa agropecuária e extensão rural, por exemplos; e assim dispor para consumo familiar: produtos e serviços saudáveis como para oferecê-los aos visitantes e consumidores citadinos, como resultante da ação coletiva de cidadãos que dialogam sobre interesses privados e negócios públicos.

Essas políticas são fundamentais para sobrevivência dos rurícolas, para preservação, conservação e uso da biosfera e biomas como para os padrões de consumo de sociedades motivadas a atuarem no presente pelos princípios ecológicos: diversidade, autonomia, interdependência, cooperação, flexibilidade; e garantam que os bens primários: liberdade, riqueza, renda, autorrespeito, inteligência... sejam exercitados por todas as mulheres e homens em qualquer lugar, sincrônica e diacronicamente, permitindo-lhes melhorar suas posições sociais ao participar ativa, interativa e coletivamente do debate na esfera pública [locus da política].

Melhorias no campo também dependem de um esforço enorme de seus moradores-contribuintes-agricultores para dialetizar os debates, os embates, as escaramuças, ora postas, para entender como os mecanismos do desenvolvimento [investimento, incorporação de mão de obra e ganhos de produtividade] sustentável - durável [controle dos recursos naturais e dos tributos e ética] e sua complexa rede de dimensões: ecológica, social, econômica e política podem no presente alterar sua penosidade multidimensional.

E como rurícolas, homens e mulheres, cidadãos iguais e livres, ajam e reajam às proposituras hierarquizadas autoritariamente por agentes econômicos e do Estado que interferem sistematicamente para piorar suas vidas - inacessibilidade aos bens primários.

Quem é o sujeito da história?

E “o diálogo, como encontro dos homens para a ‘pronúncia do mundo’, é a condição fundamental para a sua real humanização”, afirma Paulo Freire [Pedagogia do oprimido]. E ao contrário do que pensa os indivíduos, a esperança longe de ajudá-los a viver melhor, faz-lhes perder o essencial de suas vidas, no presente, a dignidade.

Espere bem MENOS.


Publicado pela Tribuna Independente, Maceió - Alagoas, 2011

12 comentários:

  1. Seus textos se reinventam dia a dia. Parabéns. Claúdio

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  2. Para avançar na melhoria das condições de vida; proponho: esperem bem menos. Lídia

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  3. Vou repetir Paulo Freire: “o diálogo, como encontro dos homens para a ‘pronúncia do mundo’, é a condição fundamental para a sua real humanização”. Lúcia

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  4. Na verdade como diz o autor, mudanças para melhorar a qualidade de vida dos rurícolas,só acontecem pelo exercício da liberdade e da cidadania. Itamar

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  5. Marcos seus textos estão cada vez mais reflexivos, o que sugere mudanças neste status quo. Abílio

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  6. Bem lembrado, Paulo Freire é uma leitura necessária para avançar em qualidade de vida. Rute

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  7. Texto e comentários muito bons. Everaldo

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  8. "A esperança longe de ajudá-los a viver melhor, faz-lhes perder o essencial de suas vidas, no presente, a dignidade". Iluminado, Arlene

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  9. A observação de Arlene é perfeita. Helena

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  10. Li e fiz uma ótima reflexão. Diogo

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  11. Para uma reflexão: Quem é o sujeito da história. Edu

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