domingo, 20 de junho de 2010

ALFABETIZE-SE ecologicamente

Marcos Antonio Dantas de Oliveira


E entenda porque no rico estado de Alagoas agudizam-se privações para grande parcela da população [2/3 na condição de pobre, ganham até 1/2 salário mínimo per capta domiciliar] e, substancialmente, para os que moram no Polígono das secas e no campo, entre eles, os agricultores, extrativistas e suas famílias [a grande maioria na classe E – com até dois salários mínimos mensais].
Realidade essa baseada num conjunto de informações sobre o sistema produtivo e social [sobre o ponto de vista, quanto ao uso e ou não uso dos recursos e serviços naturais] que vão desde implicações de impactos ambientais: pelo mau uso das bacias hidrográficas [e microbacias] – poluição das águas e dos solos por agroquímicos, dejetos humanos e lixo de toda natureza; pela dilapidação e/ou degradação dos serviços e potenciais ecológicos; por salinização e erosão do solo e genética; por intoxicações ao homem, animais e plantas por agroquímicos e outros minerais; pelo alto índice de desperdício da produção agropecuária, em termos de quantidade produzida e de dinheiro investido.
Segundo, estudo da Embrapa, o desperdício do plantio à comercialização de frutas e verduras é elevado - "Perdem-se nada menos que 65% do total de 24 bilhões de reais produzidos por ano no país" (Veja, 21/set/2001)]; pela especulação dos preços agropecuários pelos atravessadores, principalmente pelos oligopólios; pela falta de zoneamento ecológico-econômico; pela negligência na aplicação de leis, bem como pela ausência de leis que tratem da Agroecologia, principalmente como ciência;pela corrupção e mais ainda pela impunidade nas infrações; e pelo difícil exercício da liberdade individual e da cidadania igual põe-se em perigo, a variabilidade genética das espécies, o uso do solo e da água, o manejo dos produtos da sociobiodiversidade e do produto agropecuário e seus usos; bem como atrasa o bem-estar social do homem e da mulher, principalmente do rurícola, do agricultor familiar, do jovem rural.
Bem como pela expressiva densidade populacional [107,84 hab./km2], em relevância a abundância de mão de obra familiar, de maioria analfabeta, subnutrida, com baixa produtividade e mal remunerada]; pela baixa participação popular [na dialética e na cidadania igual]; pela baixa disponibilidade de crédito e juros altos [exceto pelo Pronaf]; pela fragilidade dos serviços agropecuários: ensino e pesquisa, assistência técnica e extensão rural e abastecimento, pelo baixo ativismo e prática associativista/cooperativista; pela instável transação gerencial e comercial; por custos de produção que aviltados são incapazes de viabilizar aquisições e tarefas agropecuárias e gerenciais; e por políticas públicas clientelistas e autoritárias.
Sobretudo, porque não assegura a sustentação da lógica familiar[titulação da terra, trabalho e renda] dos agricultores, extrativistas e suas famílias [seus jovens rurais], dentro da unidade geográfica, social, produtiva e familiar e fora dela no caso dos trabalhadores de aluguel, inclusive pela baixa produtividade da terra e da mão de obra. Essa dura realidade ainda tem convivido com insegurança jurídica nos negócios [compra de terras, mercados, empregos e rendas, informais, ilegais e precárias] como também uma vigorosa transferência de renda destas categorias para os setores: industrial, comercial e financeiro. Aumento do êxodo rural e favelização [com exacerbação da relação rurícola/citadino], do trabalho precário e da prostituição infanto-juvenil, da velhice desamparada e da degradação dos potenciais ecológicos nas Mesorregiões: Agreste, Leste e Sertão.
A continuidade da distribuição desigual dos bens primários – renda, riqueza privada e pública, patrimônio. felicidade, lazer, inteligência e outros – legitima as fontes de privações: pobreza e tirania, carência de oportunidades econômicas e sociais; negligencia os serviços públicos [em especial, a pesquisa agropecuária, a extensão rural, a fiscalização ambiental...] como pela interferência de estados opressores. E ainda robustece e exacerba os atuais padrões de consumo supérfluo e programadamente obsoleto dos mais ricos em detrimento da degradação da natureza e seus serviços, das culturas locais e dos pobres, entre eles, os agricultores, extrativistas e famílias – e sua penosa realidade.
É assim que, Alagoas, em 2012, apresenta-se ao país, como detentor dos piores indicadores sociais e patrimoniais.
Esses fatos oportunizam fraudes e solapam a cidadania igual. Problematizar esses temas é assunto para os povos e comunidades tradicionais, agricultores, extrativistas e suas famílias, e soluções passam pelo seu empoderamento – está em debate o controle e o uso dos recursos naturais e dos tributos.


Faz sentido, que essas categorias, empoderadas, protagonizem alterações em suas estruturas sociais e poder; que reflitam e construam espaços emancipadores e democráticos. A participação dessas categorias no processo decisório: municipal, estadual e federal, ora para reconhecer conflitos, rotinizar diálogos, privilegiar alianças, ora para dar credibilidade aos compromissos assumidos, é vital. E com isso avancem no acesso e melhoria da distribuição dos bens primários, da responsabilidade social e ecológica, removam às privações das liberdades reais e as degradadas relações sociais entre ricos e pobres, rurícolas e citadinos, e para promover e garantir o desenvolvimento sustentável [durável] - recursos naturais, propriedade comum e privada, demografia, PIB, conflito, gestão e justiça social.
Ademais é preciso, alfabetizar-se, segundo Capra, [A Teia da vida, 2002] em princípios ecológicos [interdependência, parceria, cooperação, reciclagem, diversidade, flexibilidade], esses princípios são essenciais tanto para empreender e assegurar à riqueza privada como os benefícios da riqueza pública, principalmente aos rurícolas, povos e comunidades tradicionais, agricultores, extrativistas e suas famílias. E assim, reorganizar e melhorar a qualidade da produção, da distribuição, do consumo, do entretenimento; participar da vida política como cidadão igual e livre; e importar-se com a ética em seu cotidiano, dentro de casa como fora dela.
É no espaço público [locus da política]que sé dar o aprender a aprender, o aprender a fazer, o aprender a ser, e o aprender a viver junto ficamos livres para iniciar algo novo, que dignifique à vida humana e proteja o ciclo da vida [à natureza]. E a responder: está disposto pagar pelo uso, conservação e preservação dos potenciais ecológicos?

Em tempo: Qual a quantidade de recursos naturais, energia e impactos ambientais gerados na produção de um bem ou serviço? Como mensurar a conta ambiental no cálculo da economia de um país, considerando água, florestas e energia? Como descontar do volume produzido em bens e serviços a “depreciação” do capital natural? Para responder essas perguntas, está chegando por aí o PIB verde, Projeto de Lei 2900/11, do deputado Otávio Leite (PSDB/RJ) aprovado recentemente pela Comissão de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável.



Publicado pela Tribuna Independente, Maceió - Alagoas, 2010

15 comentários:

  1. A melhoria das relações sociais como o uso e proteção da natureza dependem do exercício da cidadania, Amélia.

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  2. Parabéns por artigo tão provocativo, Luciano.

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  3. Chega de blá blá blá sobre proteção a natureza, o caminho é alfabetizar ecologicamente, como sugere o autor do artigo, Maria José.

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  4. O artigo me deixou mais disposta para debater o tema: meio ambiente, claúdia. ,

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  5. Muito bem colocado, o que está em debate é o controle dos recursos naturais e dos impostos. Então por que não fazê-lo, Válter.

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  6. Gostei do tom indagativo, sobretudo, da cobrança do exercício da cidadania. João José

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  7. Parabéns pelo interessantíssimo artigo, Luís.

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  8. Faço minhas as palavras do autor, é urgente alfabetizarmos ecologicamente, Fátima

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  9. Repassando esse blog a outros profissionais da agricultura pelos ótimos temas. Dito

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  10. Fiquei satisfeito com os artigos desse blog, e recomendei a outros profissionais das ciências agrárias. Bruno

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  11. Como debater e implementar a sustentabilidade social, econômica e ambiental se não procuramos nos alfabetizar ecologicamente, primeiro. Um artigo prazeroso de se lê, Júlio

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  12. Gostei do que li. E estou repassando a outros interessados nesses assuntos, Ademir

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  13. O autor chama atenção para a realização do zoneamento ecológico-econômico, esse de fato caminharia no sentido de resolver tanto o Código Florestal, das Águas e do uso do solo. Chega de zoneamento agrícola só para algumas culturas de importância econômica. Álvaro

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  14. Encantada com o artigo, parabéns, Rosa

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  15. Ao tempo em que me encanto com o texto, me indigno. Eduardo

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