domingo, 30 de junho de 2024

O pulo do gato para prosperar – SOBRAS

  Marcos Antonio Dantas de Oliveira[1]

Por curiosidade leia nos jornais: os Editais de convocação de assembleias de cooperativas e note, é comum nesses editais a quase ausência do importante princípio estatutário, a distribuição de Sobras. E a Coamo a faz. A Coamo, em 2023, teve receita global de R$ 30,3 bilhões e distribui sobras de R$ 850 milhões, que foram distribuídos aos mais de 31 mil cooperados nos estados do Paraná, Santa Catarina e Mato Grosso do Sul (divida: 850.000.000 por 31.000 cooperados e por 12 meses), a Sobra é baixa para promover-lhe prosperidade e bem-estar  –  https://coamo.com.br/pt-br/noticias/coamo-tem-receita-global-de-rdollar-30,3-bilhoes-e-distribui-sobras-de-rdollar-850-milhoes-aos-cooperados

Na Inglaterra de 1848, a Sociedade dos Pioneiros de Rochdale, dos tecelões da indústria, sabiamente destinou também das Sobras – 2,5% para fins da educação geral. Essa regra auxiliou em muito o engrandecimento da cooperativa para o enfrentamento da melhoria das condições sociais e econômicas dos 'donos-cooperados' – deu-lhe fama mundial. E fascinados por esse ideário cooperativo insistem na tese de que a cooperativa ajuda na execução de estratégias que lhes garanta o acesso e uso dos bens de capital para a sustentação do seu sistema produtivo e social; da valorização da sua mão de obra ao uso e não uso dos recursos naturais; da comercialização de seus bens e serviços à distribuição de Sobras; dos benefícios da cooperação ao seu patrimônio imaterial; e da liberdade individual ao progresso e bem viver.

Entre as estratégias: a criação de um fundo de capital, oriundo dos depósitos de seus 'donos-cooperados' e do resultado econômico dos negócios da sociedade, a distribuição de Sobras. Ela é vital, pois o 'dono-cooperado' decide sobre suas preferências temporais, individual e coletiva, hoje e amanhã, para melhorar seus estilos de vida e reproduzi-los. Esse fundo é o ponto de partida para o êxito da cooperativa e a distribuição de Sobras é a garantia de que seu negócio está sob controle e ainda anima seu ativismo. Ainda assim, apático e ou sem entender bem do seu negócio, a cooperativa – o 'dono-cooperado' acredita que ela é uma ferramenta relevante para minimizar as dificuldades do seu dia a dia; o que é acertado, logo, necessita saber como funciona a administração para dá "pitacos" no seu negócio.

Em tempo: o associativismo na região fumageira de Alagoas nasce com a Cooperativa Agro-pecuária e Industrial de Arapiraca, Capial, em 1963, do pioneirismo e entusiasmo de Lourenço de Almeida e dos fundadores, homens e mulheres, 'donos-cooperados' estabelecidos nos municípios fumageiros. E depois da Capial vieram os sindicatos [fins dos anos 60] e as associações [início dos anos 80]. Mas, foi à distribuição de Sobras que deu fama regional a Capial, início de 1980; esta regra, a distribuição de Sobrasproporcionou ao 'dono-cooperado': acesso a distribuição econômica e patrimonial – com incremento das riquezas privadas – e a melhoria dos serviços sociais aos 'donos-cooperados' e moradores da região. A  região fumageira firmou-se como centro de debates dos citadinos, rurícolas e agricultores, para formular, executar, avaliar e corrigir às políticas públicas de uso e não uso dos recursos naturais e crédito bancário, de segurança jurídica, alimentar, e pública, de lazer e saúde, de associativismo e comercialização, de renda e tributo; de alfabetização e consumo de bens e serviços.

É relevante para os ‘donos-cooperados’, a observância de normas estabelecidas e divulgadas, de  modo que, todos realizem e fortaleçam seus objetivos em suas cooperativas, é essencial. Foi vital, o uso do princípio distribuição de Sobras pelos Pioneiros de Rochdale e da Capial (na Região Fumageira de Alagoas). Aliás, os quase 4 mil ‘donos-cooperados’, via de regra, minifundiários, fizeram uma transformação de suas áreas rurais com fortes problemas na distribuição dos ativos fundiários, no uso de bens de capital, no financiamento bancário e de terceiros e nos serviços públicos, entre eles, o eficiente serviço: de pesquisa agropecuária feito pela EPEAL e de assistência técnica e extensão rural feito pela EMATER (empresas estatais) e no incremento da produtividade e das rendas advindas do plantio pra mais de 40 mil hectares de fumo em consórcio com algodão e/ou feijão de corda e mandioca, principalmente em 12 municípios – Sobras, o motivo do êxito do fumicultor e da Capial. Hoje, sem a distribuição de Sobras, o fumicultor e a Capial sobrevivem precariamente, não prosperam. 

É fato. Quem sustenta a cooperativa ao longo do tempo é os ‘donos-cooperados’, é sua observância sobre o cumprimento e fortalecimento das normas, do ativismo e da prática cooperativista; e sua capacidade organizacional e estratégica para antever e discernir o que é essencial para reproduzirem seu negócio nos diversos contextos e cenários. É a cooperativa, via cooperação, troca e interação intencionais e pacíficas dos ‘donos-cooperados’, dos não cooperados e dos "stakeholders" que alavancam a oferta e a procura por bens e serviços de qualidade  funcionais, convenientes e confiáveis  negociados a preços correntes pelo conceito do consumidor para valor. E assim consolidam esse negócio privado.

A cooperativa, por certo, não deve agir como uma instituição extrativista política, porque não distribui poder, nem econômica, porque não distribui renda e riqueza. Quer dizer, não pode ser gerida por um dirigente-condutor – que usa o poder como "controle ou influência sobre as ações dos outros no intuito de atingir as próprias metas, sem o consentimento destes outros, contra a vontade deles ou sem o seu conhecimento ou compreensão", nem por um dirigente-chefe  que usa a troca como meio de “controle ou influência tendo por base recursos materiais e recompensas na forma de remuneração pelo recebimento de algum tipo de contribuição” (Bernardes). 

Geridas por esses tipos dirigentes, não há diálogo, nem normas de conduta justa, então, as ideias e experiências ecológicas e econômicas [código florestal, ciência, inovação, produtividade, divisão do trabalho] e culturais [hábitos, instituições, normas, aprendizados, saberes, rituais, sentimentos ...], não geram progresso e bem viver para os 'donos-cooperados' https://tribunahoje.com/noticias/cooperativas/2024/03/01/134602-ocb-alagoas-um-case-de-insucesso-na-gestao-cooperativista#google_vignette

Só o dirigente-Líder usa o “controle ou influência sobre o comportamento de outros para a promoção de metas coletivas, com base em alguma forma verificável de consentimento destes outros em razão de estarem informados dessa situação” (Bernardes) para o êxito do 'dono-cooperado' e da cooperativa protegidos pelo exercício do Estado de Direito e do Desenvolvimento Sustentável. Logo, o 'dono-cooperado' ao praticar o ativismo e a prática cooperativista constrói caminhos para satisfazê-lo e a família em seu julgamento de valor para o bem viver, usufruindo dos bens primários: individualidade, liberdade, propriedade, confiança e felicidade.

– “Nossa geração corre perigo de esquecer não só que a moral é, por essência, um fenômeno da conduta pessoal, mas também que ela só pode existir na esfera em que o indivíduo tem liberdade de decisão e é solicitado a sacrificar voluntariamente as vantagens pessoais à observância de uma regra moral” (Hayek). 

A cooperativa é um bem dos 'donos-cooperados' – Vida longa, Jorgraf/Cooperativa dos Jornalistas e Gráficos do Estado de Alagoas – Parabéns Tribuna Independente, 10 de julho!

 



[1]Mestre em Desenvolvimento Sustentável, professor da UNEAL, Engenheiro Agrônomo, articulista da Tribuna Independente e do sabecomquemestafalando.blogspot.com e dirigente.